Tudo é possível neste ano, ou no próximo período. Pode não haver eleições em 2018. Pode até haver uma intervenção militar.
Por Selvino Heck*
“Tudo é possível em 2017 ou no próximo período. Pode não haver eleições em 2018. Pode até haver uma intervenção militar. Como também podem surgir oportunidades. Mas é certo que não se resolve a crise só com processos eleitorais. Reconstruir o campo de esquerda só com eleições é insuficiente, senão impossível. É preciso uma Frente Ampla da Democracia que vá além do campo da esquerda. É um processo de médio e longo prazo.”
A análise acima foi feita por José Antônio Moroni, do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e ABONG (Associação Brasileia de ONGs), numa reunião do CEAAL (Movimento de Educadores e Educadoras Populares da América Latina) no CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), durante o Fórum Social das Resistências, há menos de um mês, em Porto Alegre. De lá para cá, quanta coisa já aconteceu, até sinais de uma eventual intervenção militar. O Exército está nas ruas no Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os fatos dos dois Estados não são isolados. São parte do que está acontecendo e podem alastrar-se pelo Brasil.
Sou daqueles sempre cheio de esperança. Quem lê meus artigos, escritos e poemas ao longo do tempo, sabe disso. Mas confesso que, no quadro atual da história, está difícil: no Brasil, na América Latina, nos EUA, no mundo. Mais no Brasil. Os fatos e acontecimentos sobrepõem-se no cotidiano. E com enorme velocidade. Como diz a gurizada, ‘tá tudo dominado’: pensamento, valores, mídia, Judiciário, corrupção, governo golpista, ameaças diárias à democracia.
Os fatos positivos não conseguem afirmar-se, ou acabam derrotados, ou não conseguem resposta positiva, como as manifestações de rua, as greves, mesmo que longas, como a dos municipários de Florianópolis, os próprios movimentos dos policiais militares e os do funcionalismo público, as mobilizações e lutas dos movimentos de moradia, como agora em São Paulo, as Frentes.
O que esperar, então de 2017? Escrevo em dezessete de fevereiro, período que, normalmente, é de férias, descanso, quase nada acontece, a não ser o aumento de mortes na estrada, alguns temporais aqui e acolá. As pessoas costumam começar a pensar na vida, no ano que está começando depois do carnaval.
Não é o caso de e em 2017.
Enquanto isso, a crise econômica e social agrava-se rapidamente. No Rio Grande do Sul, o retorno de pessoas e famílias ao Bolsa Família teve um crescimento de seis vezes em 2016. 24,3 mil voltaram a pedir o benefício, 520 mil famílias em todo Brasil, Bolsa Família que garante apenas o mínimo básico para comer e sobreviver. Ao mesmo tempo, cresce o desemprego e as vendas no comércio tiveram o pior resultado em 16 anos, com queda de 6,2% em 2016. Foi o pior Natal, em termos de comércio, de todos os tempos (Zero Hora, 15.02.17, capa e p. 11). A atividade econômica recuou 4,5% em 2016, segundo o Banco Central. O golpe elevou a pobreza para quase 9% em 2016, podendo chegar a 10% em 2017 (FSP, 16.02.17).
A crise política, econômica e social se agrava. Basta ver nas ruas, basta ver as filas de busca de emprego. Mas sem ilusões. Não se pode entrar naquela do ‘quanto pior, melhor’. Quanto pior, pior. A lei da selva já começa a imperar. Vide o Espírito Santo, quando ‘pessoas de bem’, populares aproveitaram a situação e entraram na onda dos saques a supermercados e lojas. E saíram levando tudo, ainda que alguns tenham se arrependido em seguida e começado a devolver o que tinham roubado. Miséria não traz consciência e transformação, disposição de luta e organização, sabemos há muito. Traz necessidade de sobrevivência, de comer em primeiro lugar.
2017 será um ano muito difícil e é impossível saber como vai acabar. Uma Frente Ampla da Democracia é uma necessidade que se coloca na conjuntura. Assim como a urgência das lutas, das mobilizações, da resistência, no imediato e na conjuntura. Mas sabendo que a reconstrução do Brasil, da democracia, de políticas públicas e sociais com participação popular e de um país soberano, de uma Nação dona de seu nariz, é trabalho de médio e longo prazo. Aliás, como já aconteceu outras vezes na história brasileira.
Não há outra coisa a fazer, senão recomeçar o Brasil, de alguma forma, em 2017.