Livro A Vida dos Outros discute ética e teologia inspiradas pelo princípio do cuidado com relação aos animais, os 'outros do humano'.
Por Renato Papis
Foi realizada no dia 23 de fevereiro uma sessão de autógrafos e lançamento do livro A vida dos outros – Ética e Teologia da Libertação Animal, editado pelas Paulinas. Com 318 páginas, a publicação apresenta uma nova visão da relação dos seres humanos com os outros seres animais. O volume foi dividido em três partes: princípios de compaixão, de libertação e de cuidado. O evento, que aconteceu no auditório das Paulinas, Livraria da Vila Mariana, contou com a presença dos próprios autores Luiz Carlos Susin e Gilmar Zampieri.
A obra escrita a quatro mãos, situa-nos, no horizonte profético da encíclica do Papa Francisco, Laudato Si'. Os animais são os outros dos humanos, que apelam, a seu modo, para a nossa consciência moral e religiosa. Uma ética e uma teologia inspiradas pelo “princípio-compaixão”, pelo “princípio-libertação” e pelo “princípio cuidado” não podem ficar indiferentes ao sofrimento e morte de nenhuma criatura inocente. Os animais, os “outros do humano”, são criaturas inocentes em permanente sofrimento e morte, esperando compaixão, libertação e cuidado.
O nosso comportamento especista elitista, que rebaixa os outros animais à condição de coisa e propriedade, e o nosso comportamento especista seletivo que ama gatos e cachorros, mas fica indiferente aos sofrimentos e morte de outros animais, precisa ser confrontado com o pensamento ético e teológico crítico. Hoje não é apenas tarefa emergente, tornou-se urgente. Esse é o projeto e a modesta colaboração que este livro procura prestar para uma mudança de paradigma na relação com os animais não humanos.
Ao explicar o conteúdo da obra, Gilmar Zampieri, diz, “A Vida dos Outros não é um livro de fofocas. É um livro sobre amor e afeto para com os animais. Mas é mais que isso. É um livro sobre a vida dos animais pensada não a partir de nossos interesses, mas dos seus. Um livro de ética e religião. Um livro de filosofia e teologia de libertação animal. Um livro para nos tornar mais humanos”, explicou o escritor.
Coube a Luiz Carlos Susin, doutor em teologia, apresentar rapidamente a tradição bíblica e cristã, e a tradição de São Francisco de Assis sobre os animais que a obra nos convida a refletir.
Para a irmã Cátia Cappellari, Paulina, a obra representa uma nova forma de pensar a criação. “Muitas passagens bíblicas nos são apresentadas sob o olhar do cuidado e da compaixão e nunca se levou isso em consideração, nunca tivemos esse olhar. Portanto, ao meu ver, é uma forma também de uma evolução do pensamento humano, a nossa percepção do outro, como trata "A vida dos outros", o nosso olhar se volte para toda a criação, não só o ser humano, mas toda a criação”. A irmã salientou ainda que nesta obra, “somos convocados a ter um olhar criador, ou melhor, recriador, diante de toda humanidade e dos animais”.
A vegana e ativista pelos direitos dos animais, Evely Reyes Prado, elogiou os autores da obra e conta ter se encantado com o livro. “No momento em que fiquei sabendo da publicação deste livro, confesso que fiquei encantada, porque não vê esse tipo de literatura na Igreja, a Igreja não fala sobre o assunto”.
Ela também aproveitou a oportunidade para dizer o que espera do Papa Francisco em defesa dos direitos animais. “A escolha do Papa pelo nome Francisco nos remete imediatamente ao santo de Assis, exemplo por excelência do cuidado de todas as criaturas, da proteção animal e da preservação da natureza e do meio ambiente, por isso, espero que o papa posicione claramente em defesa dos direitos animais”.