No dia de São Mateus, o apóstolo e evangelista, peço licença para falar do Dia da Árvore.
Por Guilherme Antonio Werlang *
São Paulo escreve em outro contexto do que vou refletir, mas serve como referência bíblica, abrindo para a irmã natureza e as irmãs árvores e vegetação: “Alegrai-vos com os que se alegra, chorai com os que choram” (Rm12,15).
A natureza, plantas, aves, animais terrestres ou das águas, de toda espécie, e inclusive povos originários como os indígenas, ribeirinhos, povos das selvas ou pantaneiros , famílias que habitam os biomas amazônicos, cerrado e pantanal, há meses choram pela grande e inigualável destruição pelo fogo, chamas e fumaça. alguns focos podem ser de fenômenos naturais, mas a maioria é criminosa e em consequência dos desmatamentos ou avanços sobre a vegetação nativa para transformar tudo em pastagens ou lavouras, e Ministros ou Governantes do mais alto escalão, pouco se importando ou até negando a realidade que diariamente é confirmada por satélites, por habitantes desses biomas, por pesquisadores, ONGs, Igrejas e por quem vê a mãe natureza em chamas incontroláveis, transformando tudo em fumaça, pó e cinzas.
Onde o fogo ainda não chegou diretamente, as consequências já são sentidas pelo sol e a lua que já não brilham, encobertos que estão pelas fumaças; as chuvas ácidas e poluídas a espalhar venenos ao invés de regar e fecundar a terra, os aquíferos os rios e reservatórios de água que têm a missão de abastecer nossas cidades, de amigas se tornando inimigos a nos ameaçar e envenenar ao ter que usá-las.
Quem não chorar com a irmã árvore, em seu dia, quando queimada, morta e virada carvão, já não tendo como oferecer as flores da primavera, ... ser humano não é e, perdão pela palavra agressiva, mas viver também não tem direito.
Ou voltaremos a nos relacionar com as árvores, as plantas e vegetação toda, as águas e toda espécie de seres vivos como irmãos e irmãs na rede e cadeia da vida, ou caminharemos céleres para um suicídio global. É urgentíssimo mudar o olhar mercantilista e capitalista sobre a terra e tudo o que nela existe, para voltar a olhar com os olhos de Deus e ver na terra a casa comum e de direito igual à tudo o que nela existe, ou será irreversível a desertificação, a improdutividade, a vingança da natureza agredida, pelas chamas, pelos ciclones, tornados, enchentes arrasadoras, secas sem solução, mudanças cada vez maiores e drásticas dos climas, onde, como aconteceu há menos de um mês aqui na Serra Catarinense, que em menos de uma semana passamos da neve e temperaturas de 10 graus negativos para mais de 25 a 30 positivos.
Como seria belo se no dia da árvore, todos pudéssemos nos alegrar e festejar, com a natureza abrindo suas folhas novas, suas flores encantadoras, o gorjeio das aves felizes por construir seus ninhos para a reprodução, ou os peixes já se preparando com farta alimentação e engordando, para as piracemas daqui há um mês e pouco e o início da primavera de 2020 a começar amanhã de amanhã às 10h31 minutos.
Mas neste ano, até mudamos o que a Palavra de Deus nos diz no livro do Eclesiastes 3,1-8, onde diz que há um tempo para tudo, pois agora que seria o tempo para sorrir e se alegrar, mas nós o transformamos em tempo de chorar e morrer.
Para não ser catastrófico, nem apocalíptico, eu gostaria de ainda depositar um voto de confiança na inteligência, na razão, no bom senso, no instinto de sobrevivência e na capacidade de conversão do ser humano e crer que desse mal atual, poderemos aprender a lição de que a vida é mais forte que a morte, e novas políticas públicas serão tomadas, nova economia mundial poderá ser gestada e o fim ainda será possível de ser evitado.
Que nossas lágrimas e as lágrimas da mãe natureza, agora envolta em chamas e encoberta pela fumaça, fecundem o coração humano e este se sinta irmão fraterno e não fratricida.