Percebendo que não podia mais se trabalhar com os pobres como costumava fazer em Buenos Aires, o então recém-eleito Papa Francisco encontrou outro "padre de rua" para atuar em seu lugar.
Por Carol Glatz
O cardeal designado é Konrad Krajewski, arcebispo da Esmolaria Apostólica.
Durante anos, este assistente polonês de São João Paulo II, e do Papa Bento XVI, percorreu as ruas de Roma oferecendo refeições e assistência, muitas vezes acompanhado por voluntários da Guarda Suíça.
"Meus braços foram encurtados", disse Francisco ao explicar por que o estava nomeando esmoleiro papal.
“Se pudermos fazer de meus braços mais longos com os teus, poderei tocar os pobres de Roma e da Itália. Eu não posso sair, mas você pode”, explicou o Papa.
Elevando-o ao Colégio dos Cardeais em 28 de junho, o Papa eleva a importância da Esmolaria Apostólica. Esta honra “é para os pobres e voluntários. Eu não posso aceitar nenhum crédito”, disse ao Vatican News o padre de 54 anos, no dia 20 de maio.
"Eu só fiz o que o Santo Padre queria", explicou, que era ser os olhos, ouvidos e mãos do Papa, procurando e oferecendo assistência direta aos necessitados, bem como conforto espiritual e orações. Toda manhã, ele lê pedidos de ajuda enviados pelo Papa com um comentário dizendo: "Você sabe o que deve fazer".
"E então eu tento pensar, o que Francisco faria se estivesse aqui?", disse ele à revista italiana, Il Mio Papa.
Como esmoleiro papal, o cardeal polonês distribui ajuda caritativa do Papa. Porém, ele elevou o trabalho a um nível totalmente novo, conseguindo um dormitório, chuveiros, uma barbearia e uma lavanderia perto do Vaticano para pessoas desabrigadas. Ele distribuiu 1.600 cartões telefônicos pré-pagos para refugiados que sobreviveram a uma viagem perigosa de barco até Lampedusa, para avisar suas famílias de que estavam em segurança. Ele também organizou excursões especiais para pessoas pobres e sem-teto aos Jardins do Vaticano, aos Museus do Vaticano e à Capela Sistina.
Receber o chapéu vermelho não deve fazer uma grande diferença em sua rotina diária, disse ele, ao Vatican Insider. Ele já tinha influência suficiente apenas sendo o esmoleiro do Papa. "Quando me dão doações para os pobres, confiam a mim porque confiam no Papa", falou o cardeal.
Krajewski afirmou que Francisco lhe disse para vender sua mesa quando foi contratado, pois seu trabalho não era esperar sentado, e sim sair à procura de pessoas necessitadas. O cardeal deu um passo adiante, abrindo seu apartamento por um tempo para uma família de refugiados sírios.
Segundo ele, Francisco o afirmou: "Você verá, eu te confiei a parte mais bonita de ser um padre”.
Nascido em Lodz, Polônia, em 25 de novembro de 1963, o cardeal designado estudou em seu país de origem e na Itália, onde se formou em Teologia e Liturgia Sagrada. Serviu como capelão de hospital em Roma antes de retornar a Lodz para ensinar Liturgia nos Seminários locais e se tornar prefeito do seminário diocesano.
Em 1998, ele retornou a Roma para trabalhar no escritório do Vaticano de celebrações litúrgicas e se tornar mestre de cerimônias litúrgicas de 1999 a 2013, quando podia ser visto ao lado de São João Paulo II e do Papa Bento, durante as missas Papais.
Ele foi nomeado arcebispo da Esmolaria Apostólica em agosto de 2013 e consagrado bispo no mês seguinte, adotando a palavra latina relativa a “misericórdia” como lema.
Disse aos jornalistas no final de novembro de 2013 que havia sido um dos quatro homens que vestiram São João Paulo depois de sua morte, em preparação para seu enterro.
“Talvez seja por isso que nunca me dediquei a rezar intensamente por sua beatificação, pois já havia começado a participar”, disse ele, falando de seu compatriota, a quem serviu durante sete anos.
Ex-esquiador recreativo e nadador na Polônia, o cardeal disse que também tentou imitar São João Paulo com uma forte vida de oração para estar perto de Deus. Ele celebra missa no túmulo do falecido Papa uma vez por semana, além de rezar o rosário e ouvir confissões todos os dias em uma Igreja próxima, dedicada à Divina Misericórdia.
Segundo ele, Francisco o aconselhou a nunca parar de ouvir confissões, porque isso também é uma espécie de esmola.
Apesar de estar sempre no meio de tudo - entregar comida ou sacos de dormir, visitar os enfermos e famílias em crise -, Krajewski disse que prefere ficar fora do radar e evitar entrevistas.
"Eu gostaria de ficar escondido, sem nenhum tumulto. A pobreza é algo sério, e não está lá para gerar publicidade", falou o cardeal à revista católica Famiglia Cristiana em 2014, explicando por que estava recusando um pedido de entrevista.
Mas o que ele não esconde é a sua fé. "É útil para a Igreja quando não escondemos Deus e O revelamos com nosso estilo de vida. Fazer o bem é contagioso”, ressaltou Krajewski.