Cada um deveria ter suas opiniões, pois o maior risco de não pensar é ser pensado pelos outros.
Por Nei Alberto Pies
Num programa de rádio, de todos os sábados, na minha querida cidade, onde nada parece ser segredo, chamou-me atenção manifestação de um ouvinte que foi lida no ar. Como a mesma divergia da majoritária opinião do apresentador e dos entrevistados, os comentários que seguiram foram de que aquela era uma opinião partidária. Por ser partidária, estava sendo desvalorizada naquele contexto. Fiquei então a pensar sobre qual a diferença das distintas opiniões entre a gente? Quais opiniões tem mais valor? É possível distinguir uma opinião própria de uma opinião partidária? Por que não podemos expressar opiniões convergentes com opiniões de partidos? O que desqualifica uma opinião partidária?
Cada um deveria ter suas opiniões, pois o maior risco de não pensar é ser pensado pelos outros. Ninguém gosta, é verdade, mas nem todos fazem sacrifícios para elaborar opinião sobre determinados temas. Às vezes, as opiniões podem coincidir com as ideias de um determinado partido político. Às vezes, dentro de um partido político, há opiniões bem divergentes. O mais importante é respeitar o exercício de elaboração das opiniões que deve ser feito por cada um de nós para que não corramos riscos de sermos manipulados por ninguém. Fato mais grave é sempre ser sem opinião.
Não acredito em opiniões nada influenciadas pela sociedade, pois todas são envolvidas pelas diferentes ideologias que disputam a mesma (sociedade). Antes, pelo contrário, estamos sempre buscando entendimentos a partir dos diferentes grupos, associações, sindicatos, diferentes mídias. Criamos identidades a partir de nossas concepções progressistas ou conservadoras. Nem sempre somos capazes de construir um entendimento e uma compreensão mais elevada partindo apenas da nossa percepção particular da realidade. E é claro, somos influenciados pelas ideias dos outros, ou por convencimento, ou por acomodação. No coletivo é que aprimoramos as nossas opiniões.
Fico preocupado com o desprezo às opiniões partidárias. Os partidos, por representarem partes (diferentes interesses) da sociedade, sempre são formuladores de teorias e ideologias que alicerçam os projetos de gestão de um município, do estado e da nação. Não há como conceber a construção de um Estado Democrático sem ouvir e respeitar as divergentes opiniões a respeito dos problemas da coletividade. Não há como suprimir ou eliminar determinadas ideias e opiniões de qualquer partido que seja, pois isso depõe contra a democracia.
A imposição de ideias, opiniões e concepções gera o que chamamos de fundamentalismo. No exercício da política, temos de construir convergências a partir das nossas divergências. Quando isto não ocorre, cria-se o que estamos vivendo no Brasil: uma paralisia da política. Esta paralisia na política, sobretudo no Congresso Nacional, tem propiciado a afirmação de novos sujeitos de decisão sobre temas da coletividade: juízes e promotores. O desgaste dos políticos, patrocinado pela grande imprensa e por grupos políticos e religiosos orientados por posições fundamentalistas, está criando um cenário de morte da política e o surgimento de uma nova ditadura, ainda sem nome e sem identidade.
Não vejo problema algum nas opiniões partidárias, desde que democráticas e abertas ao diálogo permanente. Dialogar não significa concordar com os outros, mas significa reconhecer que não existem verdades únicas e exclusivas. Significa sermos capazes de encaminhar decisões que nem sempre contemplam a todos, mas que foram, exaustivamente, frutos de escutas e de acordos. Do contrário, seremos imaturos como as crianças, usando a “birra” como nossa melhor defesa.
Sigo acreditando na política e defendendo a existência de todos os partidos políticos.