Nei Alberto Pies *
Durante a última semana do mês de junho deste ano encontrei-me com mãe que relatou sofrimento e culpa por filho homossexual numa sociedade hipócrita, machista, alienante e conservadora. Disse-me que os homossexuais são humanos e tem mães. Me revelava compreensão, amorosidade e entendimento sobre a situação, mas revelava também culpas que não tem razão de ser e nem se sustentam. Estas culpas não são suas, são tentáculos que a sociedade tenta impor com a intenção de que somos todos enquadráveis.
Numa semana anterior, conversei com pastor cristão, crente de que orientações para a liberdade e o respeito à sexualidade de cada um não devem ser papel da escola; só da família. Ele dizia que, ao tratar sobre questões de sexualidade e gênero, seu filho, fatalmente, estaria sendo induzido a fazer escolhas de sua sexualidade. Dizia ainda que os gays e homossexuais estão querendo impor suas pautas e dominar o mundo. Que são minoria, portanto, tem de ser combatidos. Concluiu que todos existem para ser homem ou mulher.
Em tempos de tantos neoconservadorismos, achei sensata e inteligente a afirmação do Papa Francisco ao ser interrogado sobre questões de homossexualidade e poder dos mesmos. O Papa, em entrevista recente, disse: "é preciso separar o lobby dos gays pois nenhum lobby é bom. Agora se um gay procura Jesus, quem sou eu para julgá-lo". Foi uma resposta interessante, embora a ressalva de tratar de elementos específicos de uma questão muito mais complexa.
Outro dia, em palestra, ouvi que os homossexuais, gays e lésbicas hoje incomodam porque são muitos e porque estão a exigir seus direitos. O que achei absolutamente pertinente e razoável face aos novos contornos da atualidade.
Concluo, sem pretensão de ser conclusivo: todos somos humanos, sujeitos de direitos, de dignidade e de liberdade. Ao invés de discriminar, deveríamos praticar a compreensão, o amor, o acolhimento e o respeito às diferentes necessidades e diversidades humanas. Deveríamos permitir a todos os seres humanos os diferentes conhecimentos, percepções e contornos que a vida se encarrega de realizar, preferencialmente na escola e em espaços públicos. O problema é quando justificamos tudo por nossos pensamentos religiosos fundamentalistas, empobrecendo sempre o ser humano na sua dimensão integral e humanizadora!
Cada ser humano deve poder afirmar-se como sujeito: único e diferente. Por ser assim, deve merecer nossa reverência, embora não sejamos, não pensemos e nem ajamos como ele! Ao mesmo tempo que únicos, somos dependentes e interdependentes em relação aos demais, por isso que jamais podemos ser combatidos, aniquilados ou suprimidos. Nos fazemos humanidade na complementariedade.
* Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.