A ganância invade as terras dos povos indígenas, das comunidades ribeirinhas e afro-brasileiras da região amazônica e de outros biomas.
Por Alfredo J. Gonçalves*
Não é a pobreza nem a fome, mas a gaância do lucro, que invade as terras dos povos indígenas, das comunidades ribeirinhas e afro-brasileiras da região amazônica e de outros biomas, com a finalidade de acumular capital sobre capital, criando no Brasil uma das pirâmides sociais mais assimétricas e desiguais do planeta;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que ano após ano vem aumentando a derrubada da floresta amazônica, devastando o território e condenando-o a uma desertificação progressiva, com a finalidade de multiplicar a criação de gado para o mercado externo, bem como a acumulação capitalista;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que sem trégua e sem escrúpulos contamina as águas dos rios, comprometendo a sobrevivência dos povos ribeirinhos, com um formigueiro de garimpeiros a serviço das grandes mineradoras, na busca frenética e desenfreada pelo metal raro e caro que pode enriquecer poucos em prejuízo de muitos;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que compromete a qualidade do ar e da vida, poluindo a atmosfera com o uso indiscriminado de insumos e agrotóxicos, algumas marcas já execradas e proibidas em outros países, tendo em vista o aumento da produção agrícola, de olho no mercado da economia globalizada;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que avança com velocidade cada vez maior sobre o interior da selva: com violência e morte, um exército de grileiros toma posse da terra como mercadoria, destruindo a médio e longo prazo, o equilíbrio do ecossistema, com o único objetivo de fazer crescer o valor da propriedade privada;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que se apossa do solo e subsolo, indiferentes à riqueza múltipla e plural da fauna e da flora, mas buscando unicamente um conceito de “viver bem” baseado no prazer do consumo aqui e agora, e em detrimento do “bem viver” que nos foi legado pelas populações pré-colombianas;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que coloca em risco o “pulmão do planeta”, uma vez que enquanto os pobres derrubam pequenas clareiras onde plantar alguns legumes para a mesa da própria família, os poderosos devastam milhares de hectares, sem a mínima preocupação com a preservação e o cuidado do meio ambiente;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que espalha a chama dos incêndios em gigantescas extensões da floresta para fins de exploração fundiária, promovendo inclusive o famigerado “dia do fogo”, em que uma onda de queimadas simultâneas foi deflagrada por ordem de interesses obscuros e escusos, o que em boa medida reflete uma política ambiental tíbia e tímida por parte das autoridades governamentais;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que deixa para as gerações futuras uma herança perversa de imensas áreas desertas, ar e águas impuras, crescentes desequilíbrios nos ecossistemas, ondas extremas de frio e calor, além da fúria de desastres naturais cada vez mais fortes e imprevisíveis – com isso obrigando milhões de pessoas à fuga e à errância como novos migrantes ou “refugiados climáticos”;
Não é a pobreza nem a fome, mas a ganância do lucro, que, através da queima de combustíveis fósseis – como carvão, gases e petróleo – vem jogando toneladas e toneladas de lixo e de gás carbônico na natureza e na atmosfera; mudos, surdos e cegos ao “grito da terra”, grito que tem levado os cientistas e os movimentos ambientalistas a alertarem sobre o risco do aquecimento global e suas danosas consequências.