A morte morte brutal e violenta de João Batista nos faz pensar na nossa missão de batizados, anunciadores de novos tempos, numa mística que deveria ser profundamente marcada de coragem e esperança.
Por Geovane Saraiva*
Jesus nos indica o caminho da verdade e da vida, através dele mesmo, ao se encarnar e entrar no mundo, realizando a vontade do Pai. Daí a importância de olhar para a grandeza do homem que se alimentava de gafanhotos e mel da selva, figura humana e divina que recebeu o maior de todos os elogios do seu Mestre e Senhor, no que Ele afirmou: “Dos nascidos de mulher, ninguém é maior que João Batista” (Mt, 11, 11). É no mistério indizível de Deus que é possível compreender a brutalidade e crueldade do crime, de uma pessoa que morreu ao testemunhar sua fé, ao denunciar mentiras e injustiças, concretamente na figura de João Batista. Sua morte faz-nos lembrar de todas as pessoas que, pela causa do Evangelho, conscientes de suas consequências, numa confiança inabalável, perderam e perdem a vida (cf. Mc 6, 17-29).
O paradoxo do covarde assassinato de João Batista nos convence sempre mais da humildade generosa, da renúncia e da doação, nas palavras do Papa Francisco (28/08/2016): “Deus paga muito mais do que os homens! Ele nos dá um lugar muito mais bonito do que nos dão os homens! O lugar que Deus nos dá está perto de seu coração, e a sua recompensa é a vida eterna”.
Nossa atenção, no dia 29 de agosto, se volta para João Batista, filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, conhecido como o “precursor” de Cristo pela palavra e pela vida (cf. Mc 17, 29). Tendo nascido seis meses antes do Messias de Deus, não exerceu função sacerdotal, a exemplo do seu pai Zacarias, mas foi mostrado ao mundo como pregador, como um homem que desempenhou bem sua função, anunciando um batismo de penitência para o perdão dos pecados. Seu grande trunfo encontrava-se na vinda do Salvador da humanidade. Sua vocação profética, desde o ventre materno, reveste-se de algo extraordinário, repleto de júbilo messiânico, ao preparar o nascimento do Salvador da humanidade.
Um homem foi enviado por Deus, e o seu nome era João. O Evangelho de São João, logo no início, depois do prólogo, trata do batismo realizado por João no Rio Jordão, batizando o autor do batismo, tendo como ponto alto o seu encontro com Jesus, pois, ao vê-lo passar, reconhece-o e expressa deste modo: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1, 29).
É nesse sentido que olhamos com amor e carinho para a figura de João Batista, o maior de todos os profetas, que foi imolado sem alarde e sem julgamento, vítima de maldades e intrigas na Corte Real. Sua morte brutal e violenta nos faz pensar na nossa missão de batizados, anunciadores de novos tempos, numa mística que deveria ser profundamente marcada de coragem e esperança, personificada nos seres humanos, na aspiração e no compromisso com um mundo verdadeiramente de irmãos, numa Igreja com rosto pascal. O batismo de penitência que o acompanhou no anúncio prefigura o batismo segundo o Espírito, no sentido de que as pessoas abracem a fé, transformando-se em criaturas novas.
Para vivermos bem e realizados, é necessário que se faça o seguimento de Jesus de Nazaré, que tem origem no seu projeto de amor para conosco, a partir do exigente anúncio do “precursor”, realizado através da experiência central e decisiva, na obediência ao projeto do Pai em favor da humanidade, no exemplo doloroso supracitado, na acolhida da bela e indispensável missão de testemunhá-lo como luz e acolhê-lo no íntimo do coração. Amém!