Tempo de preparar o coração!

O Natal é vida, é festa! Preparemo-nos para viver a alegria do nascimento do Deus menino.

Presepio

Presépio na Casa Regional dos Missionários da Consolata, sede da Revista Missões. (Foto: Cleber Pires)

Por Ronaldo Lobo

'Dezembro é um mês que chega sorrindo, traz na bagagem muitas expectativas, ânimo tão esperado… Dezembro distribui perspectivas de novos rumos, de promessas, de encontros, de aconchegos’ diz uma poesia de Roseli de Abreu. Dezembro tornou-se um mês marcante na vida das pessoas. O mais aguardado, sendo o último mês do ano, carrega um ar de alívio. A liturgia, durante o mês de dezembro, se divide entre o Advento e a festa do Natal. Embora a preparação para festa tome a maior parte do mês, o mundo se preocupa com suas coisas. As pessoas esperam para celebrar as festas como: o Natal do Senhor, o réveillon, as férias e as viagens para visitar os familiares. Sem dúvida, a festa do Natal e o encontro familiar se sobressaem. No seio da família os membros se recolhem para celebrar o nascimento de Menino Jesus junto com todos os seus membros.

O tempo de Advento

A mensagem principal do tempo de Advento é a vinda do Senhor, seja ela a esperada ou a do final dos tempos. Portanto, vem o convite à conversão. Só podemos entender o espírito do Advento vendo a relação entre a esperança messiânica do Antigo Testamento e a expectativa cristã de Deus (que nasce como um ser humano) do Novo Testamento. O Messias esperado dos judeus e o encontro com Cristo, no fim dos tempos, estão dentro desta dinâmica. A oração inicial/coleta de um desses domingos de Advento coloca bem o seu sentido, ‘acorrer ao encontro do Cristo que vem’. Ecoavam junto, as palavras de João Batista no deserto “Preparai os caminhos do Senhor!” Este tempo, nos abre para a novidade e para nos perguntarmos, mais uma vez, o que é exatamente a conversão! De que devemos converter-nos?

Ao longo de cada semana do Advento, a liturgia nos apresenta belos textos para reflexão, que são curtos e acessíveis a todos, carregados de ensinamentos sobre a perspectiva cristã da vida e do mundo. Nesse tempo importante, como preparação, algumas pessoas ainda conseguem se reunir na sua família, no seu grupo de amigos, no salão social de prédios, nos bairros, nos grupos de família, para as novenas de Advento. Elas rezam com toda a simplicidade ao Verbo Divino, pedindo que Deus nasça nas suas vidas, nos seus corações e faça-as mais humanas. Com essa esperança que caminhamos para encontrá-Lo, quando vier o Messias. Sem dúvida nenhuma, não há nada melhor do que preparar o nascimento de Jesus em família e entre os amigos, lugar onde Jesus quer nascer e crescer.

As raízes da festa

A festa do Natal é tardia. Por volta do século IV encontramos os primeiros indícios dela, que se celebrava nas comunidades de Roma e no norte da Itália. As igrejas do Egito, Antioquia e Espanha, na mesma época, também celebravam a festa do Natal. Segundo a tradição, a data era duma festa pagã, culto à divindade do sol, ou seja, a festa do sol. A festa ocorria no solstício do inverno com celebrações solenes.

A sábia comunidade cristã iniciava seu processo de inculturação. Começando a festejar o nascimento de Cristo, o verdadeiro Sol que ilumina toda a criação, usando práticas e tradições de uma solenidade pagã. O cântico de Zacarias já aludia ao Jesus como sol nascente (Lc 1, 78). Assim, eles evitavam que os fiéis participassem das festas pagãs, tendo a oportunidade para celebrar uma festa nova e solene ao Cristo Sol! Mais tarde, o papa Leão Magno, daria a esta comemoração o seu verdadeiro fundamento teológico, o da encarnação. O Natal se tornava a celebração do mistério da encarnação, festa do Verbo que se tornou carne, segundo a fé da Igreja. Nascia, portanto, uma das grandes festividades da nossa religião. O tempo era maduro para declarar que Deus, através da vida e da palavra de Jesus, assumiu a própria história da humanidade! O presépio, pela primeira vez, foi criado por São Francisco de Assis (no ano de 1223), em uma gruta na cidade de Greccio. São Francisco, com uma encenação viva, queria que as pessoas compreendessem melhor a história do nascimento de Jesus! Esse ano o papa Francisco passou por lá para lembrar esse evento!

