Olimpíadas e o cotidiano

A passagem da Tocha Olímpica pelas cidades está colocando os brasileiros no clima dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Por onde ela passa, é acolhida em clima de festa, pois a tocha é símbolo eloquente dos jogos que acontecerão em breve.

Por Rodolfo Luís Weber*

Os jogos olímpicos, por si mesmos, encantam e mobilizam multidões por muitas razões: pela sua beleza, harmonia, sincronia, ritmo, perfeição de movimentos, superação, equipe, coletivo, pela busca da perfeição. Tudo isso é um sinal daquilo que o ser humano é capaz de fazer na área esportiva, além de estimular a imaginação do que mais é possível fazer.

Como sou um admirador do esporte olímpico e não técnico, nem atleta, não tenho condições de falar dos jogos em si. Gostaria de pinçar alguns elementos dos jogos e relacioná-los com o cotidiano das pessoas. Os jogos ajudam a pensar sobre a vida. Lançam uma luz sobre as imperfeições da vida cotidiana que geram sofrimento e tristeza. Nasce a pergunta: a vida não poderia ser melhor?

Olimpiadas-2016O esporte olímpico tem uma linguagem comum. Os atletas não se expressam na língua materna, na sua cultura, nas suas convicções pessoais. Eles se expressam pelas regras de seu esporte que são regras universais permitindo que sua modalidade esportiva seja realizada. As fronteiras, quaisquer que sejam, desaparecem transmitindo a mensagem que somos um só planeta, com raças, com cores diferentes que não se eliminam, mas que necessitam uns dos outros para existirem. Para receber a medalha de ouro o atleta precisa dos outros atletas do mundo. Sozinho, sem relacionar-se com outros, nunca será considerado o melhor do mundo. Os outros atletas não se apresentam como inimigos a serem eliminados. Eles se desafiam e se provocam para verem quem é o melhor. Vejo neste aspecto a necessidade que temos de considerarmos o mundo como uma casa comum. É um apelo para a convivência fraterna e a paz entre os povos. Desafia as autoridades para a eliminação de todo armamento de destruição em massa, de todos os conflitos e tentativas de subjugar povos mais frágeis.

Quando os atletas relatam sua trajetória profissional, normalmente ressaltam as superações. São longos anos de duro treinamento cotidiano, de sacrifícios, que às vezes parecem até desumanos, para superar os limites e assim ingressar num grupo seletíssimo dos atletas da sua modalidade. O esforço hercúleo dos atletas estimula as pessoas a superar os obstáculos da vida pessoal e social que parecem intransponíveis, por exemplo, a violência, a dependência química, a injustiça social onde alguns poucos têm demais e uma multidão tem de menos. Se atletas conseguem tantos progressos, porque a sociedade como um todo não pode melhorar seus índices de qualidade de vida?

Chama-me atenção o rigor das regras de cada modalidade esportiva. Qualquer desrespeito é punido severamente com a desclassificação, perca da medalha, afastamento de futuras competições, às vezes por longo período. Este rigor é justificado para permitir a lisura e impedir que se cometam injustiças. Temos tantas regras básicas de boa convivência. Desde pequenas normas não convencionais, até leis internacionais que objetivam a vida coletiva. A obediência rigorosa às regras da boa convivência e observância das leis mudariam para melhor a convivência humana, diminuiria a corrupção e geraria um clima de confiança nas relações humanas.

Desejamos que o mundo extraordinário das Olimpíadas ilumine o mundo ordinário, cotidiano da vida. “Por ocasião da chegada da Tocha Olímpica a Brasília, dando início à contagem regressiva para as Olimpíadas Rio 2016, faço votos que este eloquente símbolo, que evoca a fraternidade entre os povos, possa inspirar um renovado compromisso de todos pela construção de uma civilização onde reinam a paz e a solidariedade, fundadas no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana. Que Deus abençoe a cada um”. (Papa Francisco)

*Dom Rodolfo Luís Weber é arcebispo de Passo Fundo, RS.

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