A audácia de falar de Deus

Como você diria que Deus está em sua vida? Como você diria que se sente diante Dele? Que reação isso provoca? Se Deus respondesse às suas dúvidas, o que acha que lhe responderia? Como seria esse diálogo?

Por Nelson Javier Rivera Carvajal *

É possível dizer que somos especialistas em nos relacionar, não apenas com aqueles que estão ao nosso lado, mas também em discernir e conversar com o transcendente. Tanto o ser humano quanto Deus mantém um relacionamento através da linguagem, constituindo o meio pelo qual a ação e o efeito de falar se tornam uma necessidade profunda. A comunicação são as mãos, uma marca ou um estilo que o Criador usa com sua maior obra chamada “humanidade”, no compromisso de transmitir a arte de falar e a arte de ouvir. Isto é a capacidade do homem se comunicar, compreender a realidade, abordar os diferentes problemas que afligem os seres humanos e suas questões a partir do olhar de fé iluminado pela Palavra revelada.

Esta audácia de falar de Deus é certamente uma tarefa confiada não somente ao clero, mas também a todos os fiéis leigos que devem se sentir responsáveis pela proclamação da fé. Ou seja, a encarnação da Palavra como evento implica a plena manifestação de Deus aos homens e mulheres por meio daquilo que lhes é mais comum e que é a própria linguagem, e a expressão usada do Verbo tornou-se Palavra que ganha ainda mais força. A própria vida de Deus se torna comunicável aos homens como uma insinuação que levanta a questão, a dúvida, o desejo e que se mantém à margem da apreensão do mistério, o que explica por que toda nossa experiência religiosa é marcada por este matiz de ausência, porém, na ausência de Deus, a teologia e a liturgia tendem a sublinhar sua presença.

Ora, a impossibilidade da linguagem de se referir a Deus como algo do qual nossa experiência não pode se dar conta, como aquilo que nos ultrapassa, constitui o paradoxo de uma espécie de auto-referencialidade do homem, na qual falar de Deus é falar de si mesmo, é a atitude do homem que se confronta com a ignorância que o ultrapassa, diante da qual só é possível uma atitude de silêncio, que diz muito e que nos leva à pergunta: Quem é Deus? Talvez, intuímos quem é Deus, quem se apresenta a mim como o totalmente Outro, o diferente.

Diante das várias exigências e mudanças atuais, chega-se a repensar e reinterpretar o papel de cada cristão dentro da comunidade crente, não como mero ensinamento, mas como a substância viva da prática social da fé vivida. Ou seja, não pode ser desencarnado, deve ser inserido na realidade social e dela deve sair o homem que se relaciona e faz viva a vontade de Deus no meio de seu povo. Daí o convite para você, leitor, de entrar nessa relação com o sagrado para logo levá-lo ao concreto de sua vida, com uma linguagem comum e uma atitude desafiante na audácia de falar de Deus dentro do contexto atual, sentindo o coração bater apressado de euforia pelo poderoso gesto de se comunicar com Ele.

* Nelson Javier Rivera Carvajal, imc, é professo em São Paulo, SP.

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