O que fazer

Reforma da Previdência: deputados que conduzem a Reforma são muito bem aposentados.

Por Selvino Heck*

Mais uma discussão áspera em casa de mamãe, enquanto circula o chimarrão de mão em mão e rola uma caipirinha, aproveitando o friozinho de um dia de chuva. Quem é o culpado de tudo? O PT? O PT e/ou seus aliados? Só ele ou só eles? Ou todos?

estounodesempregoNo dia anterior, minha irmã falara da disparidade entre os altos salários de alguns aposentados e a grande maioria, especialmente agricultores familiares como ela, que ganha apenas o salário mínimo e tem que continuar trabalhando o resto da vida.

Eu trouxe à baila os valores das aposentadorias dos dois ministros de Estados promotores da Reforma da Previdência. O gaúcho Eliseu Padilha, da Casa Civil, foi aposentado aos 51 anos com R$ 19.389,00 de proventos como ex-deputado federal, mais R$ 30.934,00 como ministro, e “está na base da pirâmide dos aposentados no Palácio do Planalto”, como anota Elio Gaspari em sua coluna no Correio do Povo. Seu colega, Geddel Vieira Lima, da Secretaria Geral da Presidência da República, aposentou-se aos 51 anos com proventos de R$ 20.354,00, também ex-deputado federal, mais os R$ 30.934,00 de ministro. Sem esquecer o presidente ilegítimo Michel Temer, que se aposentou como Procurador inativo do Estado de São Paulo com 55 anos, salário de R$ 30.613,00, mais os R$ 27,841,00 de presidente da República.

Assim é fácil mexer na aposentadoria dos outros, disse minha irmã: “Claro, ganham o salário de aposentados, mais o de presidente e ministro, que nenhum deles é um salário mínimo, quando não têm mais de uma aposentadoria.” Completei: “E estamos aqui falamos apenas dos ganhos deles que saem dos cofres públicos, fora o que ganham por fontes privadas!”

Desencadeou-se o debate. Digo: “Quando fui deputado estadual, depois de uma árdua batalha de quatro anos, conseguimos acabar com a aposentadoria dos deputados. Mas no ano passado, contra o voto do PT, ela foi recriada, com as bênçãos do atual, que era deputado na sua extinção, e que não consegue pagar em dia o salário professores e brigadianos.” E fiz um discurso: “Não é o PT o responsável por tudo. O PT está contra a reforma da previdência que está sendo anunciada.” Estabeleceu-se o debate. Ela, minha irmã: “Mas porque PT quando estava no governo não fez outras reformas?” Eu: “Vai fazer sozinho?” Ela: “Mas porque aliar-se a quem se alia ou se aliou, se eles são contra tudo que o PT prega?” Eu: “Quando Olívio Dutra foi governador, foi discutida, com minha participação direta, uma nova matriz tributária, que taxava de forma diferenciada e progressiva, mas que não foi aprovada porque Olívio não fez as alianças e não tinha maioria na Assembleia. E hoje, porque esta e outras reformas não foram feitas naquele tempo, o governo Sartori está passando o que está passando.” Ela: “Mas o PT fica se aliando com esse pessoal e dá no que dá.” Eu: “Então, espera o que vai acontecer de ruim daqui pra frente com a PEC 241, a do teto pra saúde e educação, e tudo mais que vem por aí com este governo Temer. Aí todo mundo vai ver o que é bom pra tosse.”

Termina a discussão. Desta vez, mamãe Lúcia, de 90 anos, não precisou pedir para interromper a áspera discussão. Felizmente, tinha chegado a hora de almoçar em paz.

O que fazer agora? Em primeiro lugar, estivesse eu no Rio neste mês de outubro, estaria de corpo e alma na campanha do Freixo a prefeito, como, aliás, muito bem decidiu o PT.

Em segundo, fazer reformas, não a previdenciária e as trabalhista que o governo golpista está propondo, mas a tributária, a política, a dos meios de comunicação.

Quem paga imposto neste país? Está em aprovação a Lei da Repatriação. Quem tem dinheiro em bancos do exterior, especialmente em ilhas fiscais? Eu, tu, você? Quem paga de fato imposto neste país? Quem sonega? Eu, tu, você. Que, quando vamos ao supermercado, ou comprar o jornal na banca de revista, não podemos deixar de pagar o ICMS embutido? Quem manda neste país, se não é a grande mídia, que é concentrada e tem poder como em nenhum lugar do mundo?

Em reunião preparatória do FSM América Latina, que vai acontecer de 17 a 21 de janeiro de 2017 em Porto Alegre, o presidente da CUT/RS, Claudir Nespolo, resumiu a luta essencial neste momento da história: resistência, direitos, democracia. (E, evidentemente, fazer as necessárias autocríticas, lutar contra toda forma de corrupção e todas as institucionalizações que perderam seu braço e sentido de movimento.)

Sem desesperar. Escrevi um poema em dezembro de 1989, depois da derrota para Lula: “O SONHO NÃO ACABOU. O dia amanheceu escuro./ Parecia tudo perdido./ Um povo inteiro/ a caminhar solitário/ sobre as pedras./ A Terra Prometida,/ à vista, tão perto,/ de repente/ estava cercada/ e fora do alcance./ Não houve festa./ Fez-se um tempo/ de espera/ e amadurecimento./ Um dia, porém,/ mais forte,/ o povo seguirá/ o brilho da estrela,/ enfrentará os guardas armados,/ romperá os arames/ e, livre,/ ocupará a Terra Prometida.”

*Selvino Heck é deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

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