Ecologia humana: a cegueira e a luz

Não adianta mais do mesmo, mais progresso, mais exploração ambiental, mais desenvolvimento se o modelo continuar o mesmo.

Por Vilmar Berna*

Sem dinheiro para comprar ou alugar a moradia em lugares melhores, a população 'fora do mercado', desempregada ou subempregada, é planejadamente 'empurrada' para as áreas 'fora do mercado', as chamadas áreas não edificantes, nas faixas marginais de proteção de rios, lagoas, nas áreas ambientais, nas encostas sob risco etc.

1_rocinha_aerial_pano_2014As áreas 'edificantes' são entregues pelo Estado ao mercado, destinadas a quem está no mercado e possui recursos para comprar e alugar bem. Então, mente quem acusa as populações de baixa renda de se colocarem em risco ou de invadirem áreas de proteção ambiental de propósito.

As comunidades de baixa renda não são o problema, mas solução diante de um modelo social e econômico que capitaliza lucros e socializa prejuízos.

Externalidades é apenas o outro nome de prejuízos, resultado de modelos socioeconômicos e ambientais que tem como principal objetivo gerar lucros crescentes e de preferência ilimitados.

É claro que a conta não fecha, pois são limitadas tanto a capacidade do planeta em ceder recursos ilimitadamente como de receber lixo poluição indefinidamente.

Estes modelos são cegos, mas não por que não consigam ver, mas por que não querem ver, por que o que ganham em sustentar a cegueira geral e coletiva vale a pena em seus lucros. Danem-se as externalidades!

E para assegurar que as leis ou os tribunais não venham criar problemas para o modelo, ou que a população se revolte, financiam campanhas políticas, corrompem, compram e manipulam os meios de comunicação de massa, investem em pesquisas manipuladas e manipuladoras.

A serviço desses modelos, o Estado deixa de ser uma organização de interesse público e passa a exercer o papel de Estado opressor. Os meios de comunicação se tornam os novos chicotes, masmorras e correntes de uma população escravizada por sonhos de consumo e pelo endividamento em suaves prestações que obriga a todos a trabalhar sem parar, como novos escravos de novos senhores, agora não mais visíveis do lado de fora, por que foram postos pelo lado de dentro.

A pobreza, a fome, a poluição ambiental, a falência dos poderes e das políticas públicas, o desemprego, o aumento da criminalidade, o crescimento das comunidades de baixa renda, são apenas externalidades deste modelo cego e injusto de desenvolvimento que usa o nome do interesse de todos para se apropriar do que é de todos, mas que no fim beneficia apenas a uns poucos.

Então, não adianta mais do mesmo, mais progresso, mais exploração Ambiental, mais desenvolvimento se o modelo continuar o mesmo. Apenas aprofundará a concentração das riquezas nas mãos de uns poucos e distribuirá mais pobreza, poluição e destruição ambiental para a maioria.

Claramente, o problema não é de polícia, é de política. A polícia, quando chamada para conter os revoltosos, não está mais a serviço dos cidadãos, mas de um Estado opressor, dominado e manipulado por assassinos socioeconômicos, que se ocultam por trás da cegueira coletiva.

Mas, até quando?! Faça-se a luz!

*Vilmar Berna é escritor e jornalista. Fundou a REBIA - Rede brasileira de Informação Ambiental. Edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.

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