Missão em Moçambique

Entre os dias 11 e 20 de julho estive em Momba, Moçambique. Lá, a CNBB Sul 3 mantém uma missão com a Igreja irmã de Nampula, capital da província.

Por dom Adilson Pedro Busin*

Entre os dias 11 e 20 de julho estive em Momba, Moçambique. Lá, a CNBB Sul 3 mantém uma missão com a Igreja irmã de Nampula, capital da província. A malária é preocupação da população e dos missionários que lá trabalham. A precariedade das estradas, a falta de acesso a bons hospitais, acesso a luz, saneamento etc. são outras dificuldades que se somam.

Mas há muita coisa boa e bonita. As pessoas, em primeiro lugar. Gente humilde e que vive do hoje para o hoje, com alegria de uma acolhida encantadora. Acolher bem é um compromisso comunitário. Um banho de humanidade e alegria. Todos esperam a saudação de quem chega. Colocam-se em filas para estender a mão. O canto é sua expressão. E todos cantam. Os tambores simples, artesanais e até rudimentares dão o tom e o ritmo que só os africanos sabem fazer. É genético! Nas missas é assim também. Os jovens puxam, e a comunidade se envolve. E quando se vê, passaram-se duas horas e meia ou três horas. Uma liturgia envolvente e que não cansa. A manhã toda é para missa. É um povo dono do tempo. E eles se despertam cedo.

mocambique2Quatro ou cinco da manhã estão nas estradas, indo para as chácaras (machambas), buscando água, lenha, varrendo os pátios das pequenas casas cobertas de capim. Tudo antes do calor do dia. É uma sabedoria deste povo. Os caminhos são povoados de mulheres, crianças, jovens e homens. Isso chama a atenção de quem chega. As mulheres carregam os filhos, buscam água, vão para a roça, providenciam os alimentos. Fortes essas mulheres! Desde criança, são introduzidas a esse ritmo. As estradas ou suas beiradas são o palco desses povoados do interior. É gente que vai e vem. Mas, na cidade (conheci Nampula), não é tão diferente.

É um povo caminheiro e, por isso, sadio. Todos esbeltos e, dizem, com raros índices de problemas cardíacos. A alimentação é da agricultura de subsistência, e tudo ainda é orgânico: mandioca, amendoim, batatas, arroz, feijão, abóboras, cana-de-açúcar, mamão, mangas, caju e rebanhos de cabras. A Igreja sobreviveu a guerras e perseguições. Por anos, os leigos foram o sustento da catequese e das comunidades.

A Bíblia na língua local (Macua) é algo que os identifica. Hoje, permanece esse valor dos ministérios leigos. A equipe missionária é presença e apoio junto às comunidades longínquas. Os líderes conseguem dar um sentido de Igreja de comunhão, com decisões colegiadas e participativas. Gostei de ver este testemunho. A simplicidade e os poucos recursos não impedem de ser uma Igreja viva, fiel e alegre.

Há muitos muçulmanos naquela região que convivem bem com os cristãos, que são minoria. Senti-me edificado por cristãos tão simples, pobres, mas que têm posição e dão testemunho de fé e de dedicação à Igreja que amam. Estão surgindo boas vocações. As crianças... Ah, as crianças! Jesus diz que no "Reino dos Céus só entra quem se fizer como crianças". Pude ler naquelas meninas e meninos, cristãos e muçulmanos, que saúdam com timidez, mas com candura e confiança como se já me conhecessem há tempo. Nas ruas ou à beira da estrada, ao passar a caminhonete da missão, correm para gritar "patri" (padre) com a maior alegria. Abanam e lançam um sorriso que só os inocentes podem dar. Coisas da missão. Coisas de Deus.

Só posso dizer obrigado! Uma chuva de bênçãos que Deus me deu naquelas pessoas.

*Dom Adilson Pedro Busin é bispo auxiliar de Porto Alegre.

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