Por Rádio Vaticano
Seguem as operações de socorro no Mediterrâneo para salvar os imigrantes que partiram do norte da África. Esse trecho de mar acabou se transformando no mais perigoso do mundo. Na manhã desta segunda-feira (17), mais de 350 pessoas a bordo de uma embarcação em dificuldades, na Calábria, foram salvas graças à uma intervenção particularmente complexa pelas condições do mar. Em Catânia, chegou mais um navio norueguês com os corpos de 49 imigrantes e outros 300 sobreviventes. Nos últimos 8 meses, as vítimas ultrapassam a triste cifra de 2.300.
Ao encontrar um grupo de imigrantes no Seminário de Gênova, o presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Angelo Bagnasco, se questionou "se esses organismos internacionais como a ONU, em modo especial, que reúne o poder político mas também o poder econômico, têm enfrentado de modo sério e decisivo essa tragédia humana".
A Europa, para quem foge da guerra e da pobreza, é uma miragem, uma fortaleza, mas, sobretudo, uma possibilidade. A única esperança para quem, mesmo com riscos e incertezas, procura a salvação ao subir num barco no norte da África.
Perante tanto desespero, a Igreja está na linha de frente para oferecer assistência e acolhida. Uma experiência longa e cotidiana da qual nascem também propostas para a gestão dos fluxos dos imigrantes. Sobre essa situação, a Rádio Vaticano entrevistou o Monsenhor Giancarlo Perego, diretor da Fundação Migrantes, organismo pastoral da Conferência Episcopal Italiana.
Mons. Giancarlo Perego - " Certamente, hoje precisamos fazer um salto para frente na acolhida de quem pede asilo, não somente na Itália, mas também no contexto europeu. Na Itália, a gente vê um plano entre governo, regiões e prefeituras que foi descontínuo, nada homogêneo. Teve muitos improvisos e muita liberdade. Então, é importante partir desse plano porque, antes de tudo, todas as prefeituras devem estar interessadas em acolher. Uma segunda ação é certamente aquela de um crescimento de comissões territoriais que possam examinar os pedidos de proteção internacional, porque, hoje, os tempos são muito longos: vai de um ano até dois anos! Uma terça ação é um empenho no contexto europeu que seja um empenho de superar o Tratado de Dublin em modo tal que a livre circulação dos refugiados seja um elemento central no contexto da nova proposta de asilo europeu."
Rádio Vaticano - Um contexto no qual a sinergia entre vários sujeitos acaba sendo determinante...
GP - "A ação conjunta de todos os sujeitos - eclesiásticos, sociais, de voluntariado - poderia direcionar a Itália, com os recursos que o governo e também a Europa colocaram em campo, à uma prova importante para a tutela do asilo. É preciso continuar nessa direção, evitando que a ideologia e a exploração de situações graves que estão acontecendo no plano político, possam desvirtuar numa incapacidade, então, de enfrentar um tema importante que é a proteção do direito de asilo."
RV - Então, é preciso se concentrar nas ações, nas soluções...
GP - "Sem polêmicas estéreis, mas olhando, colocando no centro esse grande fenômeno de fluxos de migrantes e de pessoas que estão chegando e que estão em uma situação gravíssima de necessidade, que pedem uma chance de humanidade e de responsabilidade, não somente da Itália, mas também da Europa, e de uma responsabilidade dilatada: do cidadão ao governo e ao governo europeu. Uma responsabilidade que deve também vislumbrar além, pensando inclusive de fazer com que, junto à proteção ao direito de asilo e ao direito de migrar, exista também a proteção do direito de ficar na própria terra. Então, é claro que hoje também serve uma grande ação diplomática internacional, para que se possa reativar uma segurança nos países de onde provêm muitos dos imigrantes e exista também uma grande ação de cooperação internacional. Já falamos várias vezes de um ‘Plano Marshall' para a África que possa efetivamente dar os instrumentos necessários a esses países, para um desenvolvimento que é uma das categorias importantes sobre as quais a Igreja trabalha desde sempre, de quando Paulo VI lembrou que, sem o desenvolvimento, a raiva dos povos retornaria contra nós. E esse fenômeno dos migrantes é um pouco o fruto dessa raiva de quem se vê traído num caminho que, ao contrário, deveria ser visto pelos povos mais ricos ao lado dos povos mais pobres."