No quarto dia em terras canandenses, Francisco foi acolhido por cinco autoridades, entre os quais representantes dos povos indígenas.
Por Silvonei José, Quebec
Na tarde de ontem, terça-feira, o Papa Francisco foi até o Lago de Sant’Ana, cerca de 72 km a oeste de Edmonton, destino anual de uma peregrinação católica desde o final do século XIX, precisamente na festa da Santa, e ali o Santo Padre lançou um múltiplo apelo para ouvir as "batidas maternas" da terra, para uma fraternidade baseada na união "dos distantes", para uma Igreja que não se enraíza na defesa da instituição apesar da "procura da verdade". E aos "irmãos indígenas”disse: "sois preciosos para mim e para a Igreja".
A viagem apostólica de Bergoglio ao Canadá concluiu a sua primeira parte com uma peregrinação tradicional antes da transferência para Quebec, às margens do rio São Lourenço, capital e a segunda cidade mais populosa da província francófona com o mesmo nome.
No quarto dia em terras canandenses Francisco chegou ao aeroporto da cidade com cerca de 20 minutos de antecipação em relação ao horário previsto. O avião Papal tocou terra às 14h43, hora local depois de percorrer 3.116 Km em pouco mais de 4 horas de voo. O Santo Padre foi acolhido por 5 autoridades, entre as quais representantes dos povos indígenas.
A cerimônia de boas-vindas terá lugar na "Cidadela de Quebec”. O primeiro encontro será com a governadora geral do Canadá, senhora Mary May Simon. Após a visita de cortesia no mesmo local o encontro com o primeiro-ministro canadense senhor Justin Trudeau e com as autoridades civis, representantes das populações indígenas e com o corpo diplomático.
A Cidade de Quebec (531.902 habitantes), que recebe o Papa é a capital da província de mesmo nome. É a segunda cidade mais populosa do leste do Canadá, depois de Montreal. Declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1985, é uma cidade de caráter europeu, francesa em sua arquitetura, e está entre as cidades mais antigas da América do Norte.
“La basse-ville”, a cidade baixa, a antiga área ao longo das margens do rio, local de nascimento da América do Norte francesa, preserva sua arquitetura colonial e fortificações há mais de 400 anos. As paredes com seus portões ainda intactos mostram seu passado como uma fortaleza militar. A Cidadela fortificada, construída a partir de 1820 pelas tropas britânicas para se defenderem de ataques externos, hoje abriga o 22º Regimento Real e seu Museu e, desde 1872, a residência do governador-geral.
A governadora-geral do Canadá, senhora Mary May Simon, nasceu em Quebec, em 1947, é filha de um inglês, comerciante de peles e de uma mulher Inuk.
Francisco na primeira parte da sua “peregrinação penitencial”, já no seu primeiro discurso em Edmonton disse que “estou aqui porque o primeiro passo desta peregrinação penitencial entre vós é renovar meu pedido de perdão e dizer-vos, de todo o coração, que estou profundamente entristecido: peço perdão pelas formas como, infelizmente, muitos cristãos apoiaram a mentalidade colonizadora das potências que oprimiram os povos indígenas. Estou entristecido. Peço perdão, em particular, pelas formas como muitos membros da Igreja e das comunidades religiosas cooperaram, mesmo por indiferença, naqueles projetos de destruição cultural e assimilação forçada dos governos da época, culminando no sistema de escolas residenciais."
Expectativa agora para o primeiro discurso na província de Quebec ainda nesta tarde, diante das autoridades e dos representante dos povos indígenas e do corpo dipomático.
A Rádio Vaticano – Vatican News ouviu Martine Awashish, da Nação Atikamekw Obedjiwan, que relatou que seus pais viviam nos internatos de Amos em Abitibi-Témiscamingue. A minha mãe – disse ele - teve uma depressão no início dos anos 90 e começou uma viagem pessoal na Maison Jésus Ouvrier aqui no Quebec”. Então prosseguiu Martine, era um tempo de renovação, de crescimento espiritual. Ela chegou a perdoar o seu agressor, que era um padre no internato. Ela também começou a ir a fundo da questão, inclusive encontrou-se com um padre para lhe contar sobre a sua agressão no internato. Ela partilhava muito sua experiência na comunidade. Faleceu em 2018.
E penso que a visita do Papa também irá iniciar uma viagem pessoal para os membros da comunidade das Primeiras Nações. Há alguns que já fizeram a viagem e outros que estão na viagem espiritual. Portanto, é como uma continuação da cura das Primeiras Nações, diria eu.
Isto certamente é o que fará Francisco nos três dias que permanecerá em Quebec.