Leitura da vida

Faz tempo que o mês de setembro foi escolhido como o mês da Bíblia, ora para divulgar mais a Sagrada Escritura, ora para homenagear São Jerônimo.

Por Ronaldo Lobo

Leitura da Vida BibliaA Bíblia é o livro mais vendido, traduzido, lido e quase todas as famílias cristãs têm uma em casa. Há um crescente interesse pelo estudo e retiros bíblicos no meio do povo. Muitas pessoas, não somente leem a Palavra de Deus, mas também, querem fazê-la ponto de referência indispensável para a sua vida. Ela continua sendo a normativa da vida espiritual, instrumento da vida pastoral, da catequese e da ação missionária da Igreja. Todo estudo e esforço deve nos levar em direção da colocação belíssima da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a este respeito e deve ser afixada em todas as nossas igrejas: ‘Se a leitura do texto bíblico não torna a pessoa mais humana, mais fraterna, mais capaz de construir um mundo melhor, há algo errado com o seu modo de ler. A leitura bíblica e a leitura da vida se completam e se influenciam mutuamente’.
Neste sentido, a Igreja Católica tem dado grandes passos. Faz tempo que o mês de setembro foi escolhido como o mês da Bíblia, ora para divulgar mais a Sagrada Escritura, ora para homenagear São Jerônimo. Foi ele quem fez a primeira tradução da Bíblia dos originais hebraico e grego para o latim. Com o passar do tempo tornou-se uma tradição que veio a se firmar. Neste mês a “Palavra de Deus” recebe uma homenagem de todos os seus leitores. Pena que tal prática desaparece noutros meses do ano, quase obrigando a Bíblia a ficar no seu canto!

O tema do mês
Em 2019, o mês da Bíblia tem como tema: O amor em defesa da vida. E como lema: Nós amamos porque Deus nos amou primeiro (1Jo 4, 19). O tema foi escolhido a partir da proposta pastoral do Documento de Aparecida para os anos 2012 a 2019: “ser Discípulos Missionários de Jesus Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida” A Primeira Carta de João, é uma das cartas católicas, escrita entre o fim do século I e início do II século d.C. A Carta é endereçada às igrejas que se encontram na Ásia Menor, em particular, aquela que se encontra em Éfeso. Nesta Carta, o autor procura corrigir os erros cometidos na comunidade, adverte-os e enumera os fundamentos cristãos a serem praticados. Mais ainda, ele combate as heresias propagadas por um grupo de opositores da comunidade, os quais são chamados falsos profetas e o anticristo. A tradição da Igreja, muitos padres (Irineu, Clemente, Policarpo, Justino, Papias), já atribuíram à autoria das cartas e do quarto evangelho a João, o filho de Zebedeu. Muitos grandes biblistas como Schnachenberg, Weiss e Holzmann são da opinião de que o autor da Carta é o mesmo do ‘Evangelho de João’.


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Importância hoje
A Primeira Carta de João tem muitas coisas para nos dizer. Parece que com o tempo, alguns membros da comunidade tinham optado por um entendimento mais avançado sobre a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. O fato gerou certo desconforto entre os membros até o ponto de uma ruptura. Para eles o conhecimento sobre Jesus era suficiente. A prática diária dos ensinamentos de Jesus não era necessária. Nessa epístola, João aborda essa perigosa disseminação de influências apóstatas dentro da sua comunidade. Aconselha os membros a não se associarem com as trevas, mas permanecerem em segurança na luz do Evangelho. A exortação (mais do que uma carta) contém um sólido conteúdo para o cristão de todos os tempos. O tema central é guardar os dois mandamentos apresentados pelo autor: crer no Messias Jesus, o Filho de Deus, que entrega sua vida por amor e amar o irmão, sobretudo, o mais necessitado. O segundo ponto mais importante é crer na encarnação de Jesus, que assume a nossa condição humana, menos o pecado. Somente em Deus encarnado os cristãos experimentam o verdadeiro Deus. Outro tema mais caro a João é preservar-nos do mundo, ou seja, tudo o que nos aliena do Deus Verdadeiro.
E como o mundo atual parece igual ao mundo da Primeira Carta de João! Quantos cristãos correm atrás das outras correntes de fé e das novidades? Como têm dificuldades em aceitar um Deus encarnado... Ou um Jesus histórico no carne e osso como incomoda muita gente? Como é falsa a vivência diária e prática religiosa de muitas pessoas? Pode ser que a Carta de João indique novos caminhos.

Para estudar mais...
Todos os anos, os biblistas no Brasil contribuem para que não falte material para a reflexão bíblica, principalmente durante o mês bíblico. Dá para ler a Carta em conjunto, chamar alguém para explicar um pouco melhor, organizar um curso bíblico na comunidade/paróquia, fazer um momento de oração durante o mês com textos da Carta que nos inspiram.
Não falta material para estudar este texto bíblico indicado pela CNBB. Tem o livro de Centro Bíblico Verbo, intitulado Jesus Cristo veio na carne e é de Deus (1Jo 4,2), preparado pela equipe de assessores do Centro. Há também um DVD da Verbo Filmes. A revista Vida Pastoral sempre traz uma bela reflexão (essa já se encontra nas livrarias Paulus). A Paulus publica roteiros da Bíblia Gente só com material do livro bíblico escolhido para o mês de setembro. Os roteiros são de graça e já vi circulando por aí nas paróquias. Melhor material para aqueles que têm círculos bíblicos ou grupos de família. As Paulinas prepararam mais um livreto com roteiros para o trabalho popular (Serviço da Animação Bíblica – SAB Paulinas). Mais ainda, as irmãs Paulinas organizam os cursos para ajudar os facilitadores nas livrarias. A CEBI/MG faz a sua contribuição com um livrinho popular que busca ser texto base para as comunidades. O biblista Frei Gilvander Luís Moreira está diante deste trabalho na região de Belo Horizonte. Outros autores que fizeram uma colaboração para aprofundar esta primeira Carta de João seriam Zuleica Silvano (Paulinas) e Luiz Alexandre Solano Rossi (org) pela Paulus.

* Ronaldo Lobo, SVD, é superior dos Verbitas, em Curitiba, PR.

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