Estamos numa cultura de morte: a cultura da morte contra a vida, prefere-se esta morte, que para muitos é vida, ou esta vida que para muitos é morte.
Por Célio Pedro Saldanha Dornelles
Eu era ainda adolescente, estudante da antiga admissão ao ginásio, no estudo fundamental, com 12 anos de idade, quando li numa antiga seleta de prosa e versos, uma história muito bonita e que me marcou bastante, até hoje.
Ainda recordo esta passagem, que me ficou impressa na memória. O escritor relatava, que na cidade de Florença, na Itália, havia chegado à bela cidade, pátria de Dante Aligheri, um circo. Mas, uma leoa havia escapado de uma de suas jaulas e estava perambulando pelas ruas da cidade.
Coincidiu casualmente, que uma mulher grávida estava voltando para sua casa, quando, de repente, se depara com a leoa a uns 15 metros, à sua frente. Instantaneamente aterrorizada, a mulher grávida para, levando as mãos sobre o ventre, como a proteger sua inocente criancinha, que carregava consigo.
Mas, coisa de admirar, a leoa fixa demoradamente a mulher, meneia a cabeça, dá meia volta, vira-se, mudando de direção, prosseguindo por outro caminho.
O escritor deste conto, comentou este fato com esta singela, bela, simples frase: é que, talvez fosse mãe, também, esta leoa. Isto é, o feroz animal parou, perante o mistério - milagre de uma mãe grávida, levando em seu ventre materno, a vida inocente de sua criancinha. Parou e respeitosamente preferiu a vida à morte!
Um caso interessante aconteceu comigo mesmo em casa de meus pais, há bem 30 anos passados: eu sempre gostei dos animais, principalmente do meu cachorrinho Tupã e de minha gatinha Mimosa, que eu criara em nossa casa. Um dia, a gatinha Mimosa tem os seus filhinhos, os seus gatinhos. Eu, para acomodá-la bem, arrumei uma caixa com panos que ficasse comodamente instalada com seus gatinhos.
Mas eu não havia reparado que o cachorrinho Tupã estava rodeando a caixa onde estavam a Mimosa e sua inestimável ninhada. Eis que, uma certa manhã, a Mimosa, protegendo os seus gatinhos, os estava carregando, um por um na boca, pelo pescoço, para protegê-los do perigo do Tupã!
O mais impressionante, era o lugar para onde ela estava carregando o seus gatinhos: ali perto, havia um velho armário com um metro e meio de altura. Mimosa, para cada filhote carregado na boca, tinha que dar um salto muito alto e assim, os transportava um por um, a todos, para o alto do velho armário, salvando-os do perigo.
A mãe gata, defendendo e protegendo do perigo seus gatinhos, esforçando-se ao máximo do chão, num salto formidável, até ao alto do velho armário, acomodou todos os seus filhotes, lambendo-os, acariciando-os, amamentando a todos, toda feliz da vida. Ela era mãe, e eles eram os seus filhinhos!
O ser humano, bem, o ser humano... O que dizer desse genocídio das crianças inocentes no seio materno?! O que dizer do famigerado aborto? Sim, estamos numa cultura de morte: a cultura da morte contra a vida, prefere-se esta morte, que para muitos é vida, ou esta vida que para muitos é morte: desquites, divórcios, desajustes sociais e familiares, guerras, violências, torturas, a gravidez de jovens meninas, quase nem adolescentes ainda, inconsequentes, irresponsáveis, já brincando com bonecas vivas. O famigerado aborto: a vida não vale mais nada perante o sexo desenfreado e pornográfico, o sexualismo barato: se transa porque se fica e se fica porque se transa, irresponsavelmente, arranca-se a vida e irresponsavelmente ainda, despedaça-se a vida no mais hediondo, chocante e apavorador egoísmo: as fábricas de anjos, as clínicas e casa abortivas. Os filhos órfãos de pais vivos!
E se me perguntarem, entre a gatinha mimosa e a mãe leoa, às mães abortivas, a não ser por gravíssimos e especialíssimos motivos, respondo sem pensar duas vezes: eu fico com o animal, sim eu prefiro o animal!