Roda de Conversa sobre Direitos das Mulheres Trabalhadoras em Porto Alegre, traz depoimentos que emocionam.
Por Selvino Heck*
O Café com Direitos na Fundação Luterana de Diaconia (FLD) dia 24 de abril, Porto Alegre, deixou as dezenas de mulheres e os poucos homens presentes com a emoção à flor da pele e o coração inundado de esperança.
O tema da Roda de Conversa foi ‘Direitos das Mulheres Trabalhadoras’, nestes tempos de perda de direitos e de reformas contra o povo pobre e contra a democracia. Falaram mulheres do povo, lideranças que estão e sabem da luta cotidiana e coletiva, embalados pelos cantos, hinos e poesias de Sílvia Duarte e o violão de Mário Dutra, num clima místico, quase ou de oração, de sentimento solidário de unidade.
Eliane de Moura Martins, do MTD (Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos), mostrou como a luta do povo trabalhador ao longo dos séculos sempre foi dura, sempre escapando dos relhos, a vida inteira lutando por melhoria de vida, por direitos, conquistados na organização popular e no trabalho de base. “Nada nunca veio de graça. Por isso, o Congresso do Povo, em andamento e realização, é continuidade de um grande processo pedagógico das massas populares.” Diz a Cartilha de convocação do Congresso: “O Congresso deve ajudar a politizar a sociedade, a entender este momento político, desafia a identificar as saídas desta crise e as formas de se organizar para construir estas saídas, derrotando os golpistas e, sobre estes, construir um Projeto de Brasil” (Contato e informações: www.frentebrasilpopular.org.br).
Ernestina dos Santos Pereira, do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pelotas e da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, falou dos preconceitos que sofrem empregadas domésticas, em especial as diaristas, da sua luta por direitos nos últimos anos, muitos deles agora ameaçados.
Maria Tugira Cardoso, do Movimento Nacional das Catadoras de Material Reciclável (MNCR), de Uruguaiana, falou da dureza do cotidiano, de como cada dia é um dia difícil, mas que as catadoras e os catadores, com todas as dificuldades do mundo, se organizaram, tiveram conquistas e reconhecimento e são defensores da natureza e do meio ambiente.
Salete Carollo, do MST, contou das lutas ao longo do tempo, das ocupações e dos assentamentos. E contou do tripé orientador da história do MST: 1. Organização, fazendo os sem terras serem sujeitos de sua história; 2. Formação de base; 3. A luta, como na Fazenda Annoni e tantas outras ocupações de latifúndios e acampamentos na beira da estrada.
Na Roda de Conversa que se seguiu às falas iniciais, a coordenadora do Café com Debate, Pastora Cibele Kuss, e as mulheres presentes falaram, várias chorando, emocionadas, que a esperança, afinal, está viva, que, mesmo nos tempos atuais de dureza, dificuldades e retrocessos, há futuro.
Fiquei pensando, ouvindo emocionado os depoimentos e as reflexões, no que será ou deveria ser o próximo Primeiro de Maio no Brasil e no mundo, Lula preso, Marielle e Anderson assassinados – quem os assassinou? As comemorações do Primeiro de Maio serão históricas: todo mundo, milhares, centenas de milhares indo a Curitiba; em Porto Alegre será de manhã no Parque da Redenção, com celebração inter-religiosa a partir das 9h e ato com participação de todas as Centrais Sindicais O dia Primeiro de Maio é de todas/os as/os trabalhadoras/es, ainda mais este, com um trabalhador e sindicalista, injustamente preso, sem poder receber visitas, quase em solitária.
Como disse Salete Carollo, ‘o nosso prato diversificado, com verduras produzidas por nós, com carnes que podemos escolher, com alimentos orgânicos, não pode ser tirado de nós. Ele nos pertence, ele foi conquistado, assim como a escola que hoje podemos dar aos nossos filhos, a terra que nos sustenta, a vida que finalmente temos, com dignidade de mulheres e homens que têm direitos e são gente’.
A cada fala, Sílvia Duarte declamava um poema e terminava: MARIELLE PRESENTE, MARIELLE VIVE! A cada emoção, o violão cheio de sons de Mário Duarte, todo mundo: LULA LIVRE! Um abraço final, todas e todos, fez do final da tarde do dia 24 de abril o sinal vivo da esperança.