Em sua reflexão para o momento de oração pelos migrantes e refugiados, Francisco citou a Parábola do Bom Samaritano. Segundo ele, esta parábola “é a chave para passar de um mundo fechado a um mundo aberto, de um mundo em guerra a um mundo em paz”. No gesto do Bom Samaritano encontramos “o sentido dos quatro verbos que resumem a nossa ação com os migrantes: acolher, proteger, promover e integrar”.
Por Mariangela Jaguraba
O Papa Francisco conduziu o momento de oração pelos migrantes e refugiados, na tarde desta quinta-feira (19/10), junto ao monumento aos migrantes “Angel Unawares”, criado pelo artista canadense Timothy P. Schmalz, situado na Praça São Pedro.
Em sua reflexão, o Pontífice citou a Parábola do Bom Samaritano que está no centro da Encíclica Fratelli tutti. Segundo o Papa, ela “é a chave, para passar de um mundo fechado a um mundo aberto, de um mundo em guerra a um mundo em paz”.
Francisco convidou os participantes do momento de oração a ouvirem a Parábola do Bom Samaritano pensando nos migrantes, “representados nesta grande escultura, com homens e mulheres das mais variadas idades e proveniência”.
A compaixão é o distintivo de Deus no nosso coração
Segundo o Papa, “a estrada, que levava de Jerusalém a Jericó, não era segura, assim como não são hoje as numerosas rotas migratórias que atravessam desertos, florestas, rios e mares”. “Quantos irmãos e irmãs estão, hoje, na mesma condição daquele viandante da parábola! Quantos são roubados, espoliados e espancados no caminho! Partem enganados por traficantes sem escrúpulos; depois são vendidos como mercadoria de intercâmbio”, disse Francisco, acrescentando:
“Acabam sequestrados, prisioneiros, explorados e reduzidos à escravidão. São humilhados, torturados e violentados. Muitos morrem, sem nunca chegar à meta. As rotas migratórias do nosso tempo estão cheias de homens e mulheres feridos e abandonados semimortos, cheias de irmãos e irmãs cujo sofrimento grita aos olhos de Deus. Com frequência, trata-se de pessoas que fogem da guerra e do terrorismo, como infelizmente temos visto nestes dias.”
Francisco disse ainda que “também hoje, como então, há quem veja e passe além, criando-se com certeza uma boa justificativa, mas na realidade o faz por egoísmo, indiferença e medo”. A conduta do samaritano foi diferente. Ele teve compaixão daquele homem ferido. “A compaixão é o distintivo de Deus no nosso coração; é a chave. Aqui está o ponto de virada. Na verdade, a partir daquele momento, a vida daquele ferido começa a melhorar, graças àquele estrangeiro que se comportou como irmão. Assim, o fruto não é apenas uma boa ação de assistência; o fruto é a fraternidade”, sublinhou o Pontífice.
Acolher, proteger, promover e integrar
Como o bom samaritano, somos chamados a fazer-nos próximo de todos os viandantes de hoje, para salvar a sua vida, cuidar das suas feridas, aliviar o seu sofrimento. Para muitos, infelizmente, é já demasiado tarde e só nos resta chorar sobre o seu túmulo, se é que tiveram um; mas o Senhor, que conhece o rosto de cada um, não o esquece.
De acordo com o Papa, no gesto do bom samaritano encontramos “o sentido dos quatro verbos que resumem a nossa ação com os migrantes: acolher, proteger, promover e integrar. Trata-se de uma responsabilidade a longo prazo. É importante nos preparar adequadamente para os desafios das migrações de hoje, cientes naturalmente das questões críticas que levantam, mas também das oportunidades que oferecem para o crescimento de sociedades mais inclusivas, mais graciosas, mais pacíficas”.
Dobrar os esforços para combater as redes criminosas
A seguir, o Papa convidou a todos a se comprometerem “em tornar mais segura a estrada, para que os viandantes de hoje não caiam vítima dos assaltantes”.
“É necessário dobrar os esforços para combater as redes criminosas, que especulam sobre os sonhos dos migrantes; mas ocorre igualmente indicar-lhes estradas mais seguras. Há necessidade, pois, de maior empenho para se ampliar os canais migratórios regulares.”
No cenário mundial atual, é evidente a necessidade de fazer dialogar as políticas demográficas e econômicas com as políticas migratórias, em benefício de todas as pessoas envolvidas, sem nunca nos esquecermos de colocar no centro as mais vulneráveis.
Segundo Francisco, “é preciso também promover uma abordagem comum e corresponsável da governação dos fluxos migratórios, que parecem destinados a aumentar nos próximos anos”.
Por fim, o Papa convidou a fazer um breve momento de silêncio, para recordar os que perderam a vida ao longo das várias rotas migratórias.