O poder não sobe à cabeça

Em Cuba, o Estado existe para o bem do povo, não só cubano, mas latino-americano, brasileiro, africano e quem mais precisar.

Por Selvino Heck*

“Cuba enviou médicos para várias ilhas caribenhas devastadas pelo furacão Irma. Mais de 750 profissionais de saúde cubanos chegaram em Antígua, Barbados, São Cristóvão, Nevis, Santa Lucia, Bahamas, República Dominicana, Haiti. Eles devem seguir as orientações do Ministério da Saúde Pública e contribuir para a recuperação das regiões atingidas. A nação de 11 milhões de pessoas tem uma história de envio de pessoal médico quando outras nações estão em necessidade, tendo agido assim durante a crise do ebola na África Ocidental em 2014 e 2015. Eles também enviaram 1200 homens e mulheres para o Haiti depois que o país foi atingido por um terremoto em 2010. E contribuíram decisivamente no Programa Mais Médicos do governo do Brasil.”

cubaurugiaFRENTE AMPLA DIVULGA NOTA QUE DEVE INSPIRAR A ESQUERDA EM TODO MUNDO, diz a manchete, sobre a decisão tomada de renúncia, depois que foi descoberto que o vice-presidente da República, Raul Sendic, usou cartão corporativo do governo para gastos pessoais. Diz a nota da Frente Ampla uruguaia: “Fazer um chamado a todos os companheiras e todas as companheiras frenteamplistas em cumprimento de funções de governo ou parlamentares ou delegados em nome da Frente Ampla, a serem zelosos guardiães e atentos vigilantes em nossa função; zerar fielmente pela unidade, integridade e os valores, a transparência, a honestidade e ética em nossa gestão, que nos legou nosso povo e que nos formaram figuras do tamanho do Gal. Seregni, Crottoggini e Gal. Ricardo, entre outros. A larga caminhada da construção e fortalecimento da unidade não foi nem será fácil, porém, em favor da pública felicidade do nosso povo, bem vale a pena transitá-lo.”

Duas notícias, dois exemplos, duas atitudes, nestes tempos tão difíceis e turbulentos. Em dois pequenos países do continente latino-americano. Uma Ilha que resiste e um outro pequeno país vizinho do Brasil.
Disse o presidente de Cuba, Raul Castro, 72 horas depois após o furacão passar por Cuba: “Um princípio se mantém inamovível: a Revolução não deixará nenhuma família abandonada à sua própria sorte.” (Lembrando que no Brasil, depois de anos depois da tragédia da empresa Samarco em Minas Gerais, as famílias atingidas continuam esperando por indenizações, enquanto uma advogada ganhou uma indenização milionária.) Ou seja, em Cuba a população, homens e mulheres, está em primeiro lugar e nunca pode ser desamparada. O Estado existe para o bem do povo, não só cubano, mas latino-americano, brasileiro, africano e quem mais precisar.

A política, a boa política, não é para se servir dela, mas para servir aos cidadãos e às cidadãs. No caso do vice-presidente uruguaio não se está falando de milhões desviados ou de corrupção aberta e deslavada. Está-se falando do mau uso de cartões corporativos, tema e denúncia que, aliás, também já apareceram mais de uma vez no Brasil, em diferentes governos.

O poder não pode subir à cabeça. Desde o trivial bom ou mau uso do carro oficial, do desvio de assessores para fins particulares, até as relações com empresas, o enriquecimento ilícito, o desvio dos recursos públicos em benefício particular ou de grupos empresariais.Simples assim, ou simples assim deveria ser.

Escrevi em 2015, quando do passamento do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano, em ETERNO GALEANO. “O Uruguai, este ‘paisinho’ de poucos milhões de habitantes, este hermanito que nos deu Pepe Mujica, Lúcia Topolansky (a guerrilheira e senadora que agora assumiu a vice-presidência do Uruguai), os Tupas, Juan Carlos Onetti, Mario Benedetti, tantos escritores, lutadores, revolucionários, e um belo futebol, segue sendo referência. Continuaremos lutando, eterno Eduardo Galeano, para que as veias onde corre nosso sangue alimentem nosso próprio corpo, nossas pátrias e nosso continente, onde pulsam nossos corações de fé, nossas mentes pensam o mundo, onde nossos pés fazem gols e história, sejam do seu povo. A utopia é nosso ponto de partida e nosso ponto de chegada. O horizonte está lá longe, mas a gente o perseguirá sempre, passo a passo, até a eternidade.”

(Este artigo estava quase todo escrito quando apareceram as últimas denúncias sobre e contra o governo golpista que usurpou o poder, o dinheiro público e a decência no Brasil, e está acabando com a democracia e os direitos dos pobres. Os podres poderes tomaram conta do Brasil. Até quando?)

*Selvino Heck é deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

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