Nós precisamos de jovens profetas. Os jovens são o presente, o que temos de atual, protagonistas do tempo.
Por Thulio Fonseca*
Muitos falam sobre a juventude; uns dizem que é uma fase transitória, outros que os jovens são os responsáveis pelo futuro, projetando neles um mundo que ainda nem existe, ou, ainda, julgam que são descompromissados e precisam amadurecer muito. Isso pode até ser real em algumas situações, pois o jovem de hoje, com certeza, será o adulto de amanhã, porém, se pararmos para pensar, o que temos de mais concreto é que jovens são o presente, são o que temos de mais atual, são os protagonistas do tempo que está cada vez mais acelerado e conectado, e isso se torna cada vez mais evidente.
A mais antiga Instituição do mundo, Igreja Católica, com cerca de dois mil anos de existência, percebeu que era necessário compreender a juventude, e se aprofundar neste tema sem receios. Direcionada pelo papa Francisco, convocou um sínodo, momento profundo de reunião e diálogo sobre um tema específico, para este mês de outubro. Bispos do mundo inteiro se reunirão em Roma para falar exclusivamente sobre: os jovens, a fé e o discernimento vocacional.
O próprio papa disse: “Os jovens devem ser levados a sério! Parece-me que estamos envolvidos por uma cultura que, se por um lado idolatra a juventude procurando nunca a fazer passar, por outro impede que muitos jovens sejam protagonistas. [...] O Sínodo será também um apelo dirigido à Igreja, para que redescubra um renovado dinamismo juvenil. [...] Nós precisamos de jovens profetas.” Percebemos que sua voz de Pastor ressalta uma visão ampla de um trabalho que a Igreja se dispôs a fazer nestes últimos tempos: ouvir os jovens e acreditar neles.
Eu fui convidado a estar num destes momentos tão importantes e históricos nesse trajeto que a Igreja vêm fazendo. Em março, deste ano, estive na reunião pré-sinodal em Roma, onde cerca de 300 jovens de todo o mundo, de diversas religiões e culturas, se reuniram para dizer de como gostariam de ser vistos pela Igreja.
Nos ofereceram durante uma semana inteira um ambiente muito favorável, onde pudemos dizer dos nossos anseios, medos, sonhos e ideais de um mundo melhor. Todas as vezes que me recordo dessa experiência, sinto, primeiramente, um acolhimento muito grande por parte da Santa Sé. Ali compreendi o quanto somos vistos e amados pela Igreja, que, de fato, se importa com a juventude, gasta tempo com os jovens e percebe neles uma oportunidade de diálogo e crescimento. Ali pudemos dizer tudo o que estava em nossos corações; ser jovens, tanto na hora de falar sério sobre nossas preocupações, quanto na hora de dançar e fazer festa. Ali eu compreendi: a Igreja é jovem, há jovens na Igreja, há vida, há esperança para a juventude.
E, partindo dessa experiência, destaco pontos muito importantes: o primeiro deles é o acolhimento à juventude, pois desejamos ser acolhidos como jovens. Queremos contribuir para um mundo melhor, e será nele que viveremos por longos anos. Destaco também a fé, e, neste ponto, é muito importante compreendermos que a juventude de hoje carece de uma atenção específica, pois precisa até mesmo de catequese, de uma compreensão verdadeira sobre Deus e seu Amor por nós. Não tenha medo de ajudar um jovem a se aprofundar na fé. Faça isso de forma criativa e generosa, pois o coração do jovem é sedento por conhecimento, é um terreno fértil para que o Evangelho se torne vida.
Ressalto o tema vocação, que é um tabu para muitos, pois acham que o assunto diz respeito somente a quem quer ser padre ou freira, e acabam se esquecendo que todos temos uma bela vocação a realizar neste mundo, uma vocação que foi dada por Deus e cabe a cada um vivê-la com alegria.
Posso dizer que os sorrisos que vi no rosto de muitos missionários me fizeram buscar o sentido do sorriso que eu também queria ter diariamente, e, nessa descoberta, encontrei também minha vocação, e fui muito bem orientado por pessoas que entenderam meus anseios e me levaram a compreender que a decisão era minha. Digo sem receio: nós jovens temos o coração muito aberto, e às vezes só precisamos que alguém nos ouça, nos entusiasme com coragem e acredite em nós, em nosso potencial de juventude.
Tenho certeza de que este grande trajeto Sinodal, de indicar à juventude um caminho de fé e discernimento, irá ajudar a muitos na caminhada constante para a descoberta de um verdadeiro sentido de vida e diálogo entre as gerações. Não há dúvidas que o papa e os bispos estão nos indicando a face jovem da Igreja, que não se aparta das realidades atuais e que promove o intercâmbio de ideais. Agora, cabe a cada um de nós assumir a responsabilidade e cooperar nesta bela trajetória de comunhão e responsabilidade com a juventude. Temos muitos jovens profetas espalhados nos mais diversos lugares, ouçamos então suas vozes e permitamos que seus sonhos também nos façam sonhar com um mundo melhor.