Suspeita de desvio de dinheiro no Haiti, Cruz Vermelha estadunidense nega acusações

Por Cristina Fontenele

A Cruz Vermelha dos Estados Unidos é acusada de desviar US$ 500 milhões arrecadados para a construção de casas no Haiti, após o terremoto que assolou o país em 12 de janeiro de 2010, matando cerca de 300 mil pessoas, ferindo 350 mil e deixando mais de 2 milhões de pessoas sem moradia. De acordo com investigação da ProPublica e NPR, agências de jornalismo investigativo, a Cruz Vermelha teria construído apenas seis casas, quando diz ter proporcionado moradia a mais de 130 mil pessoas.

De acordo com David Meltzer, chefe de Operações Internacionais da Cruz Vermelha, as seis casas construídas foram parte de um projeto-piloto, em Porto Príncipe.

Sobre as acusações, a Cruz Vermelha se posiciona dizendo que está "decepcionada", mais uma vez, pela falta de equilíbrio, contexto e precisão no relato mais recente concedido à ProPublica / NPR, que segue o padrão de todas as suas histórias anteriores sobre a Cruz Vermelha. "É particularmente decepcionante ver o nosso trabalho deturpado, considerando que respondemos mais de 100 perguntas por escrito e fornecemos uma entrevista com o chefe dos nossos programas internacionais", diz o comunicado no site da instituição.

Segundo David Meltzer, chefe de Operações Internacionais da Cruz Vermelha, a entidade enfrentou escolhas difíceis sobre onde melhor gastar o dinheiro, da forma mais rápida e eficaz possível. As seis casas construídas teriam sido parte de um projeto-piloto, em Porto Príncipe. No fim de 2011, a entidade propôs um projeto multimilionário denominado Lamika (sigla que, em crioulo haitiano, que dizer "Uma vida melhor no meu bairro"), para a construção de casas permanentes.

Foram desenvolvidos planos para três comunidades diferentes, das quais duas estavam fora de Porto Príncipe; então, as habitações, muitas vezes, permaneceram desocupadas porque as pessoas preferiram voltar para o bairro em que viviam antes do terremoto e ficar próximas de seus empregos, escolas e da família. Para a Cruz Vermelha, as soluções tomadas, no entanto, teriam ajudado mais pessoas do que os novos esforços de construção.

De acordo com a instituição, quando não havia terra para novas casas, foram providenciadas outras soluções de alojamento, como subsídios para aluguel, reparos e reabilitação de estruturas existentes, cumprindo assim a "promessa de garantir a dezenas de milhares de haitianos o retorno às casas". A Cruz Vermelha diz também que escolas foram construídas e reparadas, assim como estradas e pontos vitais para distribuição de água nos bairros.

O posicionamento da entidade é que os fundos ajudaram a construir e operar oito hospitais e clínicas, conter um surto de cólera mortal, fornecer água potável e saneamento e mover mais de 100.000 pessoas das barracas improvisadas para uma habitação melhor e mais segura. A entidade informa que forneceu abrigo de emergência por meio de 860 mil lonas para pessoas cujas casas foram danificadas ou destruídas.

Em documento, Gail J.McGovern, CEO da Cruz Vermelha estadunidense desde 2008, diz que a entidade recebeu US$ 488 milhões em doações, devido ao terremoto no Haiti, e gastou 100% dos fundos, ajudando mais de 4,5 milhões de pessoas e contribuindo para a "recuperação duradoura" do país. A distribuição das doações teria sido feita desta forma: 14% (US$ 66 milhões) para aliviar as emergências, 35% (US$ 173 milhões) em abrigos, 10% (US$ 47 milhões) em água e saneamento, 15% em saúde (US$ 73 milhões), excluindo o cólera, 11% (US$ 56 milhões) em prevenção de desastres, 10% (US$ 48 milhões) em manutenção da sobrevivência e 5% (US$ 25 milhões) na prevenção do cólera.

De acordo com a CEO, foram gastos US$ 10 milhões na reconstrução do Hospital Saint Michel, em Jacmel, sudeste do Haiti; destinados US$ 5,5 milhões para a construção do Hospital Universitário em Mirebalais, em 2013; reparadas 15 mil casas e subsidiado o aluguel para mais de 27 mil pessoas; empregados US$ 48 milhões em formação profissional, doações em dinheiro e programas de subsistência no Haiti.

Não é a primeira vez que a Cruz Vermelha dos EUA se vê envolvida em escândalos financeiros. No atentado de 11 de setembro de 2001, a entidade arrecadou mais de US$ 564 milhões para o Liberty Fund, criado em resposta aos ataques contra o World Trade Center e o Pentágono. No entanto, foi acusada de ter distribuído apenas US$ 154 milhões. Também foi acusada por desvio de fundos arrecadados para a recuperação dos danos causados pelo furacão Katrina, que atingiu a região litorânea do sul dos Estados Unidos, especialmente em torno de Nova Orleans, em 29 de agosto de 2005, quando mais de 1 milhão de pessoas foram evacuadas. Na ocasião, 14 empregados da Cruz Vermelha foram acusados do desvio de US$ 200 mil.

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