O tempo litúrgico do advento, que inicia neste domingo, direciona o olhar dos cristãos para o Natal, isto é, para mistério da encarnação.
Por Dom Rodolfo Luís Weber*
“Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele” (Lc 4,20). Foi esta a reação das pessoas diante da pregação de Jesus, em Nazaré da Galileia. O tempo litúrgico do advento, que inicia neste domingo, direciona o olhar dos cristãos para o Natal, isto é, para mistério da encarnação. Fixar o olhar no Natal direciona nossas preocupações, escolhas e ações para o mais importante, pois não faltam convites e tentações que afastam do acontecimento central. A liturgia da Igreja ajuda a manter o foco no central.
O salvador nosso, Jesus Cristo, se encarnou para todas as gerações. Neste sentido preparar o Natal é dispor-se a acolher, no tempo presente, no hoje, aquele que vem. Surpreender-se sempre de novo com o modo que Deus escolheu para aproximar-se dos humanos. Aproximar-se do menino Deus e colocar-se no seu caminho.
É tempo de alegre espera. Quem vem vindo é o Salvador. A espera já é a antecipação. A vigilância é movimento que tira da indiferença e desafia a aprofundar o mistério a ser celebrado.
A liturgia no tempo do advento e depois do tempo do natal celebra uma riqueza de fatos e ressalta várias qualidades do menino Deus que vem. Na noite de Natal recordamos o anúncio dos anjos aos pastores. “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado! ” (Lc2, 14). Diante dos índices alarmantes de violência no país e no mundo, a Igreja Católica está convidando seus fiéis e todas as pessoas de boa vontade para serem construtores da paz. Em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade de 2018, o regional Sul 3 da CNBB, em seus encontros de preparação para o Natal propõe o tema: “Paz na terra”.
É tempo de construir a paz. Para quem já acompanhou a construção de uma casa, sabe muito bem que construir é um processo complexo. A paz é construção. Como se diz popularmente, “não cai pronta do céu” e nem é feita por um herói e, muito menos, com a força bruta das armas e da repressão. A “paz depende da comunhão com Deus, consigo mesmo e com o próximo”, escreveu Santo Agostinho (354+430) no seu livro “Cidade de Deus”. As pessoas de fé cultivam constantemente a comunhão com Deus. Um Deus de ternura e de paz que se aproxima da humanidade na fragilidade de uma criança. Os anjos anunciam a paz aos homens, porque eles agradam a Deus, mesmo com seus pecados.
Como a paz é comunhão com o próximo, os mais próximos, são as pessoas da casa. Cotidianamente apresentam-se novas situações e muitos problemas são imprevisíveis como os temporais. Durante o temporal, não há condições para construir, apenas há tempo para se proteger e evitar uma tragédia maior. É construir a “casa sobre a rocha” (Mt 7, 24) em tempos de calmaria. Os pequenos gestos de cordialidade, o olhar carinhoso, o cumprimento, o sorriso, o beijo, o abraço qualificam as relações. A preparação para o Natal é tempo oportuno para colocar a minha família diante de Deus, agradecer por tudo que edifica a paz e, ao mesmo tempo, assumir e corrigir o que for necessário.
Todos vivemos em ambientes para além da casa, seja no trabalho, no grupo de amigos, na Igreja, na vizinhança, no bairro, no país e no mundo todo. É preciso estar atento ao individualismo que faz pensar demais em si mesmo e de menos nos outros. Pensar nos outros, é assumir corresponsavelmente a construção da paz, isto envolve atitudes éticas da promoção da justiça, da verdade, da tolerância, da fraternidade e da caridade.
“Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de ti!”, canta uma bela canção de advento, pois ao mundo falta paz, amor e vida.