Dom Aloísio Lorscheider partiu para o Pai em 23 de dezembro de 2007.
Por Geovane Saraiva
Neste tempo precioso que antecede o Natal do Senhor, na alegre e visível esperança da frágil criança na manjedoura de Belém, sem esquecer o coração humano, no desejo de vê-los (os corações humanos) como se fossem manjedouras espalhadas pelo mundo inteiro, é que recordamos aquele que há nove anos partiu para a casa do Pai: Dom Aloísio Lorscheider (23/12/2007). Fonte de inspiração, ternura, solidariedade, paz e justiça, vemo-lo totalmente despojado e abandonado em Deus, confiando-Lhe seu destino. Quem teve a graça de conhecer Dom Aloísio, e com ele conviveu e trabalhou, pôde atestar sua enorme bondade: “Só sua presença já fazia bem”.
Agradecemos ao Senhor por um franciscano que descobriu o verdadeiro rosto de Deus, e nele traçou passos de sua vida, a partir da referida realidade misteriosa, ao afirmar numa linguagem tão poética quanto profética, com enorme encanto de doçura e sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso, que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”. Francisco de Assis o levou, certamente, a encontrar Deus, seu grande tesouro, que com Ele viveu e existiu, e para Ele voltou.
O Advento foi um tempo litúrgico intensamente assimilado por ele, com sua vida voltada à contemplação do mistério da encarnação, ensinando-nos que tal envolvimento no mistério de amor requer de nossa parte uma ascese disciplinada e misericordiosa, para enfrentar as tempestades e os ventos contrários. Acolher como dom a graça da disposição interior para entrar na barca nossa de cada dia, desafiadora travessia da vida, foi que o Cardeal Lorscheider sempre ensinou, dizendo-nos alto e em bom tom com a própria vida, marcada de gentileza, ternura e força profética, que a vida, além de coragem, pede aceitação da revelação da ação divina, vivamente presente nas ações humanas.
Jamais nos esqueçamos da importância do Cardeal Lorscheider na história recente da Igreja, de modo especial pela sua força profética em edificar o Reino de Deus, com sua sensibilidade pastoral, clareza diante dos desafios, sem jamais faltar-lhe a ternura e a esperança do Bom Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo.