O povo sofrido da Amazônia e a atuação da Igreja

As decisões sobre o desenvolvimento da Amazônia sempre são tomadas a partir de fora e visam única e exclusivamente a exploração das riquezas naturais sem levar em conta as legítimas aspirações dos povos desta região a uma verdadeira justiça social.

Por Leonardo Loures Valle*

Recentemente completei um ano de missão nesse chão, e ainda me assusto ao perceber que para muitos a vida na Amazônia continua sofrida. Há séculos os povos da Amazônia gemem e choram sob o peso de um modelo de desenvolvimento que os oprime e exclui do “banquete da vida, para o qual todos os homens e mulheres são igualmente convidados por Deus”. A Igreja ouve os gritos, às vezes desesperados, e se identifica com o seu clamor, conhece o seu sofrimento. Mais ainda, a Igreja declara que as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias dos discípulos de Cristo.

amazoniaartigoInfelizmente as decisões sobre o desenvolvimento da Amazônia sempre são tomadas a partir de fora e visam única e exclusivamente a exploração das riquezas naturais sem levar em conta as legítimas aspirações dos povos desta região a uma verdadeira justiça social. É triste perceber que a Amazônia continua sendo considerada a “colônia“, mesmo que abranja mais da metade do território nacional. Para a metrópole – Brasília, o sudeste e o sul do País – Amazônia é apenas “província“, primeiro província madeireira e mineradora, depois a última fronteira agrícola no intuito de expandir o agronegócio até os confins deste delicado e complexo ecossistema, único em todo o planeta. De uns anos para cá a “província“ recebeu mais um rótulo, sem dúvida o mais desastroso, pois implicará a sua destruição programada, haja visto o número de hidrelétricas projetadas para os próximos anos: a Amazônia é declarada a província “energética“ do País. Sob a alegação de gerar energia limpa se esconde a verdade de que mais florestas sucumbirão, mais áreas, inclusive urbanas, serão inundadas, milhares de famílias serão expulsas de suas terras ancestrais, mais aldeias indígenas diretamente afetadas, mais lagos artificiais, podres e mortos, produzirão gases letais e se tornarão viveiro propício para todo tipo de pragas e geradores de doenças endêmicas.

Por outro lado, muito me alegro em perceber que nossa Igreja tem anunciado Jesus Cristo ressuscitado, caminho, verdade e vida e tem marcado presença junto ao povo sofrido, sendo muitas vezes a voz dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, nas periferias e em novos ambientes do centros urbanos animando as comunidades na reivindicação do respeito pela sua história e religiosidade. Nossa Paróquia tem procurado ir ao encontro desse povo sofredor, através de nossa equipe missionária, de nossas pastorais, movimentos e serviços que tem sido uma força viva e atuante na realidade das nossas comunidades. Na foto em questão temos a dor de uma mãe recordando de sua luta pela sobrevivência de sua filha ao nascer, e ao mesmo tempo, um choro de gratidão pela assistência da Pastoral da Criança, na qual conseguiu vencer a desnutrição, e hoje a criança está saudável.

Louvamos a Deus a vida de tantas pessoas que dedicam sua vida na luta por esse povo sofredor, de maneira especial, louvamos a Deus a atuação da minha Arquidiocese de Juiz de Fora, que conseguiu ultrapassar os limites geográficos da própria Arquidiocese para atender aos apelos desses irmãos e irmãs que tanto necessitam da presença da Igreja junto deles. Nos alegramos em perceber que nossa Igreja de Juiz de Fora, ciente do seu dever, está atendendo ao apelo da Igreja da Amazônia.

No meio de tanto sofrimento, temos que ter clareza que: “Podem roubar-nos tudo, menos a esperança” (D. Pedro Casaldáliga). Sendo assim temos que nos lançar nas estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das cidades desta imensa Amazônia, abraçando a Missão que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia. Nesta hora da história o nosso coração às vezes, se angustia por causa de tantas dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis; no entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança, como âncora firme e segura (cf Hb 6,19), de um mundo novo, inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado.

*Leonardo Loures Valle é padre da Arquidiocese de Juiz de Fora\MG, pároco da Paróquia São Martinho de Lima Óbidos\PA.

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