Que neste ano de 2017 sejamos portadores da mensagem de paz e de esperança anunciada por Dom Helder Câmara.
Por Geovane Saraiva*
Dom Helder, nascido e talhado para as coisas elevadas, era possuidor de uma força inabalável, com muita alegria e esperança no coração, totalmente convertido à grande tarefa de levar adiante a missão de Jesus de Nazaré, preciosa e maravilhosa utopia do reino de Deus. Indignado, não achou normal e natural a miséria humana, porque ela fere o rosto e o coração de Deus e contraria seu projeto: o de filhos de Deus, irmãos uns dos outros. Decide, com muita obstinação, derrotá-la, com a mesma ternura do Bom Pastor, assumindo-a em seu nome, com muita paixão, firmeza e voz profética.
Que neste ano de 2017 sejamos portadores da mensagem de paz e de esperança anunciada por Dom Helder Câmara, que, ao assumir a função de Arcebispo de Olinda e Recife em abril de 1964, afirmou, de um modo terno e afável, com todas as letras: “Quem estiver sofrendo, no corpo e na alma; quem, pobre ou rico, estiver desesperado, terá lugar especial no coração do bispo”[1].
A vida do Pastor dos Empobrecidos é comparada a uma mina de ouro, no sentido de ser sempre e cada vez mais explorada. Constatamos que essa vida é um dom maravilhoso de Deus, de uma beleza incomparável, pelos gestos raríssimos e diferenciados, fazendo gestar e conceber a dignidade dos filhos de Deus nos empobrecidos e sofredores de toda natureza: os “sem voz e sem vez”.
Urge uma grande empatia e encantamento pelo reino de Deus, proposta do Salvador da humanidade, tão vivamente anunciada pelo Artesão da Paz. Precisamos sempre mais nos convencer do vigor transformador do reino, na sua beleza e preciosidade (cf. Mt 13, 24-47). É nele que encontramos as razões de viver e sonhar, como nos ensina o Servo de Deus, Dom Helder, naquilo de mais original, genuíno, espontâneo e profundo, nos seus pensamentos: “Feliz quem tem mil razões para viver”; “Quando os problemas são absurdos, os desafios são apaixonantes”; “Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra”[2].
Vemos muito nítido o espírito de Abraão em Dom Helder: “Partir é, antes e tudo, sair de si”[3], na sua incansável luta pela unidade da Igreja, cognominado como rebelde. O sonho que ele acalentou, ao longo da vida, pela intimidade com Deus e coragem profética foi de colocar a criatura humana em um lugar de destaque, um lugar bem elevado. Marcou contundentemente uma época de sofrimento e falta de liberdade de muitos irmãos, no Brasil e no mundo inteiro, deixando-nos um grande legado e uma grande lição: a lição de que o deserto da nossa vida tem que ser fertilizado[4] pela palavra de Deus, estando a vida acima de tudo e sendo mais forte do que a morte.
Deus passa a sábia lição de que só com muito amor no coração é possível dar continuidade ao projeto do Salvador da humanidade, edificando um mundo verdadeiramente de irmãos, justo e solidário, tendo diante dos olhos, na mente e no coração a grande e maior novidade: um Deus que se encarnou na nossa história. Deus nos dê a esperança do Pai Abraão, no dizer de Dom Helder: “Esperança é crer na aventura do amor, jogar nos homens, pular no escuro, confiando em Deus”. Assim seja!