Os Santos Mártires, padre Ambrósio Francisco Ferro, padre André de Soveral, o leigo Mateus Moreira e seus 27 companheiros foram beatificados em Roma, no dia 5 de março de 2000 e canonizados no dia 15 de outubro de 2017. A festa litúrgica é celebrada no dia 3 de outubro, data do martírio em Uruaçu.
Por Redação *
Em 16 de junho de 1645, o padre André de Soveral e outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por 200 soldados holandeses e índios potiguares. Eles estavam participando da missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, município de Canguaretama no Rio Grande do Norte. A chacina foi motivada pela intolerância calvinista dos invasores holandeses que não admitiam a prática da religião católica.
O movimento de insurreição contra o domínio holandês já começara em Pernambuco, mas, na capitania do Rio Grande do Norte, tudo parecia normal. Bastou, porém, a presença de uma só pessoa para que o clima se tornasse tenso: Jacó Rabe, um alemão a serviço dos holandeses. Ele teria chegado a Cunhaú no dia 15 de julho de 1645.
Jacó Rabe era um personagem muito conhecido dos moradores de Cunhaú. Suas passagens por aquelas paragens eram frequentes, sempre acompanhado dos tapuias e soldados holandeses, semeando por toda parte ódio e destruição. A simples presença de Rabe e dos tapuias (indígenas habitantes da região) era motivo para suspeitas e temores. Ele dizia-se portador de uma mensagem do Supremo Conselho Holandês, do Recife, aos moradores de Cunhaú.
Vídeo sobre os Mártires de Cunhaú e Uruaçu produzido pela arquidiocese de Natal.
No dia 16 de julho, Domingo, um grande número de colonos estava na igreja, para a missa dominical celebrada pelo Pároco, padre André de Soveral. Jacó Rabe mandara afixar nas portas da igreja um edital, convocando a todos para ouvirem as Ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa. Como havia um certo receio pela presença de Jacó Rabe, alguns preferiram ficar esperando na casa de engenho.
Chegou a hora da missa. Os fiéis, em grupos de familiares ou de amigos, dirigiram-se à igrejinha de Nossa Senhora das Candeias. Levados apenas por cumprir o preceito religioso, os fiéis não portavam armas, mas só alguns bastões que encostaram nas paredes do pórtico. O padre André inicia a celebração, e a mando de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina. Os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e potiguares.
Uruaçu
Quase três meses depois, no dia 3 de outubro, em Uruaçu, no município de São Gonçalo do Amarante, a 18 km de Natal, aconteceu outro martírio, durante o qual cerca de 80 pessoas, entre elas o padre Ambrósio Francisco Ferro, foram mortas por holandeses. Nesse novo massacre, o camponês Mateus Moreira, teve o coração arrancado pelas costas, enquanto repetia: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. O fato se repetiu sob o comando de Rabe e ajudado pelo chefe potiguar Antônio Paraopaba.
Contam os cronistas que as notícias dos dolorosos acontecimentos de Cunhaú se espalharam rapidamente por toda a capitania do Rio Grande do Norte e capitanias vizinhas. A população ficou assustada e temia novos ataques dos tapuias e potiguares, instigados pela intolerância calvinista dos invasores holandeses.
Beatificação
O processo de beatificação foi concedido pela Santa Sé, no dia 16 de junho de 1989, e, em 21 de dezembro de 1998, o Papa João Paulo II assinou o Decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros, sendo dois sacerdotes e 28 leigos. Eles foram beatificados em Roma, no dia 5 de março de 2000 durante celebração presidida pelo Papa João Paulo II.
Mons. Francisco de Assis Pereira, Postulador da Causa de beatificação acompanhou o processo por mais de dez anos, reunindo documentos em pesquisas realizadas em Portugal, Holanda e no Brasil. Deste material resultou o livro “Protomártires do Brasil”.
A 43ª Assembleia Geral da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em Itaici (SP), em 2005, aprovou o Bem-aventurado Mateus Moreira como “Patrono dos Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística”.
Canonização
A canonização dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu foi autorizada pelo Papa Francisco em março de 2017 após dispensar comprovação de milagre atribuído aos mártires, embora algumas pessoas vinham atribuindo ações milagrosas a eles. A missa de canonização também ocorreu em Roma, em 15 de outubro de 2017, presidida pelo Papa Francisco. Segundo a Arquidiocese de Natal, esta é a lista dos Santos Mártires de Uruaçu e Cunhaú (nem todos têm os nomes identificados):
Pe. André de Soveral;
Pe. Ambrósio Francisco Ferro (português);
Mateus Moreira;
Domingos de Carvalho;
Antônio Vilela Cid (espanhol)
Antonio Vilela, o moço e sua filha;
Estevão Machado de Miranda e suas duas filhas;
Manoel Rodrigues Moura e sua esposa;
João Lostau Navarro (francês);
José do Porto;
Francisco de Bastos,
Diogo Pereira;
Vicente de Souza Pereira;
Francisco Mendes Pereira;
João da Silveira;
Simão Correia;
Antonio Baracho;
João Martins e seus sete companheiros;
A filha de Francisco Dias.
Este ano de 2020, são recordados os 375 anos do martírio dos padroeiros do Rio Grande do Norte. No local do massacre foi erguido um Monumento e o Santuário em memória dos Mártires. O espaço é aberto aos turistas e religiosos, e a cada mês de outubro recebe centenas de fiéis de todas as partes que acompanham as celebrações e festividades em homenagem aos Santos Mártires.
Santas e Santos brasileiros
- São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodrigues e São João de Castilho (mártires do Rio Grande do Sul).
- Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus (nascida na Itália).
- Santo Antônio de Sant'Ana Galvão (nascido no Brasil).
- São José de Anchieta (nascido na Espanha).
- Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu (ver lista acima).
- Santa Dulce dos Pobres (nascida no Brasil).