O Dia Mundial dos Oceanos só foi reconhecido oficialmente pela ONU em 2008 e pela primeira vez foi comemorado em 2009, sendo celebrado, desde então, anualmente em 8 de junho.
Por Juacy da Silva e Aline Grasielli Monçale
Vista do espaço, a Terra é considerada o Planeta Azul não apenas devido ao volume de água doce, dos rios, córregos e lagoas, mas principalmente pela quantidade de água salgada dos mares e dos oceanos que a recobrem.
Da massa total do Planeta Terra ou da chamada Mãe Terra, Pacha Mama ou Gaia, 76% são cobertos por água; sendo que deste volume em torno de 95% são dos oceanos e mares e apenas 3,5% de água doce superficiais e subterrâneas representadas pelos aquíferos, com destaque para um dos mais importantes para o Brasil e parte da América do Sul que é o Aquífero Guarani.
Os oceanos ou o que alguns cientistas e estudiosos costumam denominar de apenas um grande oceano que se conecta ao redor do planeta terra, ainda é bastante desconhecido em todas as suas profundidades; mas do que se conhece até a atualidade é o suficiente para que seja feito um inventário das espécies animais e vegetais e fiquemos sabendo que a biodiversidade vegetal e animal existente nos oceanos pode chegar a mais de 2,5 milhões, ou seja, corresponde a aproximadamente 20% da biodiversidade do planeta Terra que é estimada em 8,7 milhões.
No último século e, principalmente, nas últimas cinco décadas, essa biodiversidade tem enfrentando sérios desafios, centenas de milhares de espécies já foram extintas e outras tantas continuam ameaçadas de extinção, devido a um processo contínuo e acelerado de degradação ambiental.
O Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano de 2023 está focado na questão da produção do lixo plástico que, principalmente a partir de meados do século passado, tem aumentado em um volume e rapidez alarmante, muito maior do que o crescimento da população do planeta, da população urbana e do crescimento do PIB (produto interno bruto) mundial.
Anualmente estima-se que são produzidas 400 milhões de toneladas de lixo plástico, além de outras formas de resíduos sólidos (lixo) e também efluentes e gases urbanos e industriais, afetando o planeta Terra como um todo, mas principalmente os oceanos e mares.
Só para se ter uma ideia, em 1950 início do surgimento do plástico como um componente da produção industrial, paralelamente à explosão da indústria automobilística e do uso dos combustíveis fósseis, a produção de lixo plástico no mundo era de 2,5 milhões de toneladas/ano, atingindo 400 milhões em 2022; estando projetada a produção de 470 milhões de toneladas em 2030 e, nada menos do que 1,050 bilhão de toneladas em 2050.
Grande parte deste imenso volume acaba por se acumular nos rios, lagos, lagoas, baías e, principalmente, nos oceanos. A produção de lixo plástico das cidades, que sorteadores a 90% do total mundial, e também os resíduos dessa natureza do meio rural acabam sendo transportadas pelos mais de dois mil rios que deságuam nos oceanos.
Desde 1972, quando da primeira Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, sob os auspícios e coordenação da ONU – Organização das Nações Unidas, passando pela ECO-92 no Rio de Janeiro, pelas diversas outras conferências, pela Carta da Terra e acordos internacionais como o de Kyoto e, mais recentemente, o Acordo de Paris; o mundo vem despertando para a gravidade da destruição dos ecossistemas, dos biomas, da desertificação, das secas prolongadas, do desmatamento das florestas, principalmente nos trópicos , do descongelamento das geleiras, enfim, um processo intenso e perigoso de degradação global do planeta Terra.
Enquanto o conhecimento e preocupações com os biomas e ecossistemas terrestres tem avançado, a degradação pela qual tem passado e continua passando os oceanos não tem sido acompanhada na mesma intensidade e profundidade que merece.
Tanto cientistas quanto inúmeras autoridades, incluindo, por exemplo o Papa Francisco, quando da publicação da Encíclica Laudato Si, tem chamado a nossa atenção para o fato de que o planeta Terra é um sistema fechado, ou seja, “tudo está interligado”, afinal, o que acontece em um bioma ou ecossistema acaba afetando todos os demais. Quando se fala em degradação ambiental planetária não tem sentido a ideia e o conceito de soberania nacional, como se a degradação em um país não ultrapassasse as fronteiras nacionais.
