Por Selvino Heck
A população está desconfiada com a política. O eleitor desconfia de candidatas e candidatos em qualquer nível. `São todos ladrões`, ouve-se seguidamente. `Ninguém presta. São todos iguais`, é expressão do cotidiano ouvida frequentemente por quem está envolvido na campanha eleitoral. As poucas pesquisas eleitorais divulgadas revelam que deverá aumentar o número de votos brancos e nulos, especialmente para vereador.
Os tempos da redemocratização – anos 1980 – acenderam a chama da política feita com sentido, alma e coração. Surgem movimentos sociais de todos os matizes, o sindicalismo combativo, partidos de esquerda como o Partido dos Trabalhadores, acontece a grande mobilização das Diretas- Já, a Constituinte, greves, ocupações urbanas e rurais, mobilizações por todos os cantos do Brasil, efervescência total depois de anos de ditadura, junto com os primeiros governos populares com participação social e o Orçamento Participativo.
Os ventos neoliberais nos anos 1990 enterraram a política e o fazer político da década anterior. O crescimento do desemprego e da pobreza colocaram no centro da vida das pessoas a sobrevivência diária e o `Estado mínimo e mercado absoluto` dominantes colocaram na defensiva os movimentos populares e as lutas sociais.
O início dos anos 2000 reacenderam a chama. A campanha vitoriosa de Lula, a mobilização do Fome Zero, políticas e programas sociais beneficiando os mais pobres e os trabalhadores trouxeram a esperança e o fazer político envolveu a população.
Os anos 2000 foram passando, a ausência de mudanças estruturais na sociedade brasileira, a corrupção se espalhando por muitos lugares, inclusive em alguns onde antes nunca havia penetrado, a crise econômica e social no mundo, trouxeram de volta o descrédito da política.
E chegamos em 2016. Há o impeachment que é um golpe de uma presidenta legitimamente eleita. Cartazes, protestos por todos os lugares, inclusive nas Olimpíadas, a juventude mostrando a cara, novos movimentos sociais, sinalizando que a chama poderá acender-se de novo.
Estamos num país que, desde os tempos coloniais, nunca teve na política e na ética seu exemplo e prática maiores. Há um longo caminho de recuperação da política e de seu sentido maior. As eleições de 2 de outubro poderão ser e dar um primeiro passo, e contribuir para a politização geral da sociedade. Há espaço para debater um novo modelo de desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural, uma proposta de país, um projeto de Nação. Hora e oportunidade de discutir políticas públicas com participação popular. Enfrentar toda forma de corrupção, debater a ética na política.
Fazer política na rua, no bairro, olho no olho. E fazer do voto um voto consciente, a partir de programas de governos, de debates sobre a conjuntura, de consciência de que a democracia é um valor essencial e de que a história do Brasil foi forjada por lutas, sim, por mobilização social, por conquista de direitos, pela inteligência popular e por intelectuais como Paulo Freire, Florestan Fernandes, Nísia Floresta, Celso Furtado, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Bertha Lutz, e por tantas lutadoras e tantos lutadores do povo.
Na rua e também no voto, é o desafio. Meses de efervescência da cidadania, tempos de construção política da democracia, não há outro caminho, não há outras escolhas para quem tem esperança e acredita num futuro de paz, justiça e igualdade. À luta, pois. Assim sempre foi, assim sempre será.
*Selvino Heck é deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).