Sistema educacional no Quênia envolve toda a sociedade.
Por Thiago J. Silva*
O Quênia é um país localizado na África Subsaariana. Sua principal característica é a diversidade cultural, linguística, social e religiosa, já que é constituído de pelo menos 43 diferentes grupos culturais. Por isso, muitas práticas e valores são bem diferentes.
O primeiro deles que eu conheci e é muito visível seja no campo ou na cidade, foi o valor dado à educação das crianças e dos jovens, pelo fato de que a educação é uma responsabilidade de toda a sociedade e não somente da escola ou dos pais.
Crianças bem pequenas vão à escola com seus primos e irmãos sozinhas, sem medo, livres e responsáveis, pois se sentem seguras em percorrer muitas vezes longas distâncias até a escola. As crianças quenianas não compartilham os medos que nós carregamos. Ao contrário, elas têm a certeza que estão sempre sendo assistidas e acompanhadas por diferentes adultos que fazem parte da comunidade, proporcionando apoio e segurança básicas para que essas crianças e jovens se desenvolvam.
Tem uma expressão (ditado) que o povo usa frequentemente, independente de qual seja a etnia, que chama muito minha atenção e que “são nossas crianças”, “são meus filhos também”. Sendo assim, as crianças não são filhos de um casal, mas de todos que ali estão em volta. Todos são participantes ativos da educação e acompanhantes dessas crianças.
Essa identidade cultural cria uma nova concepção de mundo em que todos são integrados e participantes e como resultado se constrói uma sociedade em que o individual é uma parte essencial do coletivo, e, que todos trabalham juntos construindo uma sociedade mais fraterna, solidária e unida.
Em tempos de Covid-19
A educação no Quênia foi muito prejudicada, especialmente no ano de 2020, no qual todas as escolas (públicas e privadas) interromperam as atividades escolares em todos os níveis. Isso porque a nação não estava preparada para a nova realidade que a pandemia iria impor.
O Quênia conta com diferentes estruturas educacionais se compararmos com o Brasil, grande parte dos alunos estuda em sistema de internato, que em inglês chama-se “boarding school”. Porém, essa realidade não afasta o perigo de infecção dos alunos mesmo em reclusão. Pois eles (como em escolas que o aluno se apresenta todos os dias), dividem diversos espaços como refeitórios, classe de aulas, banheiros etc. Por isso, as autoridades decidiram suspender as aulas desde o mês de maio até dezembro de 2020, o que fez com que grande parte dos alunos perdesse o ano estudantil. Apenas as escolas particulares conseguiram oferecer aulas à distância (EAD), isso porque, no país nem todos os alunos e professores têm acesso diário à internet.
Já esse ano de 2021, o governo permitiu que as aulas presenciais retornassem para os alunos que estavam no último ano em todos os níveis, escola ou faculdade. No entanto, sempre que decretado lockdown as escolas devem interromper suas atividades até que a situação esteja novamente estável. As escolas estão tentando responder à nova realidade imposta pela pandemia e manter um certo nível na educação em todos os segmentos, porém ainda há muitas limitações.
Depois de estudar a situação, o governo do Quênia estabeleceu que todas as escolas (primárias e secundárias) irão retornar às classes presenciais nos dois sistemas de educação (diário e nos internatos), porém, observando de maneira estrita todas as regras de proteção como distanciamento social, uso de máscaras, lavar as mãos constantemente. Algumas universidades estão estudando de acordo com as estruturas e o número de alunos a melhor maneira para continuar ou começar o ano acadêmico.
A pandemia está mostrando que devemos melhorar nossas estruturas de formação, que devemos utilizar novos instrumentos para alfabetização e didática de aulas.