“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

“Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo”. (Mt 6, 24)

Por Mauro Negro

Ter um “senhor” e servi-lo é algo normal para todos. Pode ser o patrão, o coordenador, o pai ou a mãe… Não se trata aqui de “senhor” no sentido de um deus. Mas pode acontecer que algumas pessoas nos envolvam tanto que se tornam nossos “senhores”, controladores de nosso modo de sentir, olhar, entender e agir. Uma espécie de “deus”. No Evangelho Jesus indica que isso pode acontecer com o dinheiro.

O dinheiro, em si, é o poder de compra, de posse. É um valor que indica uma riqueza. O dinheiro é o que dá segurança psicológica, social e, é claro, econômica. O dinheiro é importante e necessário e determina muito do que somos e fazemos. Ele nos ajuda aqui, mas não nos acompanha além. Ele é para aqui e agora. Ele é para o futuro de nossa vida e da vida de quem amamos. Mas não pode ser nosso “senhor” e sim um recurso. Não nosso “senhor”, mas sim nosso “servo”. A troca de posição, de servo para senhor nosso, é trágica. Nós não o levamos quando morremos. É isso que o Evangelho acusa: o dinheiro ou a riqueza nos controlando, ditando as normas de nossa conduta, de nossos afetos e de nossa inteligência e até nossa salvação.

Senhor da pessoa

A Sagrada Escritura judaica e cristã usou a riqueza e suas imagens de modo livre. Aparecem o ouro, as pedras preciosas, a segurança e o conforto como sinais de bem-estar. São também sinais do próprio Deus e da sua presença. Ter o necessário para viver e para o futuro é justo e um sinal de benção pessoal. Mas a riqueza acumulada, especialmente sem a justiça e a retidão, é um perigo enorme para a salvação. E quando os lugares são trocados, torna-se pior. Quando o dinheiro passa a ser o senhor da pessoa, e ela, a pessoa, passa a servir o dinheiro. É o caso de quando ele controla o pensamento, o afeto, a intenção e a vida de alguém. Não se trata de ter dinheiro para viver, mas de viver apenas para o dinheiro, o que faz dele um “senhor”, um deus.

No Evangelho, Jesus alerta para que o dinheiro, necessidade e realidade humana, seja nosso servo. E que o Senhorio seja de Deus, nunca do que usamos. A liberdade perante o dinheiro e a sua administração será sempre um desafio para a fé cristã e a convivência humana. Servir somente a Deus, e usar o dinheiro com sabedoria e liberdade.

* Mauro Negro, OSJ Biblista. PUC São Paulo mauronegro@uol.com.br

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