Inculturação como ferramenta para a Missão

Mergulhar na cultura do outro é despojar-se de si mesmo e viver em plenitude o Evangelho.

Por Redação
Foto: Jaime C. Patias

A inculturação é uma ferramenta básica e indispensável para a Missão. Consiste em um longo processo de aproximação entre as culturas, em suas mais variadas formas de vida, costumes, crenças, práticas religiosas, idiomas e culinária. Por meio da inculturação fazemos compreensível e visível o Evangelho para os povos onde somos enviados.

A dificuldade de todo esse processo está no fato de chegar à outra cultura carregados com nossa história, nosso mundo, nossa forma de ver as coisas e encontrar outro mundo com toda sua complexidade e sistema de vida, com aspectos tão variados e complicados como a economia, a política e as inevitáveis ideologias.

Interpretando minha experiência como queniano na Venezuela, depois de oito anos de vida e trabalho no país, posso dizer que a inculturação exige, como primeiro passo, um grande esforço para conhecer em profundidade a cultura do outro. A inserção é o meio privilegiado para chegar a adquirir este conhecimento básico para a evangelização. É preciso inserir-se como hóspede, fazendo-se um entre tantos, irmão com o outro. A humildade e a proximidade ao povo são necessárias para aprender a sua língua e conhecer seus costumes, suas problemáticas, sua maneira de entender a realidade histórica e social. Para avançar nesse caminho sem provocar um “choque” cultural é preciso paciência para com você mesmo, boa vontade, ética missionária e disciplina; mas, sobretudo, muito amor ao povo, às pessoas.

Despojamento

É muito importante despojar-se dos prejuízos e dos preconceitos. Na minha terra existe um provérbio que diz: “ninguém cozinha melhor que minha mãe”. Se quisermos entrar no espaço dos outros (povos e culturas), nós temos que romper esses esquemas para aprender a partilhar, inclusive a cozinha dos povos a quem somos enviados. Isso custa e causa dor, mas, é também muito enriquecedor. O missionário torna-se um pouco como uma criança e vai aprendendo com os próprios erros. Por exemplo: na aprendizagem da língua, as pessoas, quando se sentem livres e não são atemorizadas pela autoridade do missionário, corrigem com alegria os erros que fazemos, tornando-se uma grande ajuda para tudo.

A inculturação não se realiza em poucos dias; leva tempo e depende também da metodologia, dos avanços e dos limites do próprio missionário, das condições históricas e sociais. Não chegaremos nunca a uma inculturação total e completa, porque cada um de nós leva sempre consigo sua herança cultural, a qual não se pode deixar de lado. Simplesmente, trata-se de avançar cada dia um pouco mais para nos aproximarmos, de forma metódica das pessoas e das culturas às quais somos enviados. Não importa o esforço que eu faça, como queniano, nunca chegarei a ser um afro-venezuelano. Minha história pessoal está marcada pela minha cultura e meu passado. A força do evangelizador está também na alteridade e na diferença. Pois o Evangelho não se assemelha a nenhuma cultura e chama todas à conversão.

Esta é a tarefa da evangelização. Para isso, à luz da fé cristã e utilizando os valores culturais do povo, o missionário saberá anunciar o projeto de Jesus como “Boa Notícia” relevante para o povo e sua cultura. Em tudo, nós temos que confiar sempre no amor e na força do Espírito Santo (o protagonista da Missão) e na companhia de Jesus Cristo que caminha na história da humanidade, inculturado como o primeiro missionário do Pai.

(CC BY 3.0 BR)

Deixe uma resposta

um + treze =