Assim começa 2018. Como vai continuar? Como vai terminar?
Por Selvino Heck*
Para o bem ou para o mal, 2018 tem/dá todos os sinais de ser/tornar-se ‘O’ ano de nossas vidas. E não é porque se completam 50 anos desde 1968, o que já é extremamente significativo, quando, quatro anos depois do golpe de 1964, assassinaram de vez a democracia. E só houve de novo eleições diretas em 1989, 25 anos depois.
Para os mais antigos como eu, há outros anos com alguma semelhança: 1963, 1964, 1968, 1980, 1984, 1987, 1989. Para os mais novos, 2002, 2003, 2006, 2010. Mas talvez nenhum deles tenha o significado que vai/poderá ter 2018. Afinal, foram décadas de luta por um mínimo de democracia e soberania, que estão sendo enterradas não se sabe por quanto tempo, ou poderão ser (re)afirmadas em 2018, se houver eleições para presidente, com Lula podendo ser candidato, seguidas de Referendo das Reformas promovidas pelo governo golpista de plantão e, espero, de uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana.
Estou exagerando? Vejamos. 2017 não terminou nem vai terminar tão cedo, igual 1968, como Zuenir Ventura escreveu em ‘1968, o ano que não terminou’. Dia 24 de janeiro haverá o julgamento cheio de convicções, mas sem provas de Lula, o presidente mais popular que o Brasil já teve. Segundo todos os que entendem do assunto, será condenado pela segunda vez. Segundo alguns que entendem do assunto, poderá inclusive ser preso. Prepara-se/anuncia-se uma mobilização social/popular talvez jamais vista em Porto Alegre, nem quando houve o maior Fórum Social Mundial em 2005 ou as Diretas-Já em 1984. Em fevereiro, o governo golpista promete votar a Reforma da Previdência, contra todos e contra tudo.
Estes dois fatos/possibilidades demonstram a dramaticidade histórica que o Brasil atravessa. Imagina Lula condenado e, quem sabe, preso! O que abre caminho para a Reforma da Previdência. Não é alarmismo. A direita brasileira é capaz de tudo. Já viu-se isso mais de uma vez (vide 1954, 1956, 1961, 1964, 1968, 1985, 2017), na hora de preservar seus interesses e bilhões nos paraísos fiscais, Globos e RBSs à frente, Poder Judiciário, o pior Poder, e Sistema de Justiça elitistas e antidemocráticos – sempre livram ricos e poderosos, e encarceram pobres, prostitutas e trabalhadores -, funcionando como promotores e avalistas.
Os interesses dos trabalhadores e dos mais pobres estão em jogo, sendo pisoteados sem dó nem piedade. A riqueza nacional está sendo entregue – crime de lesa-pátria - e continuará sendo entregue ainda em maior velocidade, dependendo do que acontecer. A pobreza volta, o desemprego também, o Brasil retorna ao Mapa da Fome, a desigualdade cresce. Ou seja, a democracia, ou o que possa se chamar de arremedo de democracia, está/estará em perigo total.
Assim começa 2018. Como vai continuar? Como vai terminar?
Há também, e felizmente, o outro lado. A luta de classes está a pleno e estará cada dia mais a pleno. Nós de um lado, eles do outro. A sociedade estará mobilizada, começando pelos dias quentes de janeiro em Porto Alegre (em todos os sentidos; para quem não sabe, em janeiro, verão, costuma fazer 40 graus de puro calor em Porto Alegre) e no Brasil. O povo vai se levantar. Em 22, 23 e 24 de janeiro, Porto Alegre será cercada pelo povo, não pelas forças policiais e militares repressoras. E não será tão somente pelo direito de Lula ser candidato. Será por dignidade, será por direitos, será por democracia, será por futuro, será por esperança, será por e para ter uma pátria livre e soberana.
E o que mais está por acontecer nos primeiros meses do ano de 2018? As CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) realizarão em Londrina seu décimo quarto Encontro na segunda quinzena de janeiro. 3.300 lideranças sociais e agentes de pastorais populares vão discutir o Brasil e o mundo urbano, com o tema ‘As CEBs e o Mundo urbano – Eu vi, ouvi os Clamores do meu Povo e desci para libertá-lo’ (Êxodo 3, 7). Milhares de romeiros se encontrarão na terça de carnaval, 13 de fevereiro, em Mampituba, Rio Grande do Sul, na 41ª. Romaria da Terra, com o tema MULHERES, TERRA, Resistência, Cuidado e Diversidade.
A Campanha da Fraternidade/2018, a ser lançada na quarta-feira de cinzas, 14 de fevereiro, discutirá nas comunidades e famílias de todo Brasil o tema ‘FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA – Vós sois todos irmãos’ (Mt 23,8). O Fórum Social Mundial/2018 – ‘Um outro mundo possível’ – acontecerá em Salvador, Bahia, Nordeste, de 13 a 17 de março, neste contexto talvez o maior Fórum da história. Tudo isso está marcado e acontecerá antes do final de março. Em outubro, haverá eleições, que não poderão deixar de ser programáticas: os que querem, lutam e defendem a democracia, os que querem um Brasil com justiça e igualdade, contra os golpistas defensores do grande capital.
A escolha é de que lado ficar. A elite brasileira continua escravocrata. Está na sua alma, no seu DNA. Basta ler ‘A Elite do Atraso’, de Jessé Souza, e ‘Raízes do Conservadorismo brasileiro – A Abolição na Imprensa e no Imaginário do Brasil’, de Juremir Machado da Silva. Ou lembrar do golpe de 1964 e do assassinato da democracia em 1968, do golpe em 2016 e do assassinato da democracia em 2017.
Neste momento histórico, mais que nunca colocam-se/impõem-se a urgência e necessidade da máxima unidade entre democratas, socialistas, comunistas, gente de todos os credos e etnias, todos aqueles e todas aquelas que desejam/constroem um futuro de paz, um tempo de justiça, finalmente a igualdade neste país, nesta Nação chamada Brasil. É preciso e vão ser instalados Comitês Populares pela
Democracia em cada recanto, município e comunidade. Não se derrota a elite conservadora, escravocrata, patrimonialista, antidemocrata, antipatriótica sem unidade de forças, sem unidade de luta e a mais ampla mobilização social que este país já viu. Assim, 2018 será ‘O’ ano de nossas vidas, para nunca mais ser esquecido.
É bom preparar-se para não ir dormir. Para ir para a desobediência civil. Para ir para a rua o ano inteiro, manhã, tarde, noite, madrugada. Para juntar vozes, braços, esperança, futuro.
E meu bordão de 2018: SEM MEDO DE SER FELIZ!