Luta contra a malária

Surto da doença atinge povo Yanomami na Missão Catrimani.

Por Bob Mulega e Filbert Nkanga
Fotos: Arquivo IMC

Enquanto o mundo continua lutando contra a pandemia da Covid-19 que começou no final do ano 2019 e no Brasil no mês de fevereiro de 2020, o povo Yanomami da Missão Catrimani sofre com a epidemia de malária que vai e vem. Desde o mês de abril deste ano não foi reportado nenhum caso de Covid-19 na Missão. Ao invés, o surto de malária é muito elevado.

Compreende-se que a malária é transmitida pela picada do mosquito Anopheles. Segundo a Fiocruz, a doença infecciosa, febril e potencialmente grave, é causada pelo parasita do gênero Plasmodium. No Brasil existem três espécies de Plasmodium que afetam o ser humano: P. falciparum, P. vivax e P. malariae. O mais agressivo é o P. falciparum, que se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, destruindo de 2 a 25% do total de hemácias (glóbulos vermelhos) e provocando um quadro de anemia grave. A doença tem tratamento e cura, mas se não forem diagnosticados e tratados de forma correta, há risco de morte. Na compreensão Yanomami estar doente significa ter sua imagem essencial invadida e ferida.

O cuidado da vida
A promoção humana, o cuidado da vida e o bem-estar do povo Yanomami foi sempre uma preocupação dos missionários da Consolata junto a ele, desde a sua chegada em 1965 junto com outras identidades em favor da vida do mesmo povo, como o ISA (O Instituto Socioambiental), a Associação do Povo Yanomami (HUTUKARA) e o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). Além de ser ameaçado com a pandemia de Covid-19 e a epidemia de malária no próprio território, há invasão em massa do garimpo que traz várias realidades que ameaçam a vida.

Terra Indígena Yanomami (TIY)
amazzonia4O povo Yanomami foi um dos últimos grupos indígenas a ter contato com a sociedade envolvente. A terra Indígena Yanomami constitui uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta tropical de maciço guianense, situado em ambos os lados da fronteira entre o Brasil e a Venezuela. O etnônimo Yanomami foi produzido pelos antropólogos a partir da palavra Yanomami que na expressão Yanomami thepe significa seres humanos. Na Terra Indígena Yanomami da Missão Catrimani vivem aproximadamente 900 habitantes, distribuídos em mais de 27 comunidades (Malocas grandes) e está organizada em três regiões administrativas, entre outras: rio acima, médio Catrimami e baixo Catrimani.

A preocupação com a malária, pneumonia e desnutrição afeta em grande parte a vida do povo. Várias organizações que lutam pelo valor da dignidade humana principalmente entre o povo indígena, estão fazendo o máximo que podem, embora há situações que dificultam o combate da malária entre outras doenças no território.

Desafios de saúde na área
Acompanhando a situação com a equipe da saúde no combate à malária e outras doenças, apresenta os maiores desafios que enfrentamos como a dificuldade de o povo completar a dose do tratamento em sete dias. No sentido de que a maioria quando se sente melhor não termina a medicação. Essa prática causa uma auto-incidência da bactéria pelo fato de não terminar o medicamento, aí fica com malária mal curada. Entretanto a pessoa cai em risco de pegar outros tipos de malária que na maioria das vezes leva ao óbito ou deixa sequelas pelo resto da vida.

A convivência com os garimpeiros que tem a ver com os poços abandonados após extração ilegal de ouro oferece as condições necessárias para a reprodução do mosquito (vírus) Anophele, hospedeiro da malária. A movimentação desses garimpeiros pela floresta faz com que a malária circule com maior facilidade. A maioria das vítimas da doença são aqueles mais vulneráveis: os indígenas. A presença também com os garimpeiros que nunca se tratam de malária provoca a propagação do vírus de malária para o Yanomami que vai trabalhar no garimpo e quando volta para as malocas corre o risco de contagiar outros parentes que moram no mesmo espaço.

A falta de equipamentos para nebulização do ambiente, pois não adianta cuidar bem das pessoas e deixar de cuidar do ambiente no qual se vive, na maioria das vezes facilita a reprodução dos pernilongos, propagadores de vírus.

A falta de uma equipe fixa da saúde e comprometida para acompanhar de perto o problema da malária, pois sempre vem uma equipe, quinzenal ou mensalmente, e depois vem outro que inicia tudo de novo. Por outro lado, a falta de medicação nos polos da saúde prejudica o tratamento contínuo da malária.

O acesso difícil aos Yanomami, pois é um povo da floresta e para chegar nas malocas é pelo rio, dificulta o atendimento. Além disso, tendo apenas um motor no barco, se ele quebra, sua manutenção leva alguns meses. Isso tem a ver com a insuficiência dos equipamentos de trabalho para atender todas as comunidades. Às vezes pode ter motor, mas falta o combustível nos polos de saúde.

A presença dos missionários na Missão Catrimani é significante pois estamos a favor da vida em todos os âmbitos que se possa imagina. Para que os indígenas compreendam os seus direitos: à saúde, educação, defesa da terra, moradia etc. Assim como qualquer brasileiro, mulher, jovem, criança, todos têm direito a uma vida digna.

Bob Mulega, imc, é sacerdote missionário e Filbert Nkanga é professo, ambos na Missão Catrimani, entre os Yanomamis.

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