Assim, podemos perceber que a ação humana ao procurar produzir bens e serviços para satisfazer as necessidades da população mundial, que mesmo tendo reduzido seu ritmo de crescimento, ainda é um fator importante nas diversas análises das questões ambientais e ecológicas.
Além do crescimento populacional em si, existem três outros aspectos que fazem parte desta equação ecológica que é o crescimento da urbanização, da industrialização, do aumento da renda per capita e de um apelo exagerado pelo consumismo, que acaba gerando um enorme desperdício e geração de resíduos sólidos, que, por sua vez contribuem para a destruição da biodiversidade e a degradação do planeta Terra, incluindo os oceanos e mares.
Muita gente pode ficar imaginando, “ah eu moro em Cuiabá, na Baixada Cuiabana ou em qualquer outro lugar bem distante, milhares e milhares de quilômetros dos oceanos e mares, o que eu tenho a ver com esta questão? Isto deve ser um problema e um desafio para quem vive nas proximidades do litoral, das chamadas cidades costeiras etc etc”.
Todavia, como percebemos existem mais de dois mil rios, córregos e ribeirões cujas águas deságuam nos oceanos e mares e, levam ou trazem com elas toda sorte de resíduos sólidos, principalmente o lixo plástico, que atualmente é um dos ou o maior desafio para a sobrevivência de centenas de milhares de espécies vegetais e animais que estão relacionados com os oceanos e mares.
Diante deste desafio da degradação acelerada dos oceanos e mares foi que, pela primeira vez, de uma maneira formal, durante a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, que a Delegação do Canadá, com dados estatísticos que fundamentaram a proposta, incluiu na pauta das discussões, dos resultados e acordos daquela Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, este tema.
Esta foi a origem da criação, do surgimento do DIA MUNDIAL DOS OCEANOS, quando o mundo inteiro deveria debruçar-se sobre a gravidade deste desafio e da necessidade de um acordo internacional quanto aos oceanos, acordo este que até a atualidade não tem avançado tanto como os que já se efetivaram sobre diversos outros temas, também importantes e graves para a vida, inclusive a vida humana, no planeta Terra.
Apesar da ideia da criação de um dia especial para que possamos refletir sobre o que está acontecendo com os nossos oceanos, oficialmente, o DIA MUNDIAL DOS OCEANOS só foi reconhecido oficialmente pela ONU em 2008 e pela primeira vez foi celebrado em 2009, sendo celebrado, desde então, anualmente em 08 de Junho, coincidindo com a Semana Mundial do Meio Ambiente e com o JUNHO VERDE.
Anualmente por ocasião do DIA MUNDIAL DOS OCEANOS é escolhido um tema, em torno do qual, todas as reflexões e “preocupações” mundiais devem ser realizadas.
Alguns desses temas podem lançar luzes sobre a realidade dos oceanos e dar uma boa ideia da gravidade que a degradação dos mares e oceanos representa para a saúde do planeta Terra em geral e as consequências deste processo de degradação tanto em termos econômicos e financeiros, para os sistemas produtivos e também para a alimentação e a saúde humana, da mesma forma que para a produção de gases de efeito estufa, para o aquecimento global e para as terríveis e temíveis mudanças climáticas que já atingem toda a humanidade, diante da crise climática que não comporta mais procrastinação e nem desconhecimento tanto por parte da população em geral, do setor empresarial, dos governos nacionais, regionais e locais, bem como dos organismos internacionais.
Só para conhecimento mais geral destacamos os temas de alguns anos que serviram de base para as reflexões em relação ao DIA MUNDIAL DOS OCEANOS: 2009 – Nossos oceanos, nossa responsabilidade; 2012 – Convenção da ONU sobre os Oceanos; 2014 – Sustentabilidade dos oceanos, vamos garantir que os oceanos podem nos sustentar no futuro; 2015 (ano em que a ONU definiu e estabeleceu os ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, incluindo o de número 14. Vida na água - Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável), cujo tema foi “Oceanos sadios, planeta sadio”; 2017 – Nossos oceanos, nosso futuro; 2019 – Gênero e os oceanos; 2020 – Inovação para a sustentabilidade ambiental dos oceanos; 2021 – Vida nos oceanos e, agora, neste 08 de Junho de 2023, em que mais um DIA MUNDIAL DOS OCEANOS deve ser celebrado, o tema é “Planeta Oceano: As marés estão mudando”.
Como podemos perceber, existe o conhecimento da gravidade quanto à degradação acelerada dos oceanos, mas parece que ainda não existe uma real consciência desta gravidade e urgência em confrontá-la, tanto por parte da população que, aparentemente, “continua vivendo em outro planeta”, tamanha é alienação em torno dessas questões ecológicas graves; quanto por parte dos empresários, os responsáveis diretos pelos sistemas de produção que não dão o devido respeito e nem responsabilidade em relação ao meio ambiente, à ecologia integral; nem mesmo por parte dos governantes que continuam omissos ou coniventes com as práticas predatórias, degradadoras e criminosas e, também pela falta de um consenso internacional quanto ao que fazer para mitigar e também acabar com essas formas de poluição e degradação que estão destruindo a biodiversidade animal e vegetal dos oceanos.
Antes de finalizar esta reflexão, gostaríamos de destacar que os oceanos são responsáveis por mais de 50% do oxigênio que respiramos; absorvem e ou sequestram mais de 30% dos gases de efeito estufa que os países produzem e lançam na atmosfera; é responsável ainda por mais de 40 a 50 milhões de postos de trabalho, mais de 15% de toda a produção de petróleo, por 90% do comércio mundial de bens e produtos, e por um potencial incalculável para a produção de energia limpa e renovável, em suma, mais de três bilhões de pessoas, ou seja, 37,5% da população mundial em 2022, tinham suas vidas e sua sobrevivência relacionadas com os oceanos e mares.
Todavia, precisamos também identificar as grandes ameaças a vida dos e nos oceanos, que incluem: a) mudanças climáticas que contribuem para o aumento da temperatura e o nível dos oceanos e mares, que podem levar ao desaparecimento de milhares de povoados e cidades, afetando mais de dois bilhões de pessoas que vivem em regiões costeiras; b) acidificação das águas e branqueamento dos corais, afetando o equilíbrio da vida marinha; c) pesca predatória que tem contribuído para o desaparecimento de milhares de espécies; d) derramamento, poluição por óleo e outros resíduos sólidos/lixo, com destaque, novamente, para a questão do lixo plástico, que representa 85% de todo o lixo e que tem como destino final os oceanos.
Os nossos oceanos e mares, da mesma forma que nossos rios, como os Rios Tietê em São Paulo e o nosso lendário e importante Rio Cuiabá, já se transformaram ou estão se transformando em grandes lixeiras ou esgotos a céu aberto, ante a passividade tanto por parte da população quanto de nossos governantes e empresários.
Este fato foi destacado há dois anos quando, durante as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, disse em seu pronunciamento que nos oceanos e mares já existe mais plástico do que peixes.
E, finalmente, a última ameaça a vida nos oceanos são as mudanças dos ciclos de chuva e dos ciclos oceânicos que produzem fenômenos que alteram tanto o clima, o regime das chuvas e também os sistemas produtivos mundiais como La niña e El niño, fenômenos que provocam chuvas em demasia ou seca em demasia, afetando a vida no planeta.
Para, finalizar, deixamos esta reflexão: O futuro dos oceanos depende de nós, e a humanidade só vai sobreviver se cuidar e preservar os oceanos, eles são responsáveis pelo equilíbrio do planeta e a garantia da vida, inclusive da vida humana no planeta Terra. Lembremo-nos, não existe planeta B, se destruirmos, como estamos destruindo todos os biomas e ecossistemas, inclusive os oceanos e mares, estamos destruindo a nós mesmos, inclusive inviabilizando a vida das próximas gerações.
Pare um pouco e reflita crítica e profundamente sobre tudo isso.