Por causa da guerra, existem zonas nas quais não é possível que estas importantes cerimônias se realizem oficialmente
Por Rádio Vaticano
Foto: Tony Karumba / AFP
Durante o Angelus, o Papa Francisco recordou que no domingo, 13, abriam-se as Portas Santas em todas as Dioceses do mundo para que o Jubileu “possa ser vivido plenamente em todas as Igrejas particulares”: “Desejo que este momento forte estimule a muitos a serem instrumentos da ternura de Deus. Como expressão das obras de misericórdia, serão abertas também as “Portas da Misericórdia” nos locais em dificuldades e marginalização”, disse. No entanto, em muitas realidade, as cerimônias Jubilares e as aberturas de Portas Santas não podem ser realizadas. Um destes locais é a Diocese de Malakal, capital do distrito de Upper Nile, no Sudão do Sul.
De fato, o jovem país africano é sacudido desde dezembro de 2013 por um sangrento conflito civil, com contínuos combates entre as tropas governamentais do Presidente Salva Kiir e os rebeldes do ex Vice-Presidente Riek Machar. Conversamos com a missionária comboniana Irmã Elena Balatti, que após 20 anos, foi obrigada a abandonar a região devido às violências e transferir-se para Renk, no norte do país:
“Por causa da guerra, existem zonas nas quais não é possível que estas importantes cerimônias se realizem oficialmente. A Diocese de Malakal, cujo território foi totalmente envolvido na guerra civil, não tem a possibilidade de abrir uma Porta Santa porque a sede da Diocese na cidade, que é capital de Upper Nile, ainda não foi reaberta. A Paróquia da Catedral foi aberta e fechada diversas vezes durante a guerra civil e atualmente está ainda fechada pela falta de estabilidade no território. Somente na última semana, a 20 km de Malakal, houve um combate entre as forças rebeldes e as forças governamentais. E tudo isto acontece não obstante o tratado de paz assinado em agosto passado entre a oposição armada de Riek Machar e o governo do Presidente Salva Kiir. Mas combates esporádicos continuam e não permitem que fieis, que mesmo tendo o desejo, iniciem pacificamente o Ano Santo”.
Como viver o sentido deste Jubileu da Misericórdia em um território ainda sacudido pelas violências?
“Desde quando foi anunciado o Jubileu, a pregação, a catequese, os retiros espirituais, as iniciativas pastorais são direcionadas muito para o tema da reconciliação. O conceito fundamental que é sublinhando é o quanto a guerra é fruto da violência, o quanto, portanto, existe a necessidade do perdão de Deus, da misericórdia por parte de Deus. E ao mesmo tempo, para que esta situação seja mudada, existe a necessidade de misericórdia do homem para o homem, do irmão pelo irmão, da irmã pela irmã. Existe a necessidade de entrar nesta ótica de sincera busca da reconciliação, o que é muito difícil em um contexto de guerra. Esta é a linha pastoral da Igreja em todo o Sudão do Sul. Os jovens, por exemplo, na Paróquia de Cristo Rei em Renk, onde me encontro, escolheram como lema para o Ano da Misericórdia: “Tenham misericórdia, assim como vos é usada a misericórdia”. Escolheram este lema para sublinhar quer a intervenção divina misericordiosa, quer a necessidade de se fazer esforços: ninguém pode resolver o problema da guerra no Sudão do Sul senão os sul sudaneses. A oração que todos fazemos é que volte a existir uma relativa estabilidade e que todos possamos aproximarmo-nos da misericórdia divina pacificamente. Porque nas áreas onde a tensão permanece alta não é ainda possível que existam encontros, como preveem as cerimônias litúrgicas; não é possível realizar reuniões de fieis pois é muito perigoso”.
Precisamente esta situação de extrema insegurança no Sudão do Sul, como interpreta a vontade do Papa de um Jubileu da Misericórdia que seja celebrado nas Igrejas particulares?
“Em uma população que foi atormentada pela violência de todos os tipis e por tantos anos de guerra, a chegada da paz seria, sem dúvida, interpretada como um sinal da misericórdia que Deus tem pelo seu povo. O que é uma prioridade é o diálogo entre as tribos do Sudão do Sul, que tem pertenças religiosas diferentes, de diferentes denominações cristãs, de religiões africanas tradicionais, e também muçulmanas. Porém, o que divide os sudaneses do sul nesta guerra não é a religião, mas as diferenças culturais e sobretudo as ambições de poder de alguns políticos que exploram as diferenças étnicas. Neste contexto de conflito, a mensagem da misericórdia permanece central: conseguir ver o outro como um outro ser humano a quem deve ser usada de misericórdia e, ao mesmo tempo, cada um deve conseguir enxergar a si mesmo como pessoa necessitada de misericórdia e de perdão, quer por parte de Deus como por parte dos outros”.