Entremos e, prostrados, o adoremos, de joelhos ante o Deus que nos criou. (Sl 94)
Por Geovane Saraiva*
A missão salvífica de Jesus, na sua intimidade e comunhão com o Pai, tão evidente na sua oração sacerdotal, revela seu verdadeiro rosto ou identidade. Jesus contava com uma única alegria e satisfação: fazer a vontade do Pai e levar a bom termo a sua obra. É este seu alimento e júbilo, não necessitando de mais nada (cf. Jo 4, 34). Só em Jesus é possível perceber o fundamento da oração dos seguidores de Jesus de Nazaré, apoiados e enraizados na sua relação com o absoluto. Esse fundamento compreende sua paixão pelo Pai, como nas palavras do apóstolo Paulo: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo em nome de Jesus, para a glória de Deus Pai” (cf. 1 Cor 10, 31; Cl 3, 17).
Pensemos, pois, num Deus que ama em profundidade o mundo, e nele a criatura humana. A oração dos cristãos, sendo o apanágio progressivo da verdade na caridade, rumo à eternidade[1], deve iluminar a criatura humana, no sentido de que se faça a vontade do Pai, aqui na terra, mas que seja realizada lá no céu. A vida cristã, animada pela oração, corresponde, numa atitude espiritual de confiança ilimitada, à entrega espontânea, num estreitamento filial e ininterrupto, refugiando-se em Deus, em todas as necessidades. É esse o espírito de oração contínua de Jesus, podendo prevalecer o mesmo espírito que Jesus quis imprimir na mente e no coração dos discípulos.
Os Evangelhos nos apresentam uma imagem de Jesus, no desmedido e colossal exemplo de sua entrega como um hino de louvor ao Pai. Jesus reza com muita frequência: faz orações comuns, como a bênção antes das refeições, reza antes de atos e decisões importantes, nos milagres, no convívio com os apóstolos, na solidão noturna e na presença dos discípulos, também quando seu espírito se encontra alegre, sem esquecer da agonia no Getsêmani!
“Entremos e, prostrados, o adoremos, de joelhos ante o Deus que nos criou” (Sl 94). Que seja uma oração universalmente ecumênica, como nas palavras do poeta e místico alemão, protestante, em pleno século do iluminismo ou das luzes, ao erguer sua voz para lembrar aos homens, mas num compromisso de súplica: “Deus aqui está presente, adoremos! Com santa reverência, entremos na sua presença. Deus está aqui no meio: tudo se cale em nós e o íntimo de nosso peito prostre-se em sua presença. Quem quer, o conheça, quem pronuncie seu nome, baixe os olhos à terra e para ele dirija o coração”[2].
Prescindir do valor da oração seria como que se indispor contra aquele que tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho único (cf. Jo 3, 16), também querendo realizar inteiramente a vontade do Pai, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8). A oração consequente, que leva à mesma atitude da Santa Mãe de Deus, Maria, fonte de alegria, aflora nos seus lábios, naquela magnífica e sublime visita à sua prima Isabel, ao pousar Deus seu olhar, na sua insignificância, mas que nela se realizam maravilhas, na exaltação dos empobrecidos e humildes, os favoritos de Deus. Assim seja!