O papa Francisco desembarcou segunda-feira (15) na América Latina para o seu sexto giro na região.
Por Jean-Louis Buchet
Desde que assumiu o pontificado, há quatro anos, o papa visitou a maioria dos países de língua espanhola na América Latina. Desta vez, o chefe da Igreja Católica desembarcou no Chile e seguirá para o Peru. As duas nações se juntam à lista já composta por Equador, Bolívia, Paraguai, México, Colômbia e Cuba. Sem esquecer os vizinhos Brasil, ao sul, e Estados Unidos, ao norte.
O papa ainda não foi ao Uruguai e à Venezuela desde que foi eleito. Mas todos se questionam principalmente sobre a ausência repetida da Argentina em seus giros pela região. Até porque, ao deixar seu cargo de arcebispo de Buenos Aires, em 2013, Francisco prometeu “voltar em um mês” a seu país natal. No entanto, a terceira maior nação da América Latina, de maioria católica, vêm sendo sistematicamente excluída dos roteiros na região.
Analistas locais afirmam que uma das razões dessa ausência seria a imagem do papa, que teria se degradado em seu próprio país. Se Jorge Bergoglio contava com a unanimidade de seus compatriotas quando foi escolhido para substituir Bento 16, com o tempo essa situação mudou e Francisco passou a dividir opiniões em sua terra natal, principalmente por motivos políticos.
Frio com Macri e sorridente com sindicalistas
O papa é visto, principalmente pelos próximos do governo, como um simpatizante do peronismo, atualmente na oposição. Já aqueles que o apoiam e pedem que ele visite o país o fariam numa tentativa de beneficiar de sua imagem de potencial adversário do presidente de centro-direita Mauricio Macri, eleito em novembro de 2015.
Esse risco de instrumentalização surgiu por causa do engajamento político de Francisco, palpável por meio de mensagens que ele envia a seus compatriotas, ou ainda ao receber no Vaticano sindicalistas e líderes sociais. Alguns afirmam até que o comportamento do sumo pontífice mudaria em função do convidado: frio e distante durante os encontros oficiais com Macri, e sorridente e descontraído ao lado dos membros da oposição, principalmente peronistas. Alguns desses opositores, aliás, não perderam tempo e, ao voltarem de Roma, declararam que o papa os teria apoiado em suas críticas à política do atual governo.
Papa peronista?
O sumo pontífice nunca escondeu sua ligação com o peronismo, modelo que recusa a luta de classes, colocando os pobres e excluídos no centro do debate, e que inspirou a doutrina social do jesuíta. Porém, os que chamam Francisco de “papa peronista”, esquecem que, mesmo se ele atuou muito nos bairros pobres de Buenos Aires quando era arcebispo, o atual chefe da Igreja Católica sempre teve uma relação tensa com a ex-presidente Cristina Kirchner. Essa posição de Bergoglio não teria mudado. A única diferença é que, agora, sua mensagem tem mais peso e que alguns, entre eles os Kirchner e os líderes sociais, utilizam-na politicamente.
Diante dessa situação, Francisco teria preferido evitar seu país para não expor as divisões da Argentina sobre suas posições. Uma viagem nesse contexto poderia resultar em menos fieis para recebê-lo, multidões politizadas nas missas e críticas de parte da sociedade.
O governo argentino já assinalou que a falta de uma visita do papa ao seu país natal até o final do mandato de Macri, em dezembro de 2019, poderia ser interpretada como uma afronta.