Especialistas e estudiosos da educação levantam uma série de críticas e ponderações sobre a implantação de um novo Ensino Médio no Brasil.
Por Nei Alberto Pies*
Quando filosofia e sociologia voltaram ao currículo das escolas de ensino médio, em 2007, escrevi e publiquei artigo com o título: Filosofia e sociologia: bem-vindas. Agora, passados 10 anos, o governo federal aprova uma famigerada e controversa Reforma do Ensino Médio que, dentre outras coisas, preconiza que estudantes façam escolhas do seu currículo para sua formação.
Estabelece-se um dos conflitos mais significativos neste contexto contemporâneo entre o conhecimento e a ignorância. Disciplinas como História, Filosofia, Sociologia, dentre outras, deixarão de ser obrigatórias e de livre escolha dos estudantes, em função do currículo em que optarem estudar.
Especialistas e estudiosos da educação levantam uma série de críticas e ponderações sobre a implantação de um novo Ensino Médio no Brasil. Para além da falta de infraestrutura nas escolas para implantar turno integral e aumento de horas aula, a falta de valorização dos educadores, a falta de qualificação dos professores e gestores (não houve tempo e nem interesse do governo federal em discutir a matéria), há também fortes críticas sobre a suposta maturidade dos jovens estudantes na escolha de suas disciplinas preferenciais em função de sua pretendida formação profissional.
Há, contudo, forte crítica que aponta a escola pública de Ensino Médio como escola para os pobres e trabalhadores (sem chances de cursarem faculdade), enquanto as escolas privadas continuariam preparando jovens estudantes de classe média e alta para o ensino superior. A maioria dos especialistas da educação, estudiosos, gestores, professores e professoras concordam de que são necessárias mudanças no Ensino Médio no Brasil.
O Ensino Médio hoje é uma etapa da formação de jovens que nem sempre dialoga com suas perspectivas de futuro e com suas necessidades. Agora, propor uma mudança na educação considerada pelo Ministro da Educação “a mais estrutural das últimas décadas” sem dialogar com os sujeitos que fazem a educação só poderá significar a construção da ignorância.
Por outro lado, construir um currículo em que as disciplinas que dão aos estudantes uma forma mais ampla para que ele possa entender o mundo para identificar como poderá interferir nele (História, Filosofia, Sociologia, Geografia) passam a ser optativas significa projetar uma educação cuja função principal será a “alienação” dos sujeitos aprendentes.
Muito antes de escolher sua profissão, o jovem estudante deveria ter o direito de conhecer o mundo do trabalho e as oportunidades profissionais que o mesmo poderá buscar para si. Deveria, também, ter o direito de direcionar os seus estudos a partir de suas habilidades e necessidades, sem abrir mão dos conhecimentos universais e fundantes da nossa civilização.
Não podemos abrir mão dos conteúdos básicos da formação da cidadania em troca de uma formação profissional incipiente, incompleta e enganadora, como será o Novo Ensino Médio no Brasil. Como afirma Flávio Tavares, “expedir certificados de conclusão de curso ou diplomas não é educar, mas mistificar, transformando o ensino em supermercado e enganando a sociedade”.