Numa certa sexta-feira, destas que acompanham a pandemia da Covid-19, postei numa rede social a seguinte mensagem: “Se você já foi meu aluno, quero saber como você está”. O esperado, e o inesperado, aconteceram.
Por Nei Alberto Pies*
Explico a sexta-feira dos professores e professoras. Geralmente, é o dia que se avizinha ao merecido descanso. Os professores e professoras começam a relaxar e programar o final de semana, recarregando suas baterias fazendo atividades diferentes e curtindo suas famílias.
Mas agora, em tempos de pandemia, de isolamento social, de aulas sem a presença física de estudantes e professores, as sextas-feiras estão sendo chatas e desagradáveis porque remetem a avaliação de mais uma semana, sem as vivências de escola. As últimas semanas, sem as aulas presenciais, deixam um grande vácuo. A maior ansiedade e decepção dos professores é não ter condições de medir a aprendizagem dos estudantes. À distância, sem as verdadeiras trocas entre estudantes e professores, fica quase impossível saber ou medir as aprendizagens e os resultados pelos esforços empenhados. Aí, parece que o trabalho do professor, agora à distância, perde muito em sentido e valor.
Na última das sextas-feiras, quando postei mensagem acima anunciada, alguns estudantes se manifestaram dizendo que estavam bem, que estão trabalhando, cuidando da sua família, que tem saudades de minhas aulas, que as aulas eram instigantes e provocativas para o pensar.
Me lembraram, sobretudo, que é preciso pensar bem, para viver melhor, como ensinaram os sábios gregos. Que a filosofia foi uma matéria importante para ajudar a refletir as coisas importantes da vida.
Alguns escreveram também que o Ensino Religioso foi uma matéria que ajudou a cultivar o respeito das diferentes religiões, a partir do conhecimento das mesmas. Que, aprendendo os fundamentos de algumas religiões, fica mais fácil respeitar as religiões diferentes daquelas praticadas por cada um.
Inesperado
Mas o inesperado também estava lá. Um amigo, destes de rede social, postou seguinte mensagem: “eu não fui seu aluno, mas todos os dias aprendo bastante com o senhor aqui. Lhe considero também meu professor, mesmo nunca tendo frequentado suas aulas”.
Este comentário confirmou tese que há muito tempo vem me motivando a editar um site, publicar alguns vídeos e me manter ativo nas redes sociais. Penso que, como professor, posso e devo comunicar, a quem quiser conhecer e aprender, reflexões críticas e reflexivas que ajudem a gente a se humanizar.
Acredito que conhecimentos críticos e reflexivos podem nos ajudar a sermos “melhores seres humanos”.
Esta experiência de ensinar sem sala de aula me motiva muito nesta missão de educador. Educar transcende o ambiente escolar, pois envolve a dimensão humana de nunca ser, mas de sempre estarmos sendo sujeitos aprendentes. Educar vai além da escola, como único lugar de aprendizagens significativas. Educar significa entender que sempre é tempo de aprender e de ensinar e que não há idade e nem espaços físicos ou sociais determinados para as aprendizagens relevantes para vida da gente.
A mim, pessoalmente, alivia um pouco saber que estou educando fora das salas de aula, nestes tempos de isolamento físico e social. As salas de aula (presenciais ou virtuais) são importantes na vida dos estudantes e professores. Jamais podem ser substituídas porque permitem a relação direta, relacional e significativa entre estudantes e professores.
A gente compreender as relações de aprendizagem fora das escolas também é interessante e necessário. Acreditamos que a vida é o nosso palco. A escola, “um tempo de passagem” que deve ser interessante, empolgante e significativa para todos os que estão envolvidos nela.