É inegável a atual crise e instabilidade política e econômica no país. Poderia ser esse um momento de, positivamente, dar mostras ao povo brasileiro e ao mundo de que existem saídas sim e elas emergem de projetos que vêm do povo, das raízes plurais, das populações tradicionais, dos povos indígenas originários, dos explorados do campo e da cidade. Populações a quem o governo continua dando as costas, enquanto permanece refém das elites dominadoras desse país.
Por Redação
Um clima de forte insegurança e medo entre organizadores dos "I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas" e, em especial, os representantes dos governos brasileiro, do estado de Tocantins e do município de Palmas temem por qualquer coisa que possa acontecer fora do script. Tem-se a impressão de que o evento acontecerá em um espaço sitiado, fortemente vigiado. Quais seriam as razões de tamanhos temores?
É inegável a atual crise e instabilidade política e econômica no país. Poderia ser esse um momento de, positivamente, dar mostras ao povo brasileiro e ao mundo de que existem saídas sim e elas emergem de projetos que vêm do povo, das raízes plurais, das populações tradicionais, dos povos indígenas originários, dos explorados do campo e da cidade. Populações a quem o governo continua dando as costas, enquanto permanece refém das elites dominadoras desse país.
Fila dos indignados
Na terça-feira, dia 20, desta semana continuaram os credenciamentos, em meio a muita reclamação e confusão. Os indígenas Pataxó do extremo sul da Bahia, por exemplo, vieram em dois ônibus: um para participar dos jogos e outro para a feira de artesanato. No entanto, estes últimos foram impedidos de se cadastrar e entrar para a feira de artesanato indígena. Houve diversas cenas de protesto e revolta por essas atitudes que os Pataxó consideraram absurdas, pois vieram até aqui na promessa de que poderiam participar da feira.
Diante da desorganização e das longas filas para o credenciamento, indígenas entraram em contato com jornalistas de um conhecido canal de tv para denunciar a situação. Mas estes alegaram que não poderiam registrar o fato, pois tinham determinações para não divulgar nada que pudesse comprometer a imagem positiva dos jogos.
A propalada confraternização dos povos por enquanto está restrita entre grades. Um forte esquema de segurança está montado para impedir indígenas e outras pessoas de terem acesso às delegações indígenas hospedadas nas ocas. No final do dia, uma indígena Avá Canoeiro divulgou mensagem mostrando sua decepção por não poder se encontrar com parentes de outros povos e outros países... Do outro lado da cerca, apenas conseguiu uma foto com um Pareci.
Monumento à insanidade
Já as árvores com raízes para o ar parecem simbolizar os desejos e as aspirações do agronegócio. É uma afronta aos povos indígenas e suas raízes, que resistirão aos projetos de morte.
Participação cai quase pela metade
Conforme o Comitê Organizador dos Jogos, participarão 26 povos dos 46 anunciados: “Muitos não conseguiram patrocínio para vir, mas não houve prejuízo, esperávamos isso mesmo” (Conexão Tocantins, 19 de outubro).
É evidente que uma redução tão drástica de delegações e povos participantes não é normal. É o sintoma da forma centralizada com que foi conduzido o processo, sem uma participação efetiva dos povos indígenas e suas organizações.