O que faria santa Dulce nestes tempos pandêmicos em que a angústia e o medo nos visitam? Certamente usaria máscaras e andaria com um potinho de álcool em gel pendurado pelo pescoço para continuar atendendo as pessoas. É assim que a imagino.
Por Karla Maria *
O Hospital Santo Antônio seria, dentro das regras da vigilância sanitária um espaço, acolhedor dos doentes, dos sem esperança. Fecho os olhos e posso vê-la, caminhando pela cidade Baixa e nestes tempos, com um celular na mão articulando doações e campanhas em prol dos seus pobres e doentes.
Por curiosidade, fui procurar o que sua sobrinha, Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce, escreveu sobre o que faria santa Dulce nestes tempos se viva estivesse, e a resposta não me surpreendeu. “Acolheria os famintos, os pacientes terminais, os idosos, na certeza de que o Amor cura. Enfim, a equação não poderia ser outra: oração, acompanhada da ação que brota do amor e do serviço ao próximo. Compaixão que passa ainda pelo respeito às orientações dos profissionais de saúde nesse período de pandemia”.
Passados sete meses desde que entramos oficialmente em um modo pandêmico de viver no Brasil, olhamos para trás e lamentamos mais de 135 mil mortes até o momento. Lamentamos também as vidas que estão sendo torturadas pela informalidade, pelo desemprego, pela fome. Atordoados, boquiabertos, lamentamos por nosso país ser liderado por autoridades que, desconectadas da realidade, nos conduzem por um grande caminho em chamas.
Andamos pelas ruas de São Paulo e o horizonte cinza, o cheiro de fumaça, nos recorda a Amazônia, o Pantanal. Vemos famílias inteiras, com crianças, morando em barracas nas ruas e outras tantas, mesmo em tempos de pandemia, serem despejadas por não poderem pagar aluguel. Pesquisas de antes da pandemia apontavam que no Brasil há mais de 220 mil pessoas em situação de rua. Imaginem no pós...
Falar dessas realidades é falar de Santa Dulce, desta baiana que em toda sua vida (1914-1992) foi sensível à dor do próximo e o acolheu, alimentou e afagou. Foi por esta sensibilidade, por seu trabalho diário de alimentar os mais pobres, que Dulce foi eleita carinhosamente santa pelo povo baiano antes mesmo de a Igreja o fazer em 13 de outubro de 2019.
Celebrar um ano de sua canonização, em tempos de pandemia, é renovar – naqueles que seguem Jesus Cristo – um compromisso real com os mais pobres. É despertar nos cidadãos e cidadãs o lugar de cada um na construção de uma sociedade de fato democrática que garante os direitos básicos a cada um dos seus.
Seguindo o exemplo de sua tia, Maria Rita, a superintende das Obras Sociais iniciadas por santa Dulce, lidera os esforços das Obras Sociais no combate à Covid-19 ao fazer parte de um ensaio clínico que estuda dois tipos de vacinas para a Covid-19: BNT162b1 e BNT162b2. “As Obras Sociais Irmã Dulce têm um longo histórico de mais de 20 anos no desenvolvimento e avaliação de vacinas, portanto é muito importante que possamos participar desse esforço de avaliar uma vacina promissora, incluindo a nossa população baiana, que tem grande diversidade e representatividade no Brasil”, afirma o médico infectologista e doutor em epidemiologia Edson Moreira, coordenador do Centro de Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce.
Oxalá a ciência nos ajude a sair da pandemia e o “milagre” do amor ao próximo, incentivado por santa Dulce, aconteça em cada um de nós e por todo este país.