Olhar para a história da Semana Social Brasileira é ver os avanços e retrocessos da mobilização, da luta e da organização popular no país; é também enxergar e denunciar as omissões do Estado brasileiro.
Por Karla Maria* | Especial 6ª Semana Social Brasileira
“O sujeito da autoridade política é o povo considerado na sua totalidade como detentor da soberania”, escreveu o Pontificado Conselho para a Justiça e a Paz, em 2004, a pedido do papa João Paulo II no Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Tal observação do magistério está na base de ação e motivação das Semanas Sociais Brasileiras, que há 30 anos colaboram com a construção de um projeto de país mais justo e igualitário.
O terreno em que a iniciativa evangelizadora brotou por aqui, a exemplo da europeia, era de celebração dos cem anos da Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, que tratava sobre as condições dos operários, das questões sociais. Não por acaso, o tema da 1ª Semana Social Brasileira foi “Mundo do trabalho: desafios e perspectivas”, e diferentemente das demais edições, que se tornaram processos formativos com eventos pontuais descentralizados por todo o país, a primeira edição aconteceu entre 3 e 8 de novembro de 1991.
“O mundo do trabalho estava em debate naquele momento e a sociedade começava a viver a implementação das novas tecnologias naquela época, então foi algo importante”, avalia Ari Alberti, da coordenação nacional do Grito dos Excluídos, que participou da primeira edição.
Mas não só. Houve um cenário de redemocratização pós-Ditadura Militar (1968-1985), de abertura política, de organização popular e esperança para o povo alimentada pelo Concílio Vaticano II (1965-1968) e sua obra de aggiornamento, que firmou no interior da Igreja Católica latino-americana uma crescente preocupação com o povo mais pobre e suas necessidades.