Devemos, pois, atualizar a missão apostólica com nossas vidas e assim irmos ao encontro dos pobres e marginalizados, que são o próprio Jesus.
Por Fábio Pereira Feitosa*
O Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) é considerado uma das mais profundas e importantes reformas no interior da Igreja Católica, cujos impactos atingiram as mais diversas estruturas e segmentos desta instituição. Este evento também implicou no aprofundamento do diálogo com a modernidade, bem como na adoção de uma nova postura por parte da Igreja, a de serva do mundo, que por meio das diretrizes conciliares proclama a necessidade do estabelecimento de mudanças nas estruturas de um sistema gerador de profundas e seculares injustiças sociais.
Os ventos do espírito conciliar foram sentidos pelas mais diferentes partes do mundo, sobretudo na América Latina, principalmente pela realização da Conferência de Medellín. Neste continente, muitos membros da Igreja buscaram efetivar as diretrizes conciliares ao lutarem pelos Direitos Humanos, por inclusão social de grupos marginalizados, bem como na busca por justiça social e paz, enfim, inspirados pelo espírito conciliar se buscava tal como na canção de Zé Vicente: “um novo jeito de sermos Igreja” e de garantir o cumprimento do que Jesus havia dito: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:8).
Embora o espírito conciliar tenha inspirado e produzido muitos frutos, ele também foi combatido e como tal sofreu um arrefecimento, porém tal situação começou a ser revertida no ano de 2013 com a chegada do papa Francisco à Cátedra de São Pedro, mostrando assim quanto o Espírito Santo é dinâmico, criativo e age no momento em que ele considera oportuno.
Desde o seu primeiro momento, o Pontificado de Francisco entrou para a história, considerando as suas especificidades: primeiro sucessor de Pedro de origem latino-americana e primeiro papa a substituir um Pontífice ainda vivo. Outra novidade trazida por este papa foi a escolha de seu nome, considerando que este constitui-se em uma novidade no léxico papal.
Quando analisamos a figura de Francisco, percebemos nele um homem do diálogo, alguém impregnado pelo espírito conciliar, tais características são evidenciadas por sua simplicidade, sobriedade e pelo cuidado com os mais pobres e pelo desejo de uma Igreja em Saída, cuja fonte encontra-se no Mistério da Encarnação e que implica em uma Igreja marcada pelo dinamismo. O dinamismo da Igreja em Saída, como relembra o papa é algo presente e que perpassa a história da salvação: Abraão aceitou o chamado para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12, 1-3). Moisés ouviu o chamado de Deus: “Vai, eu te envio” (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3, 17). A Jeremias disse: “Irás aonde Eu te enviar” (Jr 1, 7). Naquele ide de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja.
Sermos Igreja em Saída implica em contemplar e viver de forma efetiva o Mistério da Encarnação: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). Ao habitar entre nós, Jesus viveu em uma realidade concreta, entre os pobres e optou por eles. Ser Igreja em Saída é contemplar tal mistério e continuar a missão que Jesus confiou aos seus discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16:15), devemos, pois, atualizar a missão apostólica com nossas vidas e assim irmos ao encontro dos pobres e marginalizados, que são o próprio Jesus (Mt 25:35-45) a nos esperar nas mais diferentes periferias.