“Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição”(Lucas 2,34).
Por Mauro Negro *
Estas afirmações de Lucas capítulo vêm de Simeão, um idoso sábio que acolheu a Maria e José, quando ambos apresentaram Jesus no Templo. O Evangelho segundo Lucas afirma que ele tomou Jesus nos braços e louvou ao Deus de Israel. É célebre a prece que ele disse e o Evangelho segundo Lucas apresenta com o título de “nunc dimites”, que pode ser traduzido por “agora soltes”. A ideia ali expressa é que Deus cumpriu as promessas e fez acontecer a Salvação, esperadas por Israel e por Simeão. Ele viu esta Salvação no pequeno Jesus e ora a Deus, dizendo que “agora podes soltar” ou “despedir teu servo”, que é ele mesmo, Simeão. É um louvor e uma gratidão pela ação de Deus na história. Mas não para aqui!
Depois deste episódio, Simeão faz algumas afirmações. Primeiro, que o Menino, que é Jesus, será colocado para a queda e o levantamento de muitos em Israel. Depois, que Ele, Jesus, será um “sinal de contradição”. E, finalmente, que uma espada de dor transpassará a alma da Mãe de Jesus, Maria (Lucas 2,34-35). Tudo isso tem muito sentido quando visto na história que se seguiu. Queremos aqui destacar Jesus como “sinal de contradição”.
“Contradição” tem vários sentidos. A própria Pessoa de Jesus gera um mundo de sentimentos, impressões, reações que de um lado completam o que se sente e pensa, mas de outro deixam à mostra os erros e equívocos. Se Jesus é seguido na sua raiz, isto é, de modo radical, muito do que se tem e se vive deve ser mudado.
Jesus é a Palavra de Deus, é a sua presença. Sua Pessoa e a Boa-Nova proposta gera conforto e aceitação, mas também dificuldades, incompreensões e rejeições. Ele surpreende os seus contemporâneos de modo positivo e negativo. Sendo o Caminho, a Verdade e a Vida, como afirmado em João 14,6, Ele deixa à mostra o que há no mundo, na história e nas pessoas. Quando olhamos isso tudo pelos olhos de Jesus e por suas palavras no Evangelho, muito que se tem por certo ou errado pode ser mudado. Além disso, Jesus surpreende, vai além e, constantemente, apresenta outros lados que antes não eram claros.
Jesus é sinal de contradição também porque muitos, das mais diferentes índoles e pensamentos, encontram nele inspiração, significado. E é legítimo que seja assim, pois Jesus é a presença de Deus na história, o que se chama Encarnação. Embora Ele tenha se encarnado no povo de Israel, Ele não é de um povo ou de outro: é da humanidade. O desafio para a humanidade é a aceitação disto e a vivência da multiplicidade ou contradição do Mistério.