No dia 29 de junho de 2020, depois de dois dias de deliberações virtuais, veio à luz a Conferência Eclesial da Amazônia.
Por Manuel Cubías *
“Com o coração agradecido ao Senhor e cheio de esperanças, iniciamos a Assembleia de constituição da Conferência Eclesial da Amazônia”. Com estas palavras, o cardeal Hummes iniciava o encontro.
A Assembleia de Constituição da Conferência Eclesial da Amazônia decorreu de maneira virtual. De vários pontos do planeta se reuniram o presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), dom Miguel Cabrejos, o presidente e o vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), cardeal Cláudio Hummes e Pedro Barreto e um bispo por cada país que partilha do território amazônico. Pelo Brasil houve dois representantes. Também participaram representantes da Cáritas da América Latina e Caribe, dom José Luis Azuaje, da CLAR, irmã Liliana Franco e da REPAM, Maurício Lopez. A estes também se juntaram três representantes dos povos originários, Patricia Gualinga, irmã Lara Vicuña e Delio Siticonatzi.
Pelas instâncias vaticanas, participaram pela secretaria do Sínodo dos Bispos, o cardeal Baldisseri, da Congregação para os Bispos, o cardeal Ouellet, da Congregação para a Evangelização dos Povos, o cardeal Luis Tagle e pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, o cardeal Czerny.
O MOMENTO FUNDACIONAL
O cardeal Cláudio Hummes declarou no momento de inauguração da Assembleia constitutiva, no dia 26 de junho, sexta-feira: “Esta Conferência faz parte dos novos caminhos que o Sínodo Especial dos Bispos para a Amazônia propôs. É nossa responsabilidade constituir essa Conferência, animados pelo nosso querido Papa Francisco. Ele mesmo sugeriu o nome”.
De sua parte, o cardeal Pedro Barreto, vice-presidente da REPAM deu as boas vindas ao novo organismo, afirmando “chegou o momento de dar graças a Deus porque foi criada a Conferência Eclesial da Amazônia, na qual a voz dos indígenas da região foi escutada.”.
O CAMINHO PERCORRIDO
O nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia deve ser situado na tradição colegial e sinodal das Igrejas da América Latina e Caribe. O CELAM tem mais de 75 anos de colaboração com as igrejas na evangelização do continente. A figura regional começou a ser forjada desde a Primeira Conferência do Episcopado Latino-americano no Rio de Janeiro, em 1955. De um grande valor são as Conferências do Episcopado realizadas em Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, nos seus desejos de incorporar o Concílio Vaticano II, e o magistério mais recente, nos processos locais de evangelização.
O padre Carlos María Galli afirma que a Conferência de Aparecida “antecipou-se na imaginação de novas formações eclesial regionais (DAp 182) e teve a visão profética de chamar e colaborar entre si às igrejas irmãs da Amazônia”.
“Criar nas Américas consciência sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade. Estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum” (DAp 475).
A Assembleia do Sínodo foi celebrada em Roma em outubro de 2019 e no Documento Final se sublinhou a urgência de abrir novos caminhos para a Igreja no território amazônico.
A celebração do Sínodo conseguiu destacar a integração da voz da Amazônia com a voz e o sentimento dos pastores participantes. Foi uma nova experiência de escuta para discernir a voz do Espírito Santo que conduz a Igreja a novos caminhos de presença, evangelização e diálogo intercultural na Amazônia. A afirmação, que surgiu no processo preparatório, de que a Igreja era aliada do mundo amazônico, foi fortemente confirmada. A celebração terminou com grande alegria e esperança de abraçar e praticar o novo paradigma da ecologia integral, o cuidado da “Casa Comum” e a defesa da Amazônia. (DF4).
ORGANISMO EPISCOPAL DE DIMENSÃO REGIONAL
As igrejas que compartilham o território amazônico, junto com o CELAM, a REPAM, a CLAR e as instâncias vaticanas, deliberaram para tornar realidade esta iniciativa que responde aos desejos expressos pelo Papa Francisco na Exortação Querida Amazônia, que nos convida e orienta a concretizar aquilo que foi discutido no Sínodo. “Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho, que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as pessoas de boa vontade” (QA 4).
Já o Documento Final do Sínodo Especial para a Amazônia, no seu número 115, anima com força e urgência a criação de uma instância que ofereça dinamismo e impulso à tarefa evangelizadora na Amazônia, território compartilhado por nove países e habitado por mais de 30 milhões de pessoas:
“Propomos criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as Igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora, incorporando especialmente a proposta da ecologia integral, fortalecendo assim a fisionomia da Igreja Amazônica.” (DF 115).
A Conferência nascente é antes de tudo eclesial, nela estão presentes as igrejas encarnadas nos territórios amazônicos. Esta pluralidade será um elemento enriquecedor da vida das igrejas locais que vivem a sinodalidade como busca da vontade de Deus, como espaços de discernimento a serviço da evangelização.
A Conferência nasce acolhida pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) que a subscreve à sua presidência e assegura sua autonomia funcional. A partir do CELAM esta Conferência desenvolve seus vínculos com as Conferências Episcopais e outras instâncias eclesiais.
De sua parte, a Conferência nascente assume as orientações do Papa Francisco para ajudar na inculturação plural e intercultural na região. Essa abordagem destaca duas orientações, segundo a Exortação Apostólica Querida Amazônia: A encarnação eclesial e ministerial (QA 85) e o desenvolvimento na Igreja da capacidade de “abrir estradas à audácia do Espírito, confiar e concretamente permitir o desenvolvimento duma cultura eclesial própria, marcadamente laical. Os desafios da Amazônia exigem da Igreja um esforço especial para conseguir uma presença capilar que só é possível com um incisivo protagonismo dos leigos” (QA 94).
Patrícia Gualinga, líder indígena, com muita esperança, diante do nascimento desta entidade declara: “A Igreja Católica necessita entender os Povos Indígenas, qual é o idioma que estão falando? Tratar de compreender que a iluminação do Espírito está nestas culturas, e que ali se encontra grande contribuição que vamos oferecer à humanidade como povos originários para que não seja destruída a criação, a Casa Comum, e isso é um compromisso que a Conferência deve começar a executar rapidamente, com profundidade, para o bem de toda a humanidade”.
O cardeal Cláudio Hummes foi eleito presidente da nova Conferência e dom David Martínez de Aguirre, vice-presidente. O primeiro recordou que o processo segue. Os documentos que concretizam a iniciativa serão apresentados às instâncias vaticanas e ao Papa Francisco para a sua aprovação.