O Papa recebeu na manhã de segunda-feira, 31 de outubro, os membros da Presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Na ocasião, foi apresentado ao pontífice o documento “Para uma Igreja sinodal em saída para as periferias – Reflexões e propostas pastorais da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe”, evento continental ocorrido realizado na Cidade do México em novembro de 2021.
Participaram do encontro, no Vaticano, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo (Perú) e presidente do Celam; o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente; o Cardeal Dom Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua, na Nicarágua, e 2º Vice-Presidente; Dom Rogelio Cabrera López, Arcebispo de Monterrey (México) e Presidente do Conselho para Assuntos Econômicos; Dom Jorge Eduardo Lozano, Arcebispo de San Juan de Cuyo (Argentina) e Secretário-Geral; Padre Pedro Brassesco, Secretário-Geral Adjunto; e o teólogo italiano Gianni La Bella.
Publicado em seis línguas (Espanhol, Português, Inglês, Italiano, Alemão e Francês) o texto também foi apresentado na tarde da mesma data em uma coletiva de imprensa na sede da Rádio Vaticana, em Roma.
O Documento de 146 páginas é dividido três partes: “Os sinais dos tempos que desafiam e alentam”; “Uma Igreja sinodal e missionária a serviço da vida plena”; e “Derramamento criativo em novos caminhos a percorrer”.
Na apresentação do texto, os bispos enfatizaram que esse “não é um Documento conclusivo – como os que emergiram das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano -, nem é o resultado de uma elaboração realizada por um grupo de teólogos; mais do que isso, ela é a sistematização do que foi expresso no diálogo dos participantes em quase uma centena de grupos de trabalho, compostos de leigos, leigas, religiosos, religiosas, sacerdotes, diáconos e bispos”.
“É um documento que oferece caminhos em seis dimensões: querigmática e missionária; profética e formativa; espiritual, litúrgica e sacramental; sinodal e participativa; sociotransformadora, e ecológica. Estas áreas foram refletidas em comunidade, e mostram muito claramente as preocupações do Povo de Deus em nossa região e suas sugestões e propostas”, reforçaram.
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Laboratório de Sinodalidade
Dom Miguel Cabrejos enfatizou que a Igreja na América Latina e Caribe viveu “um laboratório prático de sinodalidade”, de modo que, progressivamente, “não será possível evitar a participação do Povo de Deus nas várias decisões da Igreja”, que, nas palavras do presidente do Celam, “favorece a corresponsabilidade, mas, ao mesmo tempo, põe desafios”.
Entre os desafios, o Bispo peruano mencionou agir sempre a partir da misericórdia, a coerência entre discurso e prática, leitura adequada dos sinais dos tempos, escuta, diálogo e discernimento como processo, comunicação mais empática, habitando o “continente digital”, acolhendo a diversidade, integrando a mulher nos espaços de decisão e ver sempre no próximo a imagem de Deus.
Dom Miguel destacou, ainda, os desafios que afetam o clero e a vida religiosa, em relação à sua formação em um mundo plural, seu modo de vida, mais simples, austero e místico, trabalhando na sinodalidade, promovendo e acompanhando os leigos. Estes, salientou, são chamados a caminhar juntos, avançar numa formação sólida, numa práxis coerente, e assumir a Doutrina Social da Igreja.
O Presidente do Celam reforçou que a Igreja “deve construir pontes, derrubar muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar no perdão e na reconciliação, no sentido de justiça, no repúdio à violência e na coragem da paz”.
Escuta
Gianni La Bella destacou a “ponte” entre a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para Pan-Amazônia (2019) e o caminho em vista da assembleia do Sínodo sobre a sinodalidade (2021-2024), experimentando concretamente uma nova abordagem conceitual para a “eclesiologia de comunhão”.
O teólogo italiano recordou as duas palavras em que o Papa insistiu em relação à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe: transbordar, para “superar as divisões e encontrar soluções criativas e inovadoras”, e escutar Deus e os gritos do povo. A partir daí foi mostrando a importância “dos sinais dos tempos” e como surgiram os desafios que nasceram da Assembleia, que busca “oferecer uma série de sugestões práticas para reler e atualizar o conteúdo e o espírito daquela Conferência de Aparecida”
À luz de Aparecida
O Cardeal Scherer recordou a Assembleia Geral de Celam realizada em Tegucigalpa, Honduras, em 2019, na qual foi decidido apresentar ao Papa o pedido para que fosse convocada uma VI Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho. O Pontífice, no entanto, considerou melhor voltar ao Documento de Aparecida e aconselhou outro tipo de iniciativa mantendo esse documento como referência, que deu origem à Assembleia Eclesial, com a participação de todos os membros do Povo de Deus.
Dom Odilo sublinhou, ainda, as três recomendações de Francisco na época: avaliar os frutos de Aparecida, analisar as lacunas e enxergar os novos desafios. O Arcebispo de São Paulo insistiu que, durante a Assembleia Eclesial, o desenvolvimento das reflexões não se fixou tanto em Aparecida, mas nos novos desafios e problemas não resolvidos desde então. O 1º Vice-Presidente do Celam acrescentou que esse foi um evento novo, diversificado, único, em termos de dimensões e participação, que despertou grande interesse em outros continentes, “com uma metodologia sinodal muito clara, algo nascido em Aparecida e promovido pelo Papa Francisco nos últimos anos”.
Transbordamento Evangelizador
O Cardeal Leopoldo Brenes também enfatizou a novidade da Assembleia Eclesial, algo “que fez os bispos latino-americanos se sentirem felizes e orgulhosos de pertencer a esta Igreja”, em saída, em missão permanente. O 2º Vice-Presidente do Celam destacou o compromisso do Santo Padre em celebrar um processo e não um evento, e em dívida com Aparecida. Da mesma forma, reafirmou a riqueza das contribuições de milhares de pessoas, “que nos deram o que estamos apresentando hoje, como reflexões e propostas, como algo que vem revigorar e dar um novo impulso a todo o nosso trabalho pastoral”.
Nesse sentido, o Arcebispo de Manágua pediu aos meios de comunicação que ajudem este documento a chegar às pessoas simples através deles, “um documento que traz o que faltava em Aparecida, com o qual estamos traçando diretrizes para outros continentes”.
Propostas pastorais e linhas de ação
“Estamos diante de um texto que recolhe os quatro sonhos do Papa Francisco na [exortação apostólica] Querida Amazonia”, disse Dom Jorge Eduardo Lozano. O Secretário-geral do Celam salientou serem oferecidas seis linhas que pretendem abranger as várias dimensões da ação pastoral com vários desafios resultantes do trabalho de todo o processo vivido, recolhidos pela equipe de reflexão teológica.
Em seguida, o Bispo argentino chamou todos a empreender um processo de apropriação para que este texto possa entrar gradualmente nas comunidades. Ele também ressaltou não se trata de um documento do magistério episcopal da América Latina, nem a reflexão de um grupo de amigos ou a conclusão de um congresso, tampouco a reflexão de uma equipe de especialistas no campo acadêmico. “Estamos diante de um documento, que recolhe o reflexo do Povo de Deus composto pelas várias vocações e assistido pelo Espírito Santo. Não é fruto de uma iniciativa particular, mas da convocação do Santo Padre, que pode renovar-nos no impulso evangelizador e missionário”, concluiu.