Ódio gratuito não é marca de nossa cidade

Eu sou gaúcho lá de Passo Fundo e trato todo mundo com maior respeito...

Por Nei Alberto Pies*

Manifestar-se contra a presença de alguém numa cidade é aceitável. Sentir-se incomodado com a presença física de uma pessoa é compreensível, haja vista que está em disputa, neste momento histórico do país, se Lula pode ou não pode continuar participando da política.

Disseminar e praticar ódio gratuito contra aqueles e aquelas que ainda o consideram uma liderança e um símbolo de lutas por mais igualdade e cidadania no Brasil, não é nada civilizatório, nem educado, nem faz parte da maioria deste povo ordeiro e trabalhador desta nossa amada cidade. Ainda são resquícios de uma cidade que transita entre ser provinciana e cosmopolita.

Former Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva attends a rally in Sao Leopoldo, Rio Grande do Sul state, Brazil March 23, 2018. REUTERS/Diego Vara

Grave mesmo é você usar de força física e bruta para impedir quem quer que seja no seu direito de ir e vir. O que não desejo para mim, não deveria desejar e praticar contra os outros. Grave é você desejar a
morte ou a eliminação física de alguém pelo simples fato de você não concordar com ele. Grave é você agredir fisicamente, por meios estúpidos e gratuitos, quem também exerce sua liberdade de opinião e
expressão. Grave é você exibir sua estupidez e violência e ser aplaudido por isso. Grave é quando as forças policiais agem tomando posição deliberada de não agir, não permitindo que os direitos de alguns sejam efetivados.

O fascismo deu seu ar de graça neste triste episódio, amplamente divulgado, onde produtores rurais - aqueles mesmos que afrontaram um juiz de nossa cidade com um porrete com a inscrição direitos humanos celebraram suposta marca pelo impedimento da Caravana de Lula em nossa cidade.

Este contexto fica ainda mais complexo na medida em que autoridades políticas, que nesta hora deveriam propor-se a mediações, fazem justamente o contrário, incitando o povo ao ódio e à intolerância.

Na esteira dos últimos acontecimentos, assistimos a episódios cada vez mais ilustrativos de que estamos vivendo no Brasil um Estado de Excessão, não o Estado Democrático de Direito. A execução da
vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, somada à eliminação física de outros tantos lutadores sociais nos demais estados do país, demonstra claramente que torna-se cada vez mais perigoso lutar e
defender DIREITOS HUMANOS no Brasil.

O povo gaúcho, também a população de Passo Fundo, RS, em maioria, aproveitará os episódios acima relatados para uma profunda reflexão sobre si mesmos. Constatará que ideias extremistas que pregam o ódio gratuito, a violência brutalizada, a eliminação física por causa de pensamentos divergentes, o uso das forças policiais para repressão aos que lutam por seus direitos sociais não são bem-vindos a esta terra que tanto exaltamos e amamos. Afirmará, ainda mais, os valores republicanos e cosmopolitas como a liberdade, a democracia, os direitos humanos (direitos de todos nós), a cidadania e a política no seu sentido mais amplo e irrestrito.

*Nei Alberto Pies, professor e escritor.

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