Sagrada Escritura

Os evangelhos da infância de Jesus nos dão uma bela reflexão para o tempo natalino. As duas ‘narrativas da infância’ são encontradas em Lucas (1-2) e Mateus (1-2). Durante este tempo especial, vale a pena lê-las de novo! Elas são ‘os evangelhos em miniatura’ escrevem John Dominic Crossan e Marcus Borg no livro ‘A Primeira Semana’. A comunidade de Lucas nos apresenta o mais extenso relato da infância cheia de detalhes, entre os lugares de Nazaré-Bélem-Nazaré e os narram de forma que nos encantam e arrepiam. Os dois relatos nos contam a vida inicial de Jesus, começando com a concepção virginal e terminando com sua chegada em Nazaré, junto com José e Maria. O relato relembra a família de Nazaré na pessoa de Maria e José, os pastores de Belém, suas atitudes de escuta, humildade, alegria, fé e de percepção dos sinais de Deus. Eles receberam o Deus encarnado no meio deles e abriram espaço para a salvação. Foram dignos de receber a ‘Boa Notícia’. Aqueles que se reúnem e se preparam para esta festa também devem imitar as atitudes destas personagens.

Os exegetas, por sua vez, compreenderam melhor a estreita relação entre simbolismo e história que perpassa todas as narrativas bíblicas, vindo a reconhecer o valor da leitura que a primeira comunidade cristã fazia de Jesus à luz do Antigo Testamento. O argumento central destes textos é o de que as narrativas da infância são veículos adequados da mensagem do Evangelho. De fato, cada uma delas é a história essencial do Evangelho em miniatura. Na piedade popular o apreço que os cristãos comuns têm por elas reflete em parte um sentimentalismo e também o fato de serem histórias bem contadas. Porém, em nível muito mais profundo, esse apreço reflete um verdadeiro instinto que reconhece nas narrativas da infância a essência da Boa-Nova, isto é, Deus se fez presente para nós de forma tão verdadeira na vida do Messias que caminhou nesta terra, o nascimento humano foi o nascimento do Filho de Deus.

O Natal e sua espiritualidade

A celebração natalina destaca o mistério da encarnação, comemora o fato onde Deus tornou-se uma pessoa humana, o Verbo se fez carne; ou seja, revive mais uma vez a verdade da fé cristã. É verdade que Deus entrou definitivamente na história humana pelo mistério da encarnação. Na nossa história individual, Ele ainda deve vir a cada um de nós. O cenário simbólico do Natal aponta aos caminhos da espiritualidade natalina neste sentido. Primeiramente, o Verbo Divino deve nascer em nós, no nosso pequeno mundo. A gruta de Belém é o nosso coração, abandonado, longe dos murmúrios dos viajantes, que abriga somente os animais. O casal, Maria e José são viandantes em direção desta gruta, procurando abrigo, onde o Verbo Divino deveria nascer. Neste centro dos sentimentos e paixões humanos, que ainda é, tão somente, um estábulo, Jesus quer nascer. Este é o local imperfeito que Deus escolhe para fazer a sua morada para salvar a humanidade. Assim prepare o presépio para o Natal, prepare o seu coração e prepare também a sua casa para receber o Menino Jesus neste Natal.

Ronaldo Lobo, svd, é Superior dos Verbitas, em Curitiba, PR.

Deixe uma resposta

dois × três =