Natal, encontro ou desencontro?

Natal é sinônimo de encontro, aproximação. Exige renúncia e perdão, ternura e misericórdia. No fim da linha descortina esperança e paz.

Por Alfredo J. Gonçalves*

Natal é sinônimo de encontro, aproximação. Todo nascimento, aliás, tende a reunir os familiares, amigos e conhecidos mais próximos. No caso do nascimento de Jesus, essa tendência se amplia, como se os contornos da família “alargassem o espaço da própria tenda”, para usar a expressão do profeta (Is 54,2). Daí as mais distintas formas de encontro: de parentesco, de colegas de trabalho, de associação, de entidades organizativas, de vizinhança... A própria novena de Natal pressupõe tal disposição ao encontro ou reencontro.

presepionatalEncontro, reencontro e desencontro, porém, são faces diversas, e ao mesmo tempo complementares, da mesma moeda. Durante o período natalício, muitos encontros o são apenas na aparência. Para além das visitas, dos sorrisos, dos abraços, da troca de presentes, das refeições especiais e do clima de confraternização, esconde-se não raro boa dose de hipocrisia. As pessoas procuram envernizar o exterior de seus relacionamentos para dissimular atritos e intrigas que se desenrolam, digamos assim, nos becos ocultos e obscuros das relações humanas.

Justamente aqui reside o grande desafio do espírito natalino. Não o de camuflar, sob um véu ou máscara enganosa, nossas falhas e fraquezas, incongruências e contradições. Mas o de enfrentá-las, dialogar sobre elas, buscando uma via recíproca de reconciliação e de superação dos conflitos e discórdias. Não é uma tarefa fácil e espontânea, que ser dada por descontada, e sim um sério compromisso a ser assumido com coragem, energia e perseverança. O confronto franco, límpido e aberto, em lugar de paliativos, produz soluções definitivas.

Por isso, não basta varrer a sala e jogar o lixo para debaixo do tapete, criando um cenário artificial para receber a eventual visita de um amigo ou parente. Tampouco bastam o brilho das luzes, a atração das lojas e vitrines com mercadorias inéditas, a euforia das multidões que povoam os centros comerciais ou os apelos do propaganda e do sempre sorridente Papai Noel. E menos ainda a compra desenfreada de produtos da última moda, que estão na crista da onda. No fundo, objetos supérfluos e superficiais, como o demonstra o termo “onda”. Como tal, tendem a uma oscilação constante, subindo e descendo de acordo com a maré. Pior é que, em não poucos casos, convertem-se em bijuterias descartáveis, antes mesmo de chegarem em casa e serem desembaladas. Como uma espécie de “luxo do lixo”, estão condenadas a jamais serem utilizadas, servindo apenas para abarrotar gavetas e armários esquecidos pelos cantos da casa.

Trata-se, em poucas palavras, de passar do desencontro ao verdadeiro encontro. O desencontro, próprio da vida febril, frenética e agitada das grandes cidades, conduz à dispersão. Cada indivíduo se converte em uma espécie de átomo, fecha-se em si mesmo, girando na órbita exclusiva de seus desejos e instintos, necessidades ou interesses. Curva-se sobre o próprio umbigo. A exemplo do caramujo, faz de sua casa um gueto isolado e impenetrável. Com tudo e todos, recusa e rechaça de antemão qualquer tipo de comunicação.

O encontro é o caminho inverso. Leva a abrir o coração e a porta, acolher o outro, da mesma forma que a atmosfera natalícia predispõe a acolher “o verbo que se faz carne e vem habitar entre nós” (Jo 1, 14).

Significa um percurso mais longo e trabalhoso, sem dúvida. Exige compreensão, capacidade de escuta, renúncia, perdão, ternura... Tudo temperado com o ingrediente da misericórdia, para não esquecer o Jubileu do Ano Santo, proclamado pelo Papa Francisco. No fim da linha, entretanto, descortina grande possibilidade de esperança, luz e paz!

*Alfredo J. Gonçalves, CS, é Conselheiro e Vigário Geral dos Missionários de São Carlos.

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