A riqueza do presente

Dadeus Grings *

Cada idade - infância, juventude, maturidade e velhice - tem seus valores. Também cada época apresenta suas conquistas. É óbvio que cada uma deve ser considerada no seu contexto. Neste sentido o presente - tanto da idade de cada um como da época em que vive - é o tempo melhor. Na verdade é o único real. O passado já foi e o futuro ainda não chegou. É, pois, preciso viver o presente com paixão e realismo. Vivê-lo é estar atualizado, o que equivale a sentir-se e estar realizado. S. Paulo o exprime pela palavra kairós. É o tempo da graça e da plenitude. Resulta da conquista do passado e dos projetos para o futuro.

Como o futuro ainda é uma incógnita, que mal vislumbramos nos sinais dos tempos, é preciso esmerar-se no conhecimento do passado para entender e apreciar adequadamente o presente. Já temos uma longa história: individual pelos anos vividos, que nos fizeram chegar à terceira idade e pelos séculos de civilização. que nos proporcionaram as conquistas da atualidade.

Ao adentrar o passado, tanto pessoal como histórico, não só conheço melhor o presente, como também dou-lhe maior valor e tributo-lhe mais apreço. Hoje, indubitavelmente, se vive melhor e com muito mais facilidade que no passado. As conquistas transformaram substancialmente as condições de vida.

Na superfície vemos os avanços técnicos, que afetam nossa qualidade de vida. Pensemos na energia elétrica; elenquemos os meios de transporte e de comunicação; registremos os recursos da medicina para uma saúde melhor e uma vida mais prolongada; destaquemos a arte culinária, com as comidas e bebidas cada vez mais sofisticadas; adentremos os conhecimentos que se ministram, de modo cada vez mais aprimorado e amplo, nos três níveis: fundamental, médio e superior; pensemos nas facilidades do trabalho humano nos quatro setores: primário, da extração; secundário, da transformação; terciário, da movimentação; e quaternário, dos serviços, avançando para o quinquenário que retrata a vida em si O sonho humano é de ter casa de alemão, comida de italiano e vida de brasileiro... É a perfeição!

Quanto mais estudo o passado e penetro nos meandros da História da humanidade, mais me empolgo com o presente. Não que seja um simples somatório de conquistas, ou o repositório de tudo o que aconteceu de bom ao longo dos tempos. A História, tanto pessoal como da humanidade inteira, registra altos e baixos. Avança através de saltos, que recebem o nome de dialéticos: da tese pela antítese à síntese. Há convulsões sociais e revoltas históricas, que fizeram sofrer muito. Momentos de crise, bem como apogeus. Não podemos traçar uma linha ascendente na Historia. Não nos é consentido fazer passar a medida dos avanços pelo diapasão das crises, para dizer que tudo é crise; nem pelo otimismo dos apogeus, para assegurar que a humanidade navega num mar de rosas.

* Dom Dadeus Grings é arcebispo emérito de Porto Alegre, RS.